Paróquias diversificam homenagens no Dia das Mães

Por
15 de mai de 2020

No domingo, 10, além das missas transmitidas on-line, as paróquias da Região Sé realizaram homenagens alusivas ao Dia das Mães.

A Paróquia Santo Antônio, no Setor Bom Retiro, promoveu, com o apoio do Coral Bevilacqua e da empresa MRD7 Eventos, mais uma edição de sua “Tocata nas Alturas!”

Na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, no Setor Jardins, foi realizada uma serenata em honra a Nossa Senhora e em homenagem a todas as mães, com o Coral Del Chiaro, com transmissão pelas mídias sociais. Pensando em amenizar o isolamento social, na Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda, o Padre Luiz Claudio Braga, Pároco, ofereceu a varanda da casa paroquial para uma apresentação musical, repetindo a iniciativa já realizada no Domingo de Páscoa. O repertório, porém, foi adaptado ao Dia das Mães. Os moradores dos condomínios ao redor se alegraram e manifestaram sua aceitação, acendendo e apagando as luzes de suas varandas. “Foi extremamente emocionante levar alegria aos corações de uma gente que sofre tanto com toda essa situação que a COVID-19 vem trazendo”, disse o Pároco. Na Paróquia São Joaquim, no Setor Aclimação, o Padre José Donizeti Coelho, Pároco, preparou um vídeo, no qual destaca a presença dos fiéis por meio de fotos e com as palavras: “Quando eu entrar, só apagarei a luz quando olhar para trás e vir que nenhum se perdeu. Se se perder, eu espero, pois a minha vontade é que todos sejam salvos”.

Já a Paróquia Santo Ignácio de Loyola homenageou as mães com um vídeo que pode ser assistido no site regiaose.org.br

Comente

Valorizar a maternidade em pequenos gestos

Por
09 de mai de 2020

Fonte e origem são dois dos significados da palavra “mãe” no dicionário Aurélio. Os termos imprimem o entendimento sobre a maternidade, explicada também no poema de Bráulio Bessa, que em seus versos a resumiu como sendo: “A força de ser única; e nunca nos deixar só, da presença até ausente, a força de ser maior, a força doce de um laço e a segurança de um nó”.

Durante a audiência geral no dia 7 de janeiro de 2015, o Papa Francisco dedicou parte de sua catequese a todas as mães: “Cada pessoa humana deve a vida a uma mãe, e quase sempre lhe deve muito da própria existência sucessiva, da formação humana e espiritual. Contudo, a mãe, embora seja muito exaltada sob o ponto de vista simbólico — muitas poesias, muitas coisas bonitas se dizem poeticamente sobre a mãe — é pouco escutada e pouco ajudada no dia a dia, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Aliás, muitas vezes, aproveita-se da disponibilidade das mães a sacrificar-se pelos filhos para ‘economizar’ nas despesas sociais”.

O Santo Padre recordou que São Oscar Romero costumava dizer que “ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é, também, uma escolha de vida. O que escolhe uma mãe, qual é a escolha de vida de uma mãe? A escolha de vida de uma mãe é a escolha de dar a vida. E isto é grande, é bonito”.

O Papa Francisco refletiu, ainda, sobre o papel da maternidade para o desenvolvimento humano, pois elas são as principais responsáveis por transmitir ternura e ensinar a prática cristã: “Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo”.

UM POUCO MAIS VAZIA

Casa cheia, almoço especial com toda a família e troca de presentes são tradições de como vivenciar o Dia das Mães, que, no Brasil, é celebrado anualmente, no segundo domingo do mês de maio. A data criada nos Estados Unidos, no início da década de 1990, por Anna Jarvis, tem seu princípio no desejo de homenagear as matriarcas.

Ao longo dos anos, outros países aderiram ao feriado e, em diferentes datas, passaram a incluir a celebração em seu calendário.

Os encontros deste dia, contudo, serão diferentes em 2020, devido à recomendação de isolamento social. É provável que muitas mães e filhos não possam se abraçar e demostrar afeto presencialmente.

BEM IMATERIAL

O empresário e profissional da área de marketing digital, Rafael Medeiros, em entrevista ao O SÃO PAULO contou que nas redes sociais têm se pensado em estratégias de anúncios que exaltem mais a maternidade do que o consumo, diferentemente de anos anteriores. 

