INTERNACIONAL

IGREJA

O presépio ‘convida a nos sentirmos envolvidos na história da salvação’

Por Fernando Geronazzo
04 de dezembro de 2019

Papa Francisco assina a Carta Apostólica Admirabile Signum (Admirável Sinal), na Capela da Primeira Natividade, parte integrante do Eremitério do Santuário de Greccio, inaugurado em 1228

Vatican Media

No domingo, dia 1º, início do tempo do Advento, o Papa Francisco enviou uma Carta Apostólica aos católicos de todo o mundo a respeito do valor e significado do presépio.
Intitulado Admirabile Signum (Admirável Sinal), o texto foi publicado no mesmo dia em que o Pontífice visitou a cidade de Greccio, no Vale de Rieti, a menos de 100km de Roma, local onde, em 1223, São Francisco de Assis fez o primeiro presépio. 
“Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias de prepararem o presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças…”, explicou o Santo Padre. 

OBRA DE EVANGELIZAÇÃO
Dividido em dez pontos, o texto recorda a origem franciscana do presépio, a sua obra de evangelização e as figuras e o simbolismo que o compõem. 
Francisco lembra, também, que a cena da natividade de Jesus, como é conhecida hoje, deve-se a alguns pormenores contidos no Evangelho, por exemplo, no de São Lucas, cuja narrativa diz que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, “teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Em latim, a palavra praesepium significa manjedoura. 
As fontes franciscanas narram de forma detalhada que, 15 dias antes do Natal, São Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-
-nascido, tendo sido reclinado na palha de uma manjedoura, entre o boi e o burro”.
O Papa enfatiza que, com a simplicidade daquele sinal, “São Francisco realizou uma grande obra de evangelização” e reforça que armar o presépio nas casas ajuda a reviver a história que aconteceu em Belém.

TERNURA DE DEUS
Francisco indaga por qual motivo esse símbolo natalino suscita tanto fascínio e comoção. “Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-se até a nossa pequenez”, responde o Papa. 
O Bispo de Roma reitera que os Evangelhos continuam a ser a fonte que permite conhecer e meditar o acontecimento de Belém. “Mas a sua representação no presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a nos sentirmos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”, completou.
O Santo Padre salientou, ainda, que o presépio é um convite a “sentir” e “tocar” a pobreza que escolheu, para si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, “tornando-se, assim, implicitamente, um apelo para o seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento.”

TRANSMISSÃO DA FÉ
“Queridos irmãos e irmãs, o presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé”, afirma o Papa, recordando que, a partir da infância e, depois, em cada idade da vida, a representação da cena da natividade do Senhor educa as pessoas para “contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria”. 
Nesse sentido, o Santo Padre ressalta que, muitas vezes, as crianças e inclusive os adultos gostam de acrescentar no presépio outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho. “Contudo, esta imaginação pretende expressar que, neste mundo novo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda a criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha conosco a sua vida divina”, afirma.

FIGURAS CENTRAIS
O Papa chama a atenção para a figura de Maria, a mãe que contempla seu menino e o mostra a quantos vêm visitá-lo. “Nela, vemos a Mãe de Deus que não guarda o seu Filho só para si mesma, mas pede a todos que obedeçam à palavra Dele e a ponham em prática (cf. Jo 2,5)”. 
Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o menino e sua mãe, está São José, “o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família” e que “trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus”. 
Contudo, Francisco destaca a figura central desse símbolo natalino. “O coração do presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim se nos apresenta Deus, em um menino, para fazer-se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja”, escreve.

PRESENTES
O Pontífice recorda, ainda, as três figuras dos reis magos, que costumam ser inseridas na cena na proximidade da festa da Epifania do Senhor. Os presentes que são entregues ao Menino-Deus também têm um significado alegórico: “o ouro honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada, que experimentará a morte e a sepultura”. 
“Ao fixarmos esta cena no presépio, somos chamados a refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova para as pessoas que encontra, testemunhando a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; e o faz com ações concretas de misericórdia”, completa o Papa.

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