Nova crise política: ao menos 7 mortos

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22 de fevereiro de 2019

Dezesseis meses atrás, terminava a missão de paz da ONU no Haiti. Agora, o País vive uma nova crise política. Após diversas acusações de corrupção contra funcionários do governo, dezenas de milhares de manifestantes têm pedido a renúncia do presidente Jovenel Moise. Há relatos de mortos e feridos, mas não foi divulgado qualquer número oficial preciso. De acordo com a agência AFP, ao menos sete pessoas foram mortas.

A situação é dramática em diversas cidades, com grupos armados a bloquear estradas e ruas com entulho e pneus, impedindo o acesso da população a alimentos, medicamentos, água potável e combustível. A escassez de itens de primeira necessidade já começa a afetar boa parte da população.

A Irmã Santina Perin, 78, e outras duas irmãs do Imaculado Coração de Maria, que vivem a 150 quilômetros de Porto Príncipe, explicaram a situação: “O povo está muito desgostoso, revoltado. A comida está muito cara e a polícia não consegue dominar nem dialogar”. Questionada se pretende deixar o País, a Irmã Santina respondeu com firmeza que não: “É a hora em que o povo mais precisa de coragem e esperança”.

Fonte: Folha de S. Paulo
 
 

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‘Os missionários vivem a pobreza com os pobres e no lugar dos pobres’

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07 de fevereiro de 2019

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, falou sobre sua visita ao Haiti, entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro. Na sua segunda viagem ao país mais pobre das Américas, Dom Odilo visitou os trabalhos apostólicos que a Missão Belém realiza em uma comunidade localizada junto a um lixão na periferia da capital, Porto Príncipe, desde o terremoto que devastou o país em 2010.

O Cardeal destacou que, embora as feridas mais visíveis do terremoto já foram cicatrizadas, ainda há muitas coisas à espera de reconstrução no País. “O papel da Igreja é muito importante para promover, além da ação caritativa e religiosa, também a possibilidade de mudança social e cultural”, salientou o Arcebispo, destacando o trabalho da Missão Belém como admirável, “de uma abnegação e dedicação enormes”.

“No Haiti, a Missão Belém está com os ‘descartados’ e abandonados à própria sorte”, afirmou, ressaltando que a esperança semeada pela Comunidade é percebida pelo sorriso das crianças acolhidas. Leia a íntegra da entrevista.

 

O SÃO PAULO – COMO FOI A VISITA DO SENHOR AO HAITI?

Dom Odilo Pedro Scherer – Vim ao Haiti depois de participar da Jornada Mundial da Juventude no Panamá, com o principal objetivo de visitar a comunidade missionária da Missão Belém no Haiti e a sua obra, iniciada após o grande terremoto que abalou o país em 2010. Foram quatro dias de programação intensa, com visitas às salas da creche e da escola, que já contam juntas com mais de 1.800 alunos. Além disso, visitei o canteiro de obras da nova escola e do início da construção de um hospital para a Missão Belém no mesmo local da escola. Mas também visitei o Núncio Apostólico no Haiti e o Arcebispo de Porto Príncipe; tive contatos com outros religiosos brasileiros que trabalham na Capital, celebrei com o povo e participei de uma tocante via sacra no meio da favela.

 

O QUE O SENHOR DESTACA DO TRABALHO REALIZADO PELA MISSÃO BELÉM NESSE PAÍS?

É um trabalho voltado para uma população muito pobre, que vive sobre um lixão na periferia de Porto Príncipe. A Missão Belém dedica-se, sobretudo, às crianças e adolescentes, para lhes oferecer condições de saúde, alimentação e educação para um futuro melhor. Os missionários vivem no meio dessa população, partilhando sua pobreza e inteiramente dedicados a ela. O testemunho dos missionários da Missão Belém é muito edificante, e a obra ali iniciada consegue agregar a colaboração de muitas pessoas da própria favela e a solidariedade de muitos benfeitores do Brasil e da Itália, graças aos quais o trabalho vai acontecendo como verdadeira obra da Providência.

 

QUAL É O PAPEL DA IGREJA NA TRANSFORMAÇÃO DA VIDA DAQUELE POVO?

O papel da Igreja é muito importante para promover, além da ação caritativa e religiosa, também a possibilidade de mudança social e cultural. O Haiti ainda precisa muito de ajuda internacional concreta e inserida, que envolva a própria população local, não devendo ser paternalista, pois criaria dependência e não estimularia o povo a superar seus problemas. A Missão Belém está fazendo isso. Os pais dos alunos, especialmente as mães, são envolvidos no trabalho da Missão; muitos dos 250 funcionários pagos e dos voluntários são da comunidade da favela. A obra da educação e da evangelização são extremamente importantes nesse contexto.

 

O QUE MUDOU NO HAITI DESDE A ÚLTIMA VISITA DO SENHOR?

As feridas mais visíveis do terremoto já foram cicatrizadas e o povo voltou à normalidade de sua vida. Ainda há muitas coisas à espera de reconstrução, inclusive a catedral metropolitana. Das muitas ONGs que atuaram no país restaram poucas em ação, porém, muitas iniciativas da Igreja, não apenas do Brasil, consolidaram sua presença e continuam empenhadas ali, na sua ação missionária, educativa e de ação transformadora. A pobreza ainda continua muito grande e, com a ausência das tropas da ONU, lideradas pelo Brasil, para assegurar a ordem e a estabilidade política, o Haiti vai fazendo suas experiências na consolidação do regime democrático.

 

O QUE MAIS O MARCOU NO CONTATO COM A SITUAÇÃO DO PAÍS?

O contato foi muito breve e seria temerário fazer um julgamento sobre a situação do país. O certo é que o Haiti ainda precisa dar muitos passos na consolidação da ordem democrática, na superação da pobreza e de injustiças sociais arraigadas. Em geral, as condições de vida da população ainda carecem de muitos avanços. Nas questões da segurança e da transparência na administração pública, o Haiti não difere dos outros países da região do Caribe, da América Central e do Sul. Mas se nota que o povo luta como pode, é criativo para encontrar modos de resolver as necessidades básicas cotidianas. Além disso, é um povo que tem um senso estético e artístico bem afinado.

 

E COMO AVALIA O TRABALHO DA MISSÃO BELÉM NO HAITI?

É um trabalho admirável, de uma abnegação e dedicação enormes. Os missionários vivem a pobreza com os pobres e no lugar dos pobres. Olhando para o contexto onde atuam, lembrei-me das frequentes referências do Papa Francisco às “periferias existenciais e humanas” e aos “descartados” da sociedade. No Haiti, a Missão Belém está com os “descartados” e abandonados à própria sorte, que vivem em cima de um grande lixão (material descartado). Mas a Missão Belém faz brotar a esperança, que aparece no sorriso das crianças ali acolhidas e atendidas e na sua algazarra alegre nas salas da escola. É um trabalho que precisa e merece o apoio de muitos benfeitores.

 

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Missão Belém amplia projetos no Haiti e acolherá, diariamente, 3 mil crianças

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07 de fevereiro de 2019

“Quando chegamos, não havia nada em pé e o bispo local tinha morrido, vítima do terremoto, bem como a Doutora Zilda Arns. Então, foi-nos apresentada a região de Wharf Jeremie, que significa ‘Porto de Jeremie’. No início, ficamos três dias numa tenda oferecida pelo exército. Foi uma experiência muito difícil. Já se passaram quase nove anos a partir daqueles três dias. Desde então, muita coisa já mudou.”

Padre Gianpietro Carraro, fundador da Comunidade Missão Belém, foi ao Haiti em 2010, logo após o terremoto que devastou o País. Com a Irmã Cacilda da Silva Leste, iniciadora da Missão Belém ao lado do Padre Gianpietro e um voluntário, eles começaram um projeto que hoje atende 1.800 crianças de segunda-feira a domingo, durante dez horas diárias.

A inspiração para a ida da Comunidade ao Haiti veio a partir de uma frase dita pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, em fevereiro de 2010. “Por que vocês não vão ao Haiti? Com esse carisma de união e mergulho na realidade dos pobres, poderiam dar uma grande ajuda àquele povo sofrido”, disse o Cardeal, durante visita a uma das casas da Missão em São Paulo. Em novembro, a Missão Belém completa nove anos de missão no Haiti.

 

PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA MISSÃO BELÉM

O Centro Zanj Makenson, mantido pela Missão Belém, desenvolve atividades e projetos na área da educação, saúde e profissionalização para os jovens.

A escola atende 1.800 crianças e adolescentes de 0 a 15 anos, desde o nascer até o pôr do sol. Além da catequese diária, os alunos têm atividades pedagógicas, esportivas e lúdicas, incluindo cinco refeições diárias.