“Há uma valorização mais humana da celebração - o amor filial e maternal mais do que apenas dar e receber presentes. Acredito que muitas mães gostariam de ter a oportunidade de estar com seus filhos, mais até do que uma lembrança ou algo comprado, mas a presença, o carinho, a união entre a família e, infelizmente, elas estarão privadas disso”.

Diante do atual isolamento social, pequenas e grandes empresas precisaram aderir aos canais de comércio pelo ambiente digital. Além disso, pensar comercialmente quando as pessoas ficam em casa, distantes umas das outras e em meio a uma crise econômica que já atinge grande parte da população, representou um novo olhar para a forma de se fazer publicidade, sobretudo, de forma segmentada, como ocorre no marketing digital.

Para Rafael Medeiros, que atua na empresa Comunicação Aberta, essa mudança tem um aspecto positivo que poderá ser preservado em outros momentos ao longo do ano: “Tem sido uma ocasião para refletirmos sobre o que é realmente essencial”, completou.

‘MÃE QUE NUNCA NOS DESAMPARA’

A celebração, que ocorre durante o mês maio, dedicado pela Igreja a Maria, é para Rafael “um ponto importante para crescermos na união com Nossa Senhora, que é a mãe de toda as mães”.

El acredita ser possível transformar as dificuldades enfrentadas durante a pandemia, caso “as pessoas utilizem esse período para rezar o Terço em família como forma de se aproximar da “mãe que nunca nos desampara e dá o consolo”, concluiu.

Demonstre o seu amor mesmo a distância

  • Faça uma chamada de vídeo ou ligação para parabenizar sua mãe;
  • Caso queira presenteá-la, peça ajuda a alguém que esteja realizando a quarentena na mesma casa;
  • Envie a ela fotos e vídeos de momentos juntos.

 

Comente

Maternidade em tempo integral

Por
08 de mai de 2020

Ser mãe é uma missão pra vida toda e em tempo integral. Desde quando o bebê nasce, a mulher já se prepara para uma nova rotina, em que os cuidados do novo integrante da família irão ocupar quase todo o tempo que antes era destinado a outras atividades. As crianças vão crescendo, começam a frequentar a escola e a rotina muda mais uma vez.

No entanto, diante da pandemia e do isolamento social vivido em todo o mundo em razão da COVID-19, muitas mães estão trabalhando em casa, em meio a tarefas domésticas e o cuidado com os filhos, além de ajudar nas tarefas escolares deles.

Para algumas, foi preciso fazer acordos e repensar a rotina com muita disciplina; para outras, está sendo um tempo de muito aprendizado e convívio. Para todas elas, sem dúvida, embora a situação seja de preocupação e cuidado, é uma alegria ficar mais tempo com os filhos e viver mais um Dia das Mães, assim, ainda mais pertinho.

ESTEFI E TEO

Estefi Machado, 42, é artista, grafiteira, fotógrafa, cenógrafa, escrevedeira e pregadora do brincar. Essa é a forma com que a mãe do Teo Machado, 12, se descreve no seu perfil do Instagram, onde tem publicado, diariamente, ideias para que pais possam desenvolver uma rotina de brincadeira e conhecimento com seus filhos.

A artista é casada com Pedro Pereira e, mesmo antes da pandemia, já trabalhava em casa, mas tinha uma rotina de reuniões e trabalhos externos que foram interrompidos com as orientações de isolamento social no País.

“Tenho um ateliê de criação e, por isso, fico com meu filho em casa. Meu trabalho, contudo, triplicou durante o isolamento, pois parte dele é criar brincadeiras que incentivem a relação entre pais e filhos”, explicou.

Para ela, tem sido um aprendizado a questão da disciplina que precisa haver para que o tempo com os filhos e o trabalho possam ser desenvolvidos com serenidade. “Combino com meu filho quais serão os horários das brincadeiras e isso tem funcionado bem; não sei como seria com crianças menores”, disse. A mãe, que tem se mostrado solidária com outras famílias, ao compartilhar, gratuitamente, ideias para os pais que facilitem o tempo deles em casa, disse que Teo está sentindo muito a falta dos amigos e professores. “Eles têm alguns encontros virtuais e atividades da escola, mas como ele estuda em uma escola com uma pedagogia diferente e voltada para atividades práticas como plantar, trabalhar com argila, bordar e outras coisas do gênero, a escola optou por não estabelecer uma rotina rígida de exercícios. Nossa convivência foi fortalecida e nos sentimos muito felizes e privilegiados por estarmos em casa, com comida na mesa, protegidos”, afirmou Estefi.

