INTERNACIONAL

Missao Belem no Haiti

Missão Belém, 6 anos de solidariedade no Haiti

Por Nayá Fernandes
13 de julho de 2017

Missionários no país localizado na América Central  realizam missão principalmente junto às crianças.

Irmã Renata Lopes é missionária da Missão Belém e está há seis anos no Haiti. Pelo WhatsApp, ela conversou com a reportagem do O SÃO PAULO sobre a situação do país após o furacão da última semana e sobre as atividades da comunidade na capital, Porto Príncipe. O texto a seguir, narrado em primeira pessoa, transcreve o relato enviado pela Irmã.

 

 

O ciclone passou perto de nós

O ciclone passou perto de nós, mas não nos atingiu. Estamos num bairro bem próximo do mar e também cor- ríamos risco. Nesse momento, a gente percebe o país num estado muito complicado. As pessoas perderam parentes ou seus parentes estão desabrigados. Muitos têm familiares em [Warf ] Jérémie, uma das cidades que mais sofreu com o furacão.

Estamos em missão no Haiti há seis anos, viemos depois do terremoto de 2010 e nos instalamos num bairro muito pobre, Warf Jérémie. O bairro carece de tudo: água, luz, banheiro. As pessoas sofrem muito com a miséria, a fome, grande parte das crianças não vai à escola. Desde que chegamos, queríamos trabalhar com a evangelização, pois aqui não havia nenhuma igreja e, por isso, atuamos junto à Paróquia. No espaço da nossa missão há uma capela e temos a missa, Catequese para crianças e adultos, preparação para o Matrimônio etc. Nossa ação tem sido também com a educação. Nosso centro educacional tem 1.100 crianças que iniciam no berçário e vão até o 5º ano. As crianças passam o dia todo conosco e têm direito a atendimento médico, odontológico, três refeições diárias e a oportunidade de ter e sonhar com uma vida melhor.

 

‘Vim aqui para ajudar

Sempre digo que é um grande privilégio estar aqui, mesmo com tantas dificuldades. Mesmo estando num bairro e num país com muitos e graves problemas sociais, vejo que Deus tem me ajudado nas minhas dificuldades, pois o mais importante é não parar nelas. Uma das lições que tenho aprendido é justamente essa, não olhar para minhas dificuldades, mas para as dificuldades das crianças que não tiveram oportunidade de ir à escola ou não conseguem aprender a ler, devido à malformação que começou por falta de alimentação adequada, ainda no ventre da mãe, ou ainda para aquelas que morrem por desnutrição, por exemplo. Eu sinto que, ao olhar todo esse contexto, consigo ir em frente e não parar nas minhas dificuldades, pois vim até aqui para ajudar, por pouco que seja, a melhorar a vida dessas pessoas. Assim, nossa missão é levar a Palavra de Deus também por meio da educação, e perceber que temos conseguido resultado ao longo destes anos me deixa muito feliz.

Ao chegarmos aqui, não tínhamos muitos recursos financeiros. Tínhamos, contudo, um projeto de construir uma escola para no máximo 150 crianças e começamos numa casa emprestada, que depois alugamos. Ao longo do tempo, foram chegando ajuda de tantos voluntários e, com a nossa luta e a ajuda de Deus, hoje temos um centro com 33 salas, 1.100 alunos e 75 professores. Para mim, isso é um grande milagre que se construiu ao longo destes anos. Tenho vivido a experiência de acreditar. O projeto no Haiti é um grande sonho de Deus realizado por meio da Missão Belém, e por isso estamos doando nossa vida aqui. Agradeço às pessoas que nos ajudam com o apadrinhamento e com as orações.

 

A situação das crianças

Presenciamos centenas de casos de crianças mortas aqui em Jérémie. Des- de que nos mudamos, víamos pessoas com caixas de madeira na cabeça e depois as víamos cavando buracos no chão. Só depois de alguns meses, entendemos que estavam enterrando as crianças aqui no bairro, que é, na verdade, um grande aterro. E o lugar escolhido para o enterro era um espaço com lixo e muitos por- cos. Quando percebemos que as crianças eram enterradas ali, no lixo, ficamos chocados. Depois disso, tentamos ajudar a enterrar essas crianças com dignidade; mas são muitas as que morrem de desnutrição, desidratação por diarreia, porque as crianças sofrem bastante com a diarreia, decorrente da sujeira. O bairro não tem saneamento básico, e isso atrai diferentes doenças.

Para tentar mudar essa situação, o nosso centro educacional funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados e domingos, das 13h às 17h, e, quando não temos aulas, no período das férias, nos organizamos para dar refeições às crianças que só comem aqui no centro educacional, pois se as crianças não comerem aqui, não comerão em casa. Isso porque antes, quando fechávamos nas férias, percebíamos que as crianças não retornavam às aulas. Quando íamos investigar, descobríamos que elas tinham morrido de fome ou de desidratação, porque a mãe não dava água ou a criança estava com alguma doença e ninguém percebeu. A morte de crianças é uma realidade muito dura neste lugar. Por isso, dentro do nosso centro, temos uma enfermaria e conseguimos atender cerca de 30 crianças desnutridas, que é pouco, mas é o que conseguimos fazer e, na medida do possível, vamos tentando ajudar.

 

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