Um prédio de dois andares está sendo construído e acolherá mais 700 crianças em dois turnos, com atividades pedagógicas e cursos profissionalizantes para jovens. “No conjunto, esperamos alcançar com o centro-escola 3 mil crianças/adolescentes nos próximos três anos, com idades entre 0 a 18 anos”, explicou Irmã Cacilda, em entrevista ao O SÃO PAULO.

Além disso, há um centro nutricional e uma enfermaria que acompanha cerca de 60 crianças com desnutrição. “Há muitas crianças que são encontradas nos barracos em situação de desnutrição grave. No centro, recebem cuidados médicos, alimentação e higiene. As mães têm orientações para o cuidado das crianças. Após ganhar peso e sair do quadro de desnutrição, vão para o berçário e jardim no centro- -escola”, explicou Irmã Cacilda.

O projeto mais recente é o hospital, que terá pelo menos 1.500 m2 , e vai compreender um pronto socorro, um bloco operatório para internação e uma maternidade.

CARA, CORAGEM E FÉ

Aos 45 anos, a missionária brasileira morou no Haiti durante um ano. “Voltei várias vezes para acompanhar o andamento e ampliação da evangelização e dos projetos. Vi a evolução das crianças. 1800 crianças não passam mais fome e se desenvolvem a cada dia, de maneira impressionante”, afirmou Irmã Cacilda.

“Andando pelas vielas no meio do labu (lama do esgoto), entrando nas kay tol (minúsculos barracos de lata), vendo um mar de crianças lambuzadas de esgoto e sem ter o que comer, roendo latinhas enferrujadas como vimos o pequeno Richinè aos três anos e que, hoje, aos 11 anos, estuda feliz aqui no centro; lembro-me de quando viemos aqui, há nove anos, com a cara, a coragem e a fé”, disse Irmã Cacilda.

Entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro, o Cardeal Scherer esteve no Haiti, onde visitou todos os projetos da Missão Belém, além de presidir a missa todos os dias da visita e rezar a oração da Via-Sacra com as crianças atendidas pelo Centro e seus familiares nas vielas da favela (leia mais nas páginas 3 e 12). Dom Odilo encontrou-se com autoridades civis e religiosas e abençoou a primeira pedra do novo hospital e do centro-escola.

Ao refletir sobre o Evangelho em que Jesus compara o Reino de Deus com uma pequena semente, o Cardeal afirmou que o trabalho da Missão Belém é como essa semente, lançada ao coração das crianças. “Essa semente, um dia, vai produzir frutos. Por isso, semear com coragem e esperança. Tenham a certeza de que o Espírito de Deus fará frutificar essas sementes”, afirmou o Cardeal, durante a homilia da missa por ele presidida na sexta-feira, 1º, transmitida ao vivo pelas redes sociais da Missão Belém.

 

DA ITÁLIA AO HAITI

Daniele Bruschi, 43, é italiano e está no Haiti desde abril de 2015. Responsável pela administração e economia do Centro, Daniele realiza atividades como a compra de alimentos, pagamento de salários e manutenção das máquinas.

“Não escolhi ser missionário no Haiti, foi um chamado de Deus, uma vocação. Minha conversão começou há cerca de um ano e meio antes de partir para o Haiti, quando comecei a acreditar verdadeiramente na existência de Deus e entendi que a vida que eu levava não correspondia à vontade de Deus para mim. Durante uma peregrinação a Medjugorje, em agosto de 2013, senti um forte chamado de Deus pedindo-me para deixar tudo e segui-lo. Em outubro de 2014, deixei meu trabalho, minha casa, minha família e saí para visitar a Missão Belém na Itália, depois fui para o Brasil e, finalmente, vim para o Haiti, onde moro”, contou Daniele à reportagem.

Ao ser perguntado sobre como percebe a Missão Belém no Haiti, o Voluntário enfatizou que “a Palavra de Deus causará uma grande mudança na sociedade haitiana”. Além disso, ele citou as crianças atendidas no Centro e as 220 pessoas que trabalham e, portanto, podem manter suas famílias com o salário recebido.

“Todos os dias percebo a presença e ação de Deus em nosso Centro. Ver crianças brincando no canal de esgoto me dói muito, mas também me motiva a trabalhar com mais esforço e dedicação. São as crianças que me dão forças para continuar dando minha vida por elas todos os dias. Lembro-me de uma menina suja e desnutrida que me parou um dia perto do centro pedindo-me para deixá-la ir à escola. Depois de alguns meses, era outra pessoa, bem vestida e limpa. Ela não estava mais desnutrida e está alcançando excelentes resultados na escola”, contou Daniele.

SOBRE O PAÍS

Daniele Bruschi explicou que, atualmente, no Haiti, não há água encanada, eletricidade, saúde, comida e trabalho. “Há também enormes problemas com o gerenciamento de resíduos, as estradas são constantemente invadidas pelo lixo que, em seguida, atinge o mar durante as chuvas. Outro problema grave diz respeito à corrupção. É um problema de tais dimensões e tão enraizado que impede o desenvolvimento econômico e social do País. As estradas são muito irregulares e isso causa acidentes que são frequentemente graves ou mortais. A pobreza é grande e, muitas vezes, as pessoas não podem comer regularmente todos os dias. Em particular, as crianças são as que mais sofrem com essa situação de miséria”, disse.

O Voluntário italiano enfatizou também que, nos últimos tempos, há dificuldade em encontrar diesel e gasolina para geradores, além do gás para cozinha e até mesmo água. “As maiores lojas de alimentos permaneceram fechadas, aparentemente por um confronto com o governo. Há uma grande instabilidade política e econômica que leva a um aumento de episódios de violência”, afirmou Daniele.

Ele salientou, também, o fato de que ainda existem tantas pessoas analfabetas. “Sem educação, não é possível formar pessoas que possam trabalhar e construir uma família e uma sociedade melhor no futuro”, disse, recordando também a necessidade de que se estabeleça um sistema de saúde pública que permita aos haitianos tratarem a si mesmos e não morrerem “por uma simples infecção ou disenteria não tratada”

Nicola Casarin, engenheiro voluntário, salientouque o Haiti precisa, em primeiro lugar, de uma reforma política e cultural. “A sociedade vive contradições inimagináveis que levam a uma miséria e tiram a esperança e a possibilidade de vida de centenas de milhares de crianças em todas as partes do País. É necessário ajudar pessoas para que elas possam encontrar em si mesmas recursos e sair da pobreza.” Ele falou também sobre a corrupção generalizada em todos os níveis da sociedade, que está impedindo o desenvolvimento de um sistema produtivo econômico que funcione.

UM PAI MISSIONÁRIO

Nicola Casarin, 45, italiano, visita o Haiti regularmente por cerca de 15 dias a cada dois meses para acompanhar os projetos e o canteiro das obras das novas escolas e do novo hospital “Paolo Valle”, além da ampliação da primeira escola

Voluntário e membro da Missão Belém, Nicola é casado com Enrica e pai da Maria Clara, que tem 6 anos de idade. “Minha escolha de trabalhar em tempo integral na missão é, na verdade, uma escolha da família, porque no meu trabalho para o Haiti, tanto no período em que estou na Itália, quanto no período em que estou no Haiti, minha família está sempre em meu coração. Maria Clara sempre me pede que construa um parque com belos jogos para as crianças no Haiti”, recordou.

Para Nicola, o trabalho da Missão Belém é muito maior do que o que pode ser percebido de fora. “Os missionários doam o tempo e o coração pela causa e, assim, veem a mudança também dos seus próprios corações. Do Haiti você nunca volta para casa como antes”, afirmou o Engenheiro.

 

HISTÓRIA DE UM JOVEM HAITIANO

Muscadin Djorgenly, 22, nasceu em Porto Príncipe e mora em Wharf Jeremie. Atualmente, ele coordena uma atividade pastoral com crianças e trabalha na equipe de caridade da Missão Belém, que tem a função de buscar as crianças ausentes da escola.

“Comecei a participar da Missão Belém assim que eles chegaram aqui, frequentava o grupo de oração, que acontecia, às vezes, perto da minha casa. Com a Missão, aproximei-me realmente de Deus. Além disso, a Missão me ajudou dando um trabalho para minha mãe, que, assim, conseguiu me sustentar”, contou Muscadin, que também teve uma oportunidade de trabalho após terminar o período escolar.

Todos os dias, Muscadin anda pelos barracos em busca das crianças e, aos fins de semana, ajuda no trabalho pastoral. “A Missão transformou muitas coisas em minha vida, me ajuda a amadurecer no conhecimento da Palavra de Deus. Sou muito grato por ter conhecido a Missão Belém e poder fazer parte dela”, disse o jovem.

 

 

 

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Estudo mostra que Zika chegou ao Brasil proveniente do Haiti

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14 de agosto de 2018

Estudo desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco revela que o vírus Zika chegou ao Brasil proveniente do Haiti. De acordo com pesquisadores, imigrantes ilegais e militares brasileiros que participaram da missão de paz no país caribenho podem ter trazido a doença.

Entre as hipóteses consideradas até então estava a de que o vírus teria entrado no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, trazido por turistas africanos. Outra teoria era de que a introdução teria ocorrido durante o Campeonato Mundial de Canoagem, realizado em agosto de 2014 no Rio de Janeiro, que recebeu competidores de vários países do Pacífico afetados pelo vírus.

Segundo a Fiocruz, o vírus Zika, originário da Polinésia Francesa, não veio de lá diretamente para o Brasil. Antes, migrou para a Oceania, depois para a Ilha de Páscoa, de onde foi para a América Central e o Caribe e só então chegou ao Brasil, no final de 2013. O trajeto coincide com o caminho percorrido por outras arboviroses, como dengue e chikungunya.

“Esse resultado aponta para o fato de que a América Central e Caribe são importantes rotas de entrada para arbovírus na América do Sul. Uma informação estratégica para a vigilância epidemiológica e para adoção de medidas de controle e monitoramento dessas doenças, especialmente em regiões de fronteira com outros países, portos e aeroportos”, destacou a fundação.

Ainda de acordo com a Fiocruz, em todos os casos brasileiros estudados, o ancestral em comum desse tipo de vírus é uma cepa do Haiti, país afetado por uma espécie de tripla epidemia de zika, dengue e chikungunya.

Outra conclusão do estudo é que houve múltiplas introduções, independentes entre si, do vírus Zika no Brasil. Isso muda a crença anterior de que um único paciente poderia ter trazido a doença, que depois teria se espalhado pelo país.

 

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Dom Gil Moreira: ‘No Haiti, vi um povo esperançoso’

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27 de julho de 2017

Após sete anos do terremoto de sete pontos na escala Richter que atingiu o Haiti, o país permanece em extrema situação de vulnerabilidade social. Segundo dados das Nações Unidas, à época, morreram mais de 230 mil pessoas, houve outros 300 feridos, além de 1,5 milhão de pessoas desabrigadas. A capital, Porto Príncipe, foi uma das mais atingidas.

Em 2016, o furacão Matthew matou mais de mil pessoas, ampliando o sofrimento do povo haitiano.

Atendendo ao pedido do Papa Francisco e recordando os princípios da evangelização missionária de ir ao encontro do próximo, a Arquidiocese de Juiz de Fora (MG), representada por seu Arcebispo, Dom Gil Antônio Moreira, cinco membros da Associação dos Jovens Missionários Continentais (JMC) e Dom José Eudes, Bispo de Londrina (PR) participaram de uma missão no Haiti entre os dias 17 a 23 de julho.

De volta ao Brasil, Dom Gil falou por telefone, na terça-feira, 25, com Padre Cido Pereira, no programa “Construindo Cidadania”, da rádio 9 de Julho.

Dom Gil falou sobre sua missão e o que pôde presenciar nestes seis dias de missão. Ele ressaltou a participação da Igreja em Porto Príncipe, sobretudo após as duas catástrofes; e contou que a presença católica acontece principalmente nas periferias da cidade e nos lugares menos acessíveis.

Uma de suas principais recordações foi a perspectiva de esperança das pessoas no local: “Eu vi um povo animado, um povo esperançoso, um povo dedicado”, afirmou.

 

OUÇA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

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Missão Belém, 6 anos de solidariedade no Haiti

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13 de julho de 2017

Irmã Renata Lopes é missionária da Missão Belém e está há seis anos no Haiti. Pelo WhatsApp, ela conversou com a reportagem do O SÃO PAULO sobre a situação do país após o furacão da última semana e sobre as atividades da comunidade na capital, Porto Príncipe. O texto a seguir, narrado em primeira pessoa, transcreve o relato enviado pela Irmã.

 

 

O ciclone passou perto de nós

O ciclone passou perto de nós, mas não nos atingiu. Estamos num bairro bem próximo do mar e também cor- ríamos risco. Nesse momento, a gente percebe o país num estado muito complicado. As pessoas perderam parentes ou seus parentes estão desabrigados. Muitos têm familiares em [Warf ] Jérémie, uma das cidades que mais sofreu com o furacão.

Estamos em missão no Haiti há seis anos, viemos depois do terremoto de 2010 e nos instalamos num bairro muito pobre, Warf Jérémie. O bairro carece de tudo: água, luz, banheiro. As pessoas sofrem muito com a miséria, a fome, grande parte das crianças não vai à escola. Desde que chegamos, queríamos trabalhar com a evangelização, pois aqui não havia nenhuma igreja e, por isso, atuamos junto à Paróquia. No espaço da nossa missão há uma capela e temos a missa, Catequese para crianças e adultos, preparação para o Matrimônio etc. Nossa ação tem sido também com a educação. Nosso centro educacional tem 1.100 crianças que iniciam no berçário e vão até o 5º ano. As crianças passam o dia todo conosco e têm direito a atendimento médico, odontológico, três refeições diárias e a oportunidade de ter e sonhar com uma vida melhor.

 

‘Vim aqui para ajudar

Sempre digo que é um grande privilégio estar aqui, mesmo com tantas dificuldades. Mesmo estando num bairro e num país com muitos e graves problemas sociais, vejo que Deus tem me ajudado nas minhas dificuldades, pois o mais importante é não parar nelas. Uma das lições que tenho aprendido é justamente essa, não olhar para minhas dificuldades, mas para as dificuldades das crianças que não tiveram oportunidade de ir à escola ou não conseguem aprender a ler, devido à malformação que começou por falta de alimentação adequada, ainda no ventre da mãe, ou ainda para aquelas que morrem por desnutrição, por exemplo. Eu sinto que, ao olhar todo esse contexto, consigo ir em frente e não parar nas minhas dificuldades, pois vim até aqui para ajudar, por pouco que seja, a melhorar a vida dessas pessoas. Assim, nossa missão é levar a Palavra de Deus também por meio da educação, e perceber que temos conseguido resultado ao longo destes anos me deixa muito feliz.

Ao chegarmos aqui, não tínhamos muitos recursos financeiros. Tínhamos, contudo, um projeto de construir uma escola para no máximo 150 crianças e começamos numa casa emprestada, que depois alugamos. Ao longo do tempo, foram chegando ajuda de tantos voluntários e, com a nossa luta e a ajuda de Deus, hoje temos um centro com 33 salas, 1.100 alunos e 75 professores. Para mim, isso é um grande milagre que se construiu ao longo destes anos. Tenho vivido a experiência de acreditar. O projeto no Haiti é um grande sonho de Deus realizado por meio da Missão Belém, e por isso estamos doando nossa vida aqui. Agradeço às pessoas que nos ajudam com o apadrinhamento e com as orações.

 

A situação das crianças

Presenciamos centenas de casos de crianças mortas aqui em Jérémie. Des- de que nos mudamos, víamos pessoas com caixas de madeira na cabeça e depois as víamos cavando buracos no chão. Só depois de alguns meses, entendemos que estavam enterrando as crianças aqui no bairro, que é, na verdade, um grande aterro. E o lugar escolhido para o enterro era um espaço com lixo e muitos por- cos. Quando percebemos que as crianças eram enterradas ali, no lixo, ficamos chocados. Depois disso, tentamos ajudar a enterrar essas crianças com dignidade; mas são muitas as que morrem de desnutrição, desidratação por diarreia, porque as crianças sofrem bastante com a diarreia, decorrente da sujeira. O bairro não tem saneamento básico, e isso atrai diferentes doenças.

Para tentar mudar essa situação, o nosso centro educacional funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados e domingos, das 13h às 17h, e, quando não temos aulas, no período das férias, nos organizamos para dar refeições às crianças que só comem aqui no centro educacional, pois se as crianças não comerem aqui, não comerão em casa. Isso porque antes, quando fechávamos nas férias, percebíamos que as crianças não retornavam às aulas. Quando íamos investigar, descobríamos que elas tinham morrido de fome ou de desidratação, porque a mãe não dava água ou a criança estava com alguma doença e ninguém percebeu. A morte de crianças é uma realidade muito dura neste lugar. Por isso, dentro do nosso centro, temos uma enfermaria e conseguimos atender cerca de 30 crianças desnutridas, que é pouco, mas é o que conseguimos fazer e, na medida do possível, vamos tentando ajudar.

 

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