CAMILLA E BIANCA

“Quando começamos a quarentena, confesso que achei que fosse enlouquecer.” Com essa frase, Camilla Alves, 38, mãe da Bianca Alves, 7, iniciou a entrevista dada ao O SÃO PAULO. Esposa de Renato Alves, 39, ela trabalha num banco e, além disso, tem que ajudar a filha com as atividades escolares.

“Tinha dias que achava que não daria conta. Eu via posts de mães que brincavam e faziam bolo com as crianças e me sentia mal por não conseguir fazer isso com minha filha. Aos poucos, no entanto, tudo foi entrando na rotina, a Bianca começou a ter aulas on-line, o trabalho ficou mais tranquilo e eu fui adequando meus horários com as atividades de casa”, contou Camilla, que percebeu o quanto a filha sentia sua falta e estava, inclusive, tendo dificuldade com a lição, para chamar sua atenção.

“Adaptei meu local de trabalho e coloquei meu computador na escrivaninha dela. Ela faz suas lições numa mesinha atrás de mim e assim tenho conseguido acompanhar mais o que ela está aprendendo e conhecendo melhor as suas áreas de interesse”, contou a mãe, que sente que a quarentena tem aflorado o senso de solidariedade em todo mundo.

“Converso muito com a Bianca sobre sermos gratas a Deus pela nossa casa, pelo alimento na mesa, pela cama quentinha para dormir. E que, infelizmente, muitas famílias não têm isso. Sou muito grata a Deus pelo meu emprego, pela saúde, por termos alimentos saudáveis. Aos domingos, estamos acompanhando as missas pelo Facebook da Paróquia São José do Belém. A Bianca tem lido todos os dias a Bíblia. É muito curiosa e quer conhecer mais a vida de Jesus”, contou a mãe.

GIZELE E CATARINA

Gizele Gabi Ferreira Sforzim, 37, é advogada, mãe da Catarina Ferreira Sforzim, 4, e esposa de Israel Santana Sforzim, 46, metroviário. Como a mãe não interrompeu sua atividade profissional com o nascimento da filha, Catarina estava habituada a frequentar a creche desde os 4 meses de vida.

“Estou fazendo home-office, mas a prioridade não tem sido o trabalho e sim o cuidado com a minha filha, Catarina, que demanda quase que exclusivamente a minha atenção. Como mãe em tempo integral, sinto que o carinho mútuo me faz evoluir diariamente e me tornar um ser humano melhor. Tenho descoberto o quanto somos dependentes uma da outra e a importância de mudarmos nossas prioridades”, disse Gizele.

Como a Catarina está na fase de alfabetização, Gizele tem percebido que o processo é bem mais complexo do que ela imaginava e que, de alguma forma, os pais acabam transferindo toda essa responsabilidade para a escola.

“Deveríamos, normalmente, separar um tempo para isso todos os dias, mesmo que nossa rotina seja corrida”, afirmou a advogada que, desde o início da quarentena, tem se preocupado com outras famílias que não podem oferecer uma alimentação saudável para os filhos ou um espaço adequado para o aprendizado.

Todos os dias, mãe e filha rezam juntas, o que já faziam antes da pandemia, e isso tem se intensificado.

“Meu marido tem saído de casa todos os dias para trabalhar, pois a atividade que ele exerce é considerada essencial e, mesmo tomando todas as medidas de segurança e higiene, recorro a Deus para que o guarde aonde for, para que o proteja e dê saúde”, disse Gizele.

ELIANE E ARTHUR

Eliane de Carvalho Barbosa, 38, é analista de controladoria, mãe do Arthur de Carvalho Barbosa, 4, e casada com Adriano Barbosa da Silva, 38. Ela tem feito 100% do trabalho por meio de home-office e viu mudanças bruscas em seu dia a dia. “Minha rotina sempre foi acordar muito cedo, por volta das 4h20 e chegar à minha casa após as 19h30. Durante a semana, fico pouco menos de três horas por dia com meu filho. Neste período, tivemos que nos adaptar, conciliar atividades do trabalho, domésticas e tempo de atenção, lazer e aprendizado com o Arthur”, contou.

“Para mim, foi uma descoberta ver que meu filho não é mais um bebezinho. Está aprendendo palavras novas todos os dias, e, às vezes, recebemos cada resposta que ficamos sem reação. Podemos ser tudo para ele: super-herói, vilão, astronauta, piloto de carro de corrida, qualquer coisa que a imaginação dele quer que a gente seja”, disse a mãe, que já está imaginando como será voltar a trabalhar quando tudo passar: “Confesso que será muito difícil não ver o rostinho dele 24 horas”.

Eliane disse que pensa sempre nas mães que não podem ficar em casa com seus filhos, principalmente as que estão na linha de frente dessa pandemia. Católica, a família tem acompanhado pelo Facebook a transmissão das missas da comunidade que frequentavam. “O Arthur canta algumas músicas e sempre participa com a gente. Agradecemos a Deus todos os dias, pois ele está saudável e até ganhou uns quilinhos. Acredito que está sendo um aprendizado para sermos pessoas melhores”, continuou.

 

 

Comente

Testemunhas do amor e da esperança que transformam o ambiente hospitalar

Por
12 de mai de 2019

Em um hospital, não há dúvidas de que a UTI é um dos lugares mais temidos. Essa sigla é imediatamente associada a um lugar repleto de dor, sofrimento, em que a ideia da morte está sempre presente, ainda mais quando se trata de uma UTI neonatal ou pediátrica. Definitivamente, ninguém suporta a ideia de ao menos pensar em uma criança sofrendo.

No entanto, depois de frequentar esse ambiente por alguns dias, entende-se o verdadeiro sentido do nome: unidade de terapia intensiva. E, de fato, esse é um lugar onde tudo é vivido de forma bastante intensiva, inclusive o amor e a esperança.

 

IMERSÃO 

Ao entrar pela primeira vez em uma UTI pediátrica de um hospital em São Paulo, em meio ao som dos monitores de sinais vitais, choros, da movimentação de enfermeiras, uma cena chama atenção: junto aos leitos, em pé, com visível cansaço, mas sem perder a esperança, estão elas, as mães. Elas acariciam seus filhos, quando possível, pegam-nos no colo, mesmo que presos aos eletrodos e sondas, ou, então, apenas contemplam com o olhar seus pequenos intubados, sedados, aguardando uma reação.

Depois de dez dias acompanhando a recuperação do meu filho, de 8 meses, após uma cirurgia cardíaca, pude conhecer de perto a vida dessas mães da UTI. E esta reportagem, em vista do Dia das Mães, comemorado no domingo, 12, busca contar um pouco sobre o quanto essas mulheres vivem a maternidade de forma intensa e sobre o quanto presença delas torna o ambiente hospitalar mais humano.

 

SEGUNDA CASA

Fora da UTI, há uma sala de apoio para os acompanhantes, com banheiro, poltronas e uma televisão. Lá, alguns ficam alguns minutos para descansar um pouco, recobrar as forças e deixar as lágrimas contidas quando estão junto dos filhos. “Eles precisam que estejamos bem, firmes. Isso os ajuda a se sentirem mais seguros”, comentava uma mãe com outra, enquanto comia uma barra de cereais.

Também é possível ver pais que revezam com suas esposas e, quando há necessidade, autorizam a permanência dos avós. No entanto, na maioria, os acompanhantes são as mães, até por razões naturais, como a necessidade de amamentação e o maior vínculo que possuem com os filhos.

A maioria desses pais havia programado ficar alguns dias apenas, mas, devido a complicações na saúde dos filhos, estão lá há semanas ou até meses. Aquele lugar virou a extensão de suas casas, quando não passa a ser o único lugar onde vivem por longos períodos.

 

HISTÓRIAS

A professora de Física Tenille Martins Victoria, 33, aprendeu a ser mãe dentro da UTI do Hospital Sepaco, em São Paulo. Quando sua filha, Catarina, nasceu, em 3 de fevereiro de 2017, a menina foi encaminhada direto para a terapia intensiva, por causa de uma série de malformações no coração, diagnosticada durante a gestação. Foram 60 dias diretos na UTI. 

Com 40 dias de vida, Catarina foi ao centro cirúrgico para ser submetida à sua primeira cirurgia. No entanto, logo após a aplicação da anestesia, a bebê sofreu uma parada cardíaca. Tentaram reanimá-la por 13 minutos, sem sucesso, a ponto de ser declarado o seu óbito. Então, quando o cirurgião abriu o peito da bebê para verificar a causa da morte, o coração voltou a bater. “Até hoje, ele não sabe explicar como isso aconteceu”, relatou Tenille.

Depois disso, Catarina ficou mais 15 dias na UTI sem os pais saberem quais seriam as consequências dessa complicação. “A princípio, estimavam que ela demoraria uma semana para acordar e provavelmente ficaria com sequelas. Só que ela acordou menos de 48 horas depois da parada, como se nada tivesse acontecido”, contou a mãe.

A cirurgia foi finalmente realizada após um mês, sendo bem-sucedida. Com 8 meses, Catarina passou por uma nova cirurgia e, em outubro de 2018, aconteceu a terceira e mais complexa cirurgia com dez horas de duração, no Instituto do Coração (Incor).

 

VÍNCULOS

Vivendo tanto tempo “internadas” com seus filhos, é inevitável que essas mães criem laços com outras mães e seus filhos, gerando uma verdadeira rede de amizade e solidariedade.

Com Tenille não foi diferente. “Logo que entrei na UTI pela primeira vez, eu dei de cara com os dois bebês prematuros. Eram muito pequenos, deviam pesar entre 600 e 700 gramas, pele avermelhada. Eles ficavam nas incubadoras ao lado da Catarina”, recordou.

Os recém-nascidos eram filhos da analista jurídica Karen Cristina Bonfim Guerreiro, 39, e de Diego Guerreiro Paulo, 40. Ela teve uma gestação tranquila até a 24ª semana. Quando estava para completar 25 semanas, entrou em trabalho de parto e deu à luz os prematuros Théo e Miguel.

As duas mães ficaram muito próximas, uma dando força para a outra nessa jornada de alegrias e tristezas. No mesmo dia em que Tenille comemorava a notícia de que Catarina receberia alta da UTI, ela consolava a amiga que chorava a morte de um de seus gêmeos, Théo, que não resistiu às complicações da prematuridade.

 

UM DIA DE CADA VEZ

“Quando nós descobrimos a gravidez, imaginamos tudo diferente, bonito. De repente, descobrimos o oposto. Não pude ver minha filha no momento do parto, não houve visitas no quarto do hospital. Foram meses em imersão total na UTI, sem ver outras pessoas”, desabafou Tenille.

Em situações como essa, por mais que os familiares quisessem ajudar, havia um limite. Os pais são os únicos que podem viver tudo de maneira plena. “Eu praticamente não conversava com ninguém de fora, tirei todas as minhas redes sociais do ar. Vivia inteiramente para a minha filha”, acrescentou a professora.

Nesse sentido, o suporte do pai de Catarina, Welingthon Rogério Baptista, foi fundamental. “Ele se preocupava com a minha alimentação para poder aguentar tudo e também para produzir leite para ela. Ele revezava comigo na UTI e sempre buscamos estar juntos nos horários de visita, pois também era importante para nossa filha”, salientou Tenille.

A mãe da Catarina reforçou que na UTI cada instante é muito importante. “No momento, pode estar tudo bem e, em dez minutos, a situação pode se reverter. Cada dia era uma vitória. Falavam para mim que ela ia nascer e morrer, mas viveu um dia, depois outro... Eu aprendi a viver um dia de cada vez e aproveitá-lo ao máximo”, destacou.

 

PEQUENAS CONQUISTAS

Se para toda mãe cada etapa do desenvolvimento dos filhos é uma conquista, para as mães da UTI isso tem um significado mais especial, como o primeiro sorriso e as primeiras respostas a estímulos. “Não me esqueço da primeira vez que vi minha filha, horas depois do parto; da primeira vez que a peguei no colo, após quatro dias; o primeiro banho que pudemos dar, depois de mais de um mês”, recordou Tenille.

Mas, na UTI, também outros sinais de superação são motivo de alegria, como a reação positiva a uma medicação, a volta de uma intubação, o primeiro som emitido pelo bebê depois da sedação, a primeira urina sem sonda, a liberação da alimentação via sonda e a primeira amamentação no seio materno. Cada um desses passos é comemorado não somente pelos pais, como pelas enfermeiras e médicos.

