Valorizar a maternidade em pequenos gestos

Por
09 de mai de 2020

Fonte e origem são dois dos significados da palavra “mãe” no dicionário Aurélio. Os termos imprimem o entendimento sobre a maternidade, explicada também no poema de Bráulio Bessa, que em seus versos a resumiu como sendo: “A força de ser única; e nunca nos deixar só, da presença até ausente, a força de ser maior, a força doce de um laço e a segurança de um nó”.

Durante a audiência geral no dia 7 de janeiro de 2015, o Papa Francisco dedicou parte de sua catequese a todas as mães: “Cada pessoa humana deve a vida a uma mãe, e quase sempre lhe deve muito da própria existência sucessiva, da formação humana e espiritual. Contudo, a mãe, embora seja muito exaltada sob o ponto de vista simbólico — muitas poesias, muitas coisas bonitas se dizem poeticamente sobre a mãe — é pouco escutada e pouco ajudada no dia a dia, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Aliás, muitas vezes, aproveita-se da disponibilidade das mães a sacrificar-se pelos filhos para ‘economizar’ nas despesas sociais”.

O Santo Padre recordou que São Oscar Romero costumava dizer que “ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é, também, uma escolha de vida. O que escolhe uma mãe, qual é a escolha de vida de uma mãe? A escolha de vida de uma mãe é a escolha de dar a vida. E isto é grande, é bonito”.

O Papa Francisco refletiu, ainda, sobre o papel da maternidade para o desenvolvimento humano, pois elas são as principais responsáveis por transmitir ternura e ensinar a prática cristã: “Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo”.

UM POUCO MAIS VAZIA

Casa cheia, almoço especial com toda a família e troca de presentes são tradições de como vivenciar o Dia das Mães, que, no Brasil, é celebrado anualmente, no segundo domingo do mês de maio. A data criada nos Estados Unidos, no início da década de 1990, por Anna Jarvis, tem seu princípio no desejo de homenagear as matriarcas.

Ao longo dos anos, outros países aderiram ao feriado e, em diferentes datas, passaram a incluir a celebração em seu calendário.

Os encontros deste dia, contudo, serão diferentes em 2020, devido à recomendação de isolamento social. É provável que muitas mães e filhos não possam se abraçar e demostrar afeto presencialmente.

BEM IMATERIAL

O empresário e profissional da área de marketing digital, Rafael Medeiros, em entrevista ao O SÃO PAULO contou que nas redes sociais têm se pensado em estratégias de anúncios que exaltem mais a maternidade do que o consumo, diferentemente de anos anteriores. 

“Há uma valorização mais humana da celebração - o amor filial e maternal mais do que apenas dar e receber presentes. Acredito que muitas mães gostariam de ter a oportunidade de estar com seus filhos, mais até do que uma lembrança ou algo comprado, mas a presença, o carinho, a união entre a família e, infelizmente, elas estarão privadas disso”.

Diante do atual isolamento social, pequenas e grandes empresas precisaram aderir aos canais de comércio pelo ambiente digital. Além disso, pensar comercialmente quando as pessoas ficam em casa, distantes umas das outras e em meio a uma crise econômica que já atinge grande parte da população, representou um novo olhar para a forma de se fazer publicidade, sobretudo, de forma segmentada, como ocorre no marketing digital.

Para Rafael Medeiros, que atua na empresa Comunicação Aberta, essa mudança tem um aspecto positivo que poderá ser preservado em outros momentos ao longo do ano: “Tem sido uma ocasião para refletirmos sobre o que é realmente essencial”, completou.

‘MÃE QUE NUNCA NOS DESAMPARA’

A celebração, que ocorre durante o mês maio, dedicado pela Igreja a Maria, é para Rafael “um ponto importante para crescermos na união com Nossa Senhora, que é a mãe de toda as mães”.

El acredita ser possível transformar as dificuldades enfrentadas durante a pandemia, caso “as pessoas utilizem esse período para rezar o Terço em família como forma de se aproximar da “mãe que nunca nos desampara e dá o consolo”, concluiu.

Demonstre o seu amor mesmo a distância

  • Faça uma chamada de vídeo ou ligação para parabenizar sua mãe;
  • Caso queira presenteá-la, peça ajuda a alguém que esteja realizando a quarentena na mesma casa;
  • Envie a ela fotos e vídeos de momentos juntos.

 

Comente

Maternidade em tempo integral

Por
08 de mai de 2020

Ser mãe é uma missão pra vida toda e em tempo integral. Desde quando o bebê nasce, a mulher já se prepara para uma nova rotina, em que os cuidados do novo integrante da família irão ocupar quase todo o tempo que antes era destinado a outras atividades. As crianças vão crescendo, começam a frequentar a escola e a rotina muda mais uma vez.

No entanto, diante da pandemia e do isolamento social vivido em todo o mundo em razão da COVID-19, muitas mães estão trabalhando em casa, em meio a tarefas domésticas e o cuidado com os filhos, além de ajudar nas tarefas escolares deles.

Para algumas, foi preciso fazer acordos e repensar a rotina com muita disciplina; para outras, está sendo um tempo de muito aprendizado e convívio. Para todas elas, sem dúvida, embora a situação seja de preocupação e cuidado, é uma alegria ficar mais tempo com os filhos e viver mais um Dia das Mães, assim, ainda mais pertinho.

ESTEFI E TEO

Estefi Machado, 42, é artista, grafiteira, fotógrafa, cenógrafa, escrevedeira e pregadora do brincar. Essa é a forma com que a mãe do Teo Machado, 12, se descreve no seu perfil do Instagram, onde tem publicado, diariamente, ideias para que pais possam desenvolver uma rotina de brincadeira e conhecimento com seus filhos.

A artista é casada com Pedro Pereira e, mesmo antes da pandemia, já trabalhava em casa, mas tinha uma rotina de reuniões e trabalhos externos que foram interrompidos com as orientações de isolamento social no País.

“Tenho um ateliê de criação e, por isso, fico com meu filho em casa. Meu trabalho, contudo, triplicou durante o isolamento, pois parte dele é criar brincadeiras que incentivem a relação entre pais e filhos”, explicou.

Para ela, tem sido um aprendizado a questão da disciplina que precisa haver para que o tempo com os filhos e o trabalho possam ser desenvolvidos com serenidade. “Combino com meu filho quais serão os horários das brincadeiras e isso tem funcionado bem; não sei como seria com crianças menores”, disse. A mãe, que tem se mostrado solidária com outras famílias, ao compartilhar, gratuitamente, ideias para os pais que facilitem o tempo deles em casa, disse que Teo está sentindo muito a falta dos amigos e professores. “Eles têm alguns encontros virtuais e atividades da escola, mas como ele estuda em uma escola com uma pedagogia diferente e voltada para atividades práticas como plantar, trabalhar com argila, bordar e outras coisas do gênero, a escola optou por não estabelecer uma rotina rígida de exercícios. Nossa convivência foi fortalecida e nos sentimos muito felizes e privilegiados por estarmos em casa, com comida na mesa, protegidos”, afirmou Estefi.

CAMILLA E BIANCA

“Quando começamos a quarentena, confesso que achei que fosse enlouquecer.” Com essa frase, Camilla Alves, 38, mãe da Bianca Alves, 7, iniciou a entrevista dada ao O SÃO PAULO. Esposa de Renato Alves, 39, ela trabalha num banco e, além disso, tem que ajudar a filha com as atividades escolares.

“Tinha dias que achava que não daria conta. Eu via posts de mães que brincavam e faziam bolo com as crianças e me sentia mal por não conseguir fazer isso com minha filha. Aos poucos, no entanto, tudo foi entrando na rotina, a Bianca começou a ter aulas on-line, o trabalho ficou mais tranquilo e eu fui adequando meus horários com as atividades de casa”, contou Camilla, que percebeu o quanto a filha sentia sua falta e estava, inclusive, tendo dificuldade com a lição, para chamar sua atenção.

“Adaptei meu local de trabalho e coloquei meu computador na escrivaninha dela. Ela faz suas lições numa mesinha atrás de mim e assim tenho conseguido acompanhar mais o que ela está aprendendo e conhecendo melhor as suas áreas de interesse”, contou a mãe, que sente que a quarentena tem aflorado o senso de solidariedade em todo mundo.

“Converso muito com a Bianca sobre sermos gratas a Deus pela nossa casa, pelo alimento na mesa, pela cama quentinha para dormir. E que, infelizmente, muitas famílias não têm isso. Sou muito grata a Deus pelo meu emprego, pela saúde, por termos alimentos saudáveis. Aos domingos, estamos acompanhando as missas pelo Facebook da Paróquia São José do Belém. A Bianca tem lido todos os dias a Bíblia. É muito curiosa e quer conhecer mais a vida de Jesus”, contou a mãe.

GIZELE E CATARINA

Gizele Gabi Ferreira Sforzim, 37, é advogada, mãe da Catarina Ferreira Sforzim, 4, e esposa de Israel Santana Sforzim, 46, metroviário. Como a mãe não interrompeu sua atividade profissional com o nascimento da filha, Catarina estava habituada a frequentar a creche desde os 4 meses de vida.

“Estou fazendo home-office, mas a prioridade não tem sido o trabalho e sim o cuidado com a minha filha, Catarina, que demanda quase que exclusivamente a minha atenção. Como mãe em tempo integral, sinto que o carinho mútuo me faz evoluir diariamente e me tornar um ser humano melhor. Tenho descoberto o quanto somos dependentes uma da outra e a importância de mudarmos nossas prioridades”, disse Gizele.

Como a Catarina está na fase de alfabetização, Gizele tem percebido que o processo é bem mais complexo do que ela imaginava e que, de alguma forma, os pais acabam transferindo toda essa responsabilidade para a escola.

“Deveríamos, normalmente, separar um tempo para isso todos os dias, mesmo que nossa rotina seja corrida”, afirmou a advogada que, desde o início da quarentena, tem se preocupado com outras famílias que não podem oferecer uma alimentação saudável para os filhos ou um espaço adequado para o aprendizado.

Todos os dias, mãe e filha rezam juntas, o que já faziam antes da pandemia, e isso tem se intensificado.

“Meu marido tem saído de casa todos os dias para trabalhar, pois a atividade que ele exerce é considerada essencial e, mesmo tomando todas as medidas de segurança e higiene, recorro a Deus para que o guarde aonde for, para que o proteja e dê saúde”, disse Gizele.

ELIANE E ARTHUR

Eliane de Carvalho Barbosa, 38, é analista de controladoria, mãe do Arthur de Carvalho Barbosa, 4, e casada com Adriano Barbosa da Silva, 38. Ela tem feito 100% do trabalho por meio de home-office e viu mudanças bruscas em seu dia a dia. “Minha rotina sempre foi acordar muito cedo, por volta das 4h20 e chegar à minha casa após as 19h30. Durante a semana, fico pouco menos de três horas por dia com meu filho. Neste período, tivemos que nos adaptar, conciliar atividades do trabalho, domésticas e tempo de atenção, lazer e aprendizado com o Arthur”, contou.

“Para mim, foi uma descoberta ver que meu filho não é mais um bebezinho. Está aprendendo palavras novas todos os dias, e, às vezes, recebemos cada resposta que ficamos sem reação. Podemos ser tudo para ele: super-herói, vilão, astronauta, piloto de carro de corrida, qualquer coisa que a imaginação dele quer que a gente seja”, disse a mãe, que já está imaginando como será voltar a trabalhar quando tudo passar: “Confesso que será muito difícil não ver o rostinho dele 24 horas”.

Eliane disse que pensa sempre nas mães que não podem ficar em casa com seus filhos, principalmente as que estão na linha de frente dessa pandemia. Católica, a família tem acompanhado pelo Facebook a transmissão das missas da comunidade que frequentavam. “O Arthur canta algumas músicas e sempre participa com a gente. Agradecemos a Deus todos os dias, pois ele está saudável e até ganhou uns quilinhos. Acredito que está sendo um aprendizado para sermos pessoas melhores”, continuou.

 

 

Comente

830 mulheres morrem por dia por causas relacionadas a gestação e parto

Por
28 de mai de 2019

Neste exato momento, centenas de mulheres espalhadas pelo mundo se preparam ou estão prontas para dar à luz. O momento sublime do nascimento deveria ser, também, o ápice de alegria para todas essas famílias que por nove meses aguardavam a chegada de mais um membro. Porém, quase 900 mulheres morrem diariamente em todo o mundo, justamente quando deveriam nascer para a missão da maternidade.

MAS POR QUE ISSO ACONTECE?

Hipertensão, infecções e hemorragia são as três causas mais comuns para o falecimento de mulheres durante a gestação, no parto ou uma semana depois de dar à luz. Essas complicações são consideradas causas diretas. Há, ainda, as indiretas, reconhecidas quando a gestante sofre com diabetes e doenças cardíacas.

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) no Brasil, em um relatório informativo atualizado em agosto de 2018, afirma que a grande maioria dessas mortes poderia ser evitadas com acesso ao pré-natal adequado. O ideal é que já nos primeiros meses, esses fatores de risco sejam identificados e, dessa forma, a gestante passasse a receber o tratamento adequado.

META DO MILÊNIO

A Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou, em setembro de 2002, em um encontro com líderes de 189 países, a Declaração do Milênio, que estabelecia oito metas para serem cumpridas até 2015.

A quinta dessas metas é melhorar a saúde materna, justamente, devido ao grande número de mortes relacionadas à gestação e ao parto. Para o Brasil, o objetivo era, até 2015, chegar a marca de, no máximo, 35 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos. Entretanto, o País ainda regista 62 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. Ou seja, mesmo após quatro anos do fim da meta, o País ainda tem quase o dobro de óbitos, índice é muito maior que o limite aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 20 falecimentos para cada 100 mil nascidos vivos.

UM PROBLEMA HUMANO

Adolescentes menores de 15 anos e mulheres que vivem em países em desenvolvimento estão mais vulneráveis à morte materna, neles há mais registros de complicações na gravidez e no parto.

Segundo a OPAS, a chance de uma mulher com até 15 anos morrer por uma causa materna é de 1 em 4,9 mil nos países desenvolvidos, contra 1 em 180 nos países em desenvolvimento. Os dados evidenciam que a saúde da mulher é um problema emergencial em todo o mundo, sobretudo em países mais pobres.

De acordo com a instituição, em 2015, apenas 40% de todas as mulheres grávidas em países de baixa renda tiveram o número de consultas de pré-natal recomendadas, quando nos países de alta renda, quase todas realizaram ao menos quatro consultas de pré-natal, e foram atendidas por um profissional de saúde qualificado durante o parto e após o parto.

Um dos fatores planejados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, na agenda 2030, é de reduzir a taxa global de mortalidade materna para menos de 70 por cada 100 mil nascidos vivos

AVANÇOS E OBJETIVOS

O Ministério da Saúde informou, em nota, que de 1990 a 2015, o Brasil registrou queda de 57% dos casos.

A hemorragia no pós-parto é uma das maiores causas de mortes na região das Américas. Por esse motivo, a OPAS e o Ministérios da Saúde desenvolveram, em 2014, a campanha estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia.

Desde 2015, quando o projeto entrou em vigor os estados do Tocantins, Maranhão, São Paulo, Pará, Minas Gerais, Ceará e Bahia já foram contemplados pelo programa que oferece oficinas de capacitação da equipe médica.

A pasta informou à reportagem que vem implementado políticas e estratégias além do projeto em parceria com a OPAS, como: a Rede Cegonha, o Projeto de Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia e o Projeto Parto Cuidadoso. Essas ações buscam fortalecer a humanização do atendimento das gestantes, a melhoria da atenção no pré-natal, nascimento e pós-parto pautados na orientação e qualificação, tanto no âmbito da atenção primária quanto na urgência e emergência.

De acordo com o Comitê de Vigilância da morte materna, infantil e fetal, só em São Paulo 47 mulheres morreram em 2017, por 100 mil nascidos vivos.

FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS

A Associação de Ginecologia Obstetra do Estado de São Paulo (SOGESP), formada por profissionais de obstetrícia e ginecologia, devolveram um curso de emergência em Obstétricas. Vera Borges, livre docente da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu (SP), diretora de Eventos da SOGESP no regional Centro-Oeste e uma das idealizadoras do curso, explicou que “o curso é pautado nas causas de morte materna, nós orientamos como tratar, como atuar diante das causas. Com isso, nós geramos mais profissionais para tratar os três tipos de causa de morte materna”.

Ela enfatizou a necessidade de um trabalho conjunto, pautado no atendimento multiprofissional, responsabilizando o estado para garantir o atendimento de pré-natal adequado.

Todas as informações para a participação do curso preparatório podem ser acessadas no site da SOGESP.

Com informações OPAS

Comente

Mães em tempo integral

Por
15 de mai de 2017

Aos 22 anos, ela tinha uma promessa de emprego como coordenadora do setor de Recursos Humanos numa grande multinacional, mas preferiu dedicar-se exclusivamente ao cuidado da pequena Amélia Amorim Marchini, que tem 1 ano e 8 meses de idade. A primeira filha de Laura Amorim, 23 anos, nasceu após um trabalho de parto de quase 24 horas, no dia 14 de agosto de 2015 e, desde lá, a mãe percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma.

“Eu estava disposta a voltar a trabalhar, pois tinha, mesmo passando por todo o processo de gestação e os meses de licença maternidade, uma proposta de promoção na empresa que ia, inclusive, dobrar o meu salário. Mas, quanto mais se aproximava a data do regresso, mais eu ficava tensa com a situação de passar o dia todo longe da minha filha e precisar parar a amamentação tão precocemente”, contou Laura, durante a entrevista que concedeu à reportagem do O SÃO PAULO, na casa onde mora com seu esposo Renan Bastos Marchini e sua mãe, Sandra Maria Ambrósio.

Mia, como a mãe chama a pequena Amélia, é uma criança saudável e vivaz, e foi pelo crescimento dela que Laura escolheu interromper, por algum tempo, sua vida profissional. “Tive muito medo no início, pois, pela experiência trabalhando no setor de Recursos Humanos, sei que é mais difícil para uma mãe, com um filho pequeno, retornar ao mercado de trabalho. Eu estava justamente no setor de recrutamento de pessoas, e sabia, portanto, que um dos critérios que não contavam pontos para uma contratação, era justamente esse. Além disso, ouvia muitos relatos de mães que não conseguiram voltar, ao menos não com facilidade”, contou a jovem mãe.

Mas, com o apoio de Renan e também de sua mãe, que contou à filha a experiência inversa que viveu quando ela, Laura, era pequena – devido ao trabalho, não pôde ficar mais tempo com a criança, o que foi um processo doloroso para a mãe –, Laura decidiu ouvir a avó de Mia. Ao recusar a proposta, ela passou a dedicar-se inteiramente ao cuidado da filha. “Eu fiz as contas e vi que teria que sair de casa por volta das 5h da manhã, retornando depois das 19h. Então, percebi que ia ficar muito tempo longe dela. Renan e eu nos reorganizamos financeiramente e cortamos muitos gastos, além disso, tivemos o apoio das nossas famílias. Hoje sou muito grata por essa oportunidade, pois sei que muitas mulheres não têm escolha”, continuou Laura.

 

Oportunidades

Com a mudança na rotina de Laura e sua família, ela começou a dedicar-se a outras atividades que sempre quis fazer, mas para as quais não tinha encontrado tempo ou estímulo. Além da formação em recursos humanos, está cursando uma graduação em filosofia e pretende trabalhar como professora futuramente, pois sempre quis seguir esse caminho. Além disso, dá aulas voluntárias de dança uma vez por mês e descobriu, após incentivo de uma amiga, o artesanato como saída para complementar a renda familiar. “Gosto muito de dançar e formamos um grupo com objetivo de ajudar outