SÃO PAULO

DIA DAS MÃES

Maternidade em tempo integral

Por Nayá Fernandes ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
08 de mai de 2020

Mães contam suas experiências durante a pandemia e como conciliam trabalho e cuidado dos filhos 

Ser mãe é uma missão pra vida toda e em tempo integral. Desde quando o bebê nasce, a mulher já se prepara para uma nova rotina, em que os cuidados do novo integrante da família irão ocupar quase todo o tempo que antes era destinado a outras atividades. As crianças vão crescendo, começam a frequentar a escola e a rotina muda mais uma vez.

No entanto, diante da pandemia e do isolamento social vivido em todo o mundo em razão da COVID-19, muitas mães estão trabalhando em casa, em meio a tarefas domésticas e o cuidado com os filhos, além de ajudar nas tarefas escolares deles.

Para algumas, foi preciso fazer acordos e repensar a rotina com muita disciplina; para outras, está sendo um tempo de muito aprendizado e convívio. Para todas elas, sem dúvida, embora a situação seja de preocupação e cuidado, é uma alegria ficar mais tempo com os filhos e viver mais um Dia das Mães, assim, ainda mais pertinho.

ESTEFI E TEO

Estefi Machado, 42, é artista, grafiteira, fotógrafa, cenógrafa, escrevedeira e pregadora do brincar. Essa é a forma com que a mãe do Teo Machado, 12, se descreve no seu perfil do Instagram, onde tem publicado, diariamente, ideias para que pais possam desenvolver uma rotina de brincadeira e conhecimento com seus filhos.

A artista é casada com Pedro Pereira e, mesmo antes da pandemia, já trabalhava em casa, mas tinha uma rotina de reuniões e trabalhos externos que foram interrompidos com as orientações de isolamento social no País.

“Tenho um ateliê de criação e, por isso, fico com meu filho em casa. Meu trabalho, contudo, triplicou durante o isolamento, pois parte dele é criar brincadeiras que incentivem a relação entre pais e filhos”, explicou.

Para ela, tem sido um aprendizado a questão da disciplina que precisa haver para que o tempo com os filhos e o trabalho possam ser desenvolvidos com serenidade. “Combino com meu filho quais serão os horários das brincadeiras e isso tem funcionado bem; não sei como seria com crianças menores”, disse. A mãe, que tem se mostrado solidária com outras famílias, ao compartilhar, gratuitamente, ideias para os pais que facilitem o tempo deles em casa, disse que Teo está sentindo muito a falta dos amigos e professores. “Eles têm alguns encontros virtuais e atividades da escola, mas como ele estuda em uma escola com uma pedagogia diferente e voltada para atividades práticas como plantar, trabalhar com argila, bordar e outras coisas do gênero, a escola optou por não estabelecer uma rotina rígida de exercícios. Nossa convivência foi fortalecida e nos sentimos muito felizes e privilegiados por estarmos em casa, com comida na mesa, protegidos”, afirmou Estefi.

CAMILLA E BIANCA

“Quando começamos a quarentena, confesso que achei que fosse enlouquecer.” Com essa frase, Camilla Alves, 38, mãe da Bianca Alves, 7, iniciou a entrevista dada ao O SÃO PAULO. Esposa de Renato Alves, 39, ela trabalha num banco e, além disso, tem que ajudar a filha com as atividades escolares.

“Tinha dias que achava que não daria conta. Eu via posts de mães que brincavam e faziam bolo com as crianças e me sentia mal por não conseguir fazer isso com minha filha. Aos poucos, no entanto, tudo foi entrando na rotina, a Bianca começou a ter aulas on-line, o trabalho ficou mais tranquilo e eu fui adequando meus horários com as atividades de casa”, contou Camilla, que percebeu o quanto a filha sentia sua falta e estava, inclusive, tendo dificuldade com a lição, para chamar sua atenção.

“Adaptei meu local de trabalho e coloquei meu computador na escrivaninha dela. Ela faz suas lições numa mesinha atrás de mim e assim tenho conseguido acompanhar mais o que ela está aprendendo e conhecendo melhor as suas áreas de interesse”, contou a mãe, que sente que a quarentena tem aflorado o senso de solidariedade em todo mundo.