A passagem por uma UTI também muda a maneira de ver os profissionais da saúde que ali se dedicam. “Eu imaginava que esses profissionais fossem mais técnicos e práticos. Eram carinhosos a ponto de uma bebê estar toda intubada e a mãe não poder pegá-la no colo; de repente, uma médica, que está em plantão há 36 horas, levantar- -se só para pegá-la no colo. Esse é o nível de carinho desses profissionais”, salientou.

Karen confirma o papel fundamental dos profissionais da UTI. “Mesmo nos momentos tristes, quando perdi meu Théo, eu recebi muito carinho dos médicos, enfermeiras, técnicas e fisioterapeutas”, ressaltou.

 

ESPERANÇA

Quando questionada sobre o que a movia para enfrentar tudo isso, Tenille foi enfática: “Minha filha e o desejo de tirá-la de lá”. Em relação à fé, a mãe revelou que era algo que ela não tinha até o dia que o coração de Catarina voltou a bater após a parada cardíaca no centro cirúrgico. “A Medicina não explica por que ela voltou. A partir dali, eu passei realmente a ter fé.”

A rápida resposta e desenvolvimento de Catarina ao tratamento também são motivos para comemoração da família. Ao contrário das expectativas dos médicos, ela sempre se desenvolveu antes do esperado. Hoje, com 2 anos e 3 meses, Catarina vive como uma criança normal, com o auxílio de medicamentos e acompanhamento médico periódico.

Apesar da dor da perda de um dos gêmeos, Karen não perdeu a fé e a esperança, e se dedicou inteiramente a Miguel, a quem define como seu “milagre”. Cada sinal de evolução do seu quadro lhe dava forças para continuar firme.

Miguel ficou com sequelas da prematuridade, a maior delas foi uma paralisia cerebral. Por conta disso, passa por inúmeras terapias. Mas a mãe faz questão de não ressaltar os aspectos negativos, olha sempre para as conquistas diárias. “Ele está se desenvolvendo no tempo dele. Essas crianças são tão fortes, são uma caixinha de surpresas”.

Para Tenille, é impossível passar pela UTI sem ter a vida transformada. “Todo mundo deveria passar uma semana em um lugar como esse, independentemente de ter um familiar ou não. A UTI nos torna pessoas melhores e mais humanas”, concluiu.

 

Benefícios da presença materna no hospital

Atualmente, especialistas reconhecem a importância da permanência dos pais no hospital e seu papel no envolvimento do processo terapêutico das crianças.

As crianças tendem a ficar transtornadas e angustiadas quando enfrentam a separação dos pais, e, quanto menor a idade, menor é a compreensão das razões dessa ausência. “A presença do acompanhante constitui fonte de proteção, apoio e segurança para o filho e possibilita um conjunto de estímulos agradáveis, tornando o ambiente da UTI menos agressivo”, ressalta um estudo da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (PR), feito com mães que tiveram filhos internados na UTI.

O estudo observou, ainda, que a liberação da permanência materna na UTI possibilita, “além do estreitamento do vínculo afetivo, a redução do estresse emocional tanto da criança como da família, e, como consequência, contribui para diminuir o tempo da internação hospitalar”.

 

AFETO E SEGURANÇA

Diante dos inevitáveis momentos de estresse da criança causados por vários fatores, como medo, dor, insegurança, longos períodos acordados, mudança de ambiente, notou-se que a família representada pela figura da mãe, além de fonte de afeto e segurança, age como mediadora e facilitadora da adaptação da criança ao ambiente hospitalar.

Em muitas instituições de saúde no Brasil e no exterior, a estrutura física das UTIs pediátricas é pensada apenas em função da criança. Aos poucos, as administrações hospitalares têm tomado consciência da importância de haver acomodações adequadas para os acompanhantes. De igual modo, os profissionais começam, na medida do possível, a envolver mais os pais nos cuidados básicos dos seus filhos internados, como na higiene pessoal, troca de fraldas e alimentação.

A participação das mães nessa terapia intensiva é, também, fundamental para dar segurança a elas e para dar continuidade aos cuidados dos filhos em casa após a alta hospitalar.

 

LEIA TAMBÉM: Amor de mãe

 

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.