INTERNACIONAL

INICIATIVAS EM FAVOR DOS POBRES

O que diz a Doutrina Social da Igreja?

Por Fernando Geronazzo
01 de abril de 2020

tem como base a dignidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus
 

Vatican Media

Para entender a questão da superação da pobreza na perspectiva cristã, é preciso levar em conta alguns princípios do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (DSI), que tem como base a dignidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus.  

BEM COMUM

164. Entende-se: o conjunto de condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um dos seus membros atingir mais plena e facilmente a própria perfeição.  
165. Uma sociedade que, em todos os níveis, quer intencionalmente estar a serviço do ser humano é a que se propõe como meta prioritária o bem comum, como bem de todos os homens e do homem todo. A pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros. 
167. Soa ainda atual o ensinamento de Pio XI: “Deve procurar-se que a repartição dos bens criados, a qual não há quem não reconheça ser hoje causa de gravíssimos inconvenientes pelo contraste estridente que há entre os poucos ultrarricos e a multidão inumerável dos indigentes, seja reconduzida à conformidade com as normas do bem comum e da justiça social”.

DESTINAÇÃO UNIVERSAL DOS BENS

171. Este princípio se baseia no fato de que: “a origem primeira de tudo o que é bem é o próprio ato de Deus que criou a terra e o homem, e ao homem deu a terra para que a domine com o seu trabalho e goze dos seus frutos (cf. Gn 1,28-29).
175. A destinação universal dos bens comporta, portanto, um esforço comum que visa a obter para toda pessoa e para todos os povos as condições necessárias ao desenvolvimento integral, de modo que todos possam contribuir para a promoção de um mundo mais humano. 
182. O princípio da destinação universal dos bens requer que se cuide com particular solicitude dos pobres, daqueles que se acham em posição de marginalidade e, em todo caso, das pessoas cujas condições de vida lhes impedem um crescimento adequado. 
184. O amor da Igreja pelos pobres inspira-se no Evangelho das bem-aventuranças, na pobreza de Jesus e na sua atenção aos pobres. Tal amor se refere à pobreza material e também às numerosas formas de pobreza cultural e religiosa.

SUBSIDIARIEDADE

186. Com base neste princípio, todas as sociedades de ordem superior devem se pôr em atitude de ajuda (subsidium) – e, portanto, de apoio, promoção e incremento – em relação às menores. [...]
    À subsidiariedade entendida em sentido positivo, como ajuda econômica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais menores, corresponde uma série de implicações em negativo, que impõem ao Estado se abster de tudo o que, de fato, restringir o espaço vital das células menores e essenciais da sociedade. Não se deve suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade.
187. O princípio de subsidiariedade protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores e solicita estas últimas a ajudar os indivíduos e os corpos intermediários a desempenhar as próprias funções. Este princípio impõe-se, porque cada pessoa, família e corpo intermediário tem algo de original para oferecer à comunidade.

SOLIDARIEDADE

192. A solidariedade confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em dignidade e direitos, ao caminho comum dos homens e dos povos para uma unidade cada vez mais convicta.
194. A mensagem da Doutrina Social acerca da solidariedade põe de realce a existência de estreitos vínculos entre solidariedade e bem comum, solidariedade e destinação universal dos bens, solidariedade e igualdade entre os homens e os povos, solidariedade e paz no mundo.

POBREZA E RIQUEZA

328. Os bens, ainda que legitimamente possuídos, mantêm sempre uma destinação universal: é imoral toda a forma de acumulação indébita, porque em aberto contraste com a destinação universal consignada por Deus Criador a todos os bens.
329. As riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os outros e a sociedade: “Como poderíamos fazer o bem ao próximo – interroga-se Clemente de Alexandria – se todos não possuíssem nada?”. Na visão de São João Crisóstomo, as riquezas pertencem a alguns, para que estes possam adquirir mérito partilhando com os outros. Elas são um bem que vem de Deus: quem o possuir, deve usá-lo e fazê-lo circular, de sorte que também os necessitados possam fruir; o mal está no apego desmedido às riquezas, no desejo de açambarcá-las [reter tudo ou quase tudo para si].

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