“Converso muito com a Bianca sobre sermos gratas a Deus pela nossa casa, pelo alimento na mesa, pela cama quentinha para dormir. E que, infelizmente, muitas famílias não têm isso. Sou muito grata a Deus pelo meu emprego, pela saúde, por termos alimentos saudáveis. Aos domingos, estamos acompanhando as missas pelo Facebook da Paróquia São José do Belém. A Bianca tem lido todos os dias a Bíblia. É muito curiosa e quer conhecer mais a vida de Jesus”, contou a mãe.

GIZELE E CATARINA

Gizele Gabi Ferreira Sforzim, 37, é advogada, mãe da Catarina Ferreira Sforzim, 4, e esposa de Israel Santana Sforzim, 46, metroviário. Como a mãe não interrompeu sua atividade profissional com o nascimento da filha, Catarina estava habituada a frequentar a creche desde os 4 meses de vida.

“Estou fazendo home-office, mas a prioridade não tem sido o trabalho e sim o cuidado com a minha filha, Catarina, que demanda quase que exclusivamente a minha atenção. Como mãe em tempo integral, sinto que o carinho mútuo me faz evoluir diariamente e me tornar um ser humano melhor. Tenho descoberto o quanto somos dependentes uma da outra e a importância de mudarmos nossas prioridades”, disse Gizele.

Como a Catarina está na fase de alfabetização, Gizele tem percebido que o processo é bem mais complexo do que ela imaginava e que, de alguma forma, os pais acabam transferindo toda essa responsabilidade para a escola.

“Deveríamos, normalmente, separar um tempo para isso todos os dias, mesmo que nossa rotina seja corrida”, afirmou a advogada que, desde o início da quarentena, tem se preocupado com outras famílias que não podem oferecer uma alimentação saudável para os filhos ou um espaço adequado para o aprendizado.

Todos os dias, mãe e filha rezam juntas, o que já faziam antes da pandemia, e isso tem se intensificado.

“Meu marido tem saído de casa todos os dias para trabalhar, pois a atividade que ele exerce é considerada essencial e, mesmo tomando todas as medidas de segurança e higiene, recorro a Deus para que o guarde aonde for, para que o proteja e dê saúde”, disse Gizele.

ELIANE E ARTHUR

Eliane de Carvalho Barbosa, 38, é analista de controladoria, mãe do Arthur de Carvalho Barbosa, 4, e casada com Adriano Barbosa da Silva, 38. Ela tem feito 100% do trabalho por meio de home-office e viu mudanças bruscas em seu dia a dia. “Minha rotina sempre foi acordar muito cedo, por volta das 4h20 e chegar à minha casa após as 19h30. Durante a semana, fico pouco menos de três horas por dia com meu filho. Neste período, tivemos que nos adaptar, conciliar atividades do trabalho, domésticas e tempo de atenção, lazer e aprendizado com o Arthur”, contou.

“Para mim, foi uma descoberta ver que meu filho não é mais um bebezinho. Está aprendendo palavras novas todos os dias, e, às vezes, recebemos cada resposta que ficamos sem reação. Podemos ser tudo para ele: super-herói, vilão, astronauta, piloto de carro de corrida, qualquer coisa que a imaginação dele quer que a gente seja”, disse a mãe, que já está imaginando como será voltar a trabalhar quando tudo passar: “Confesso que será muito difícil não ver o rostinho dele 24 horas”.

Eliane disse que pensa sempre nas mães que não podem ficar em casa com seus filhos, principalmente as que estão na linha de frente dessa pandemia. Católica, a família tem acompanhado pelo Facebook a transmissão das missas da comunidade que frequentavam. “O Arthur canta algumas músicas e sempre participa com a gente. Agradecemos a Deus todos os dias, pois ele está saudável e até ganhou uns quilinhos. Acredito que está sendo um aprendizado para sermos pessoas melhores”, continuou.

 

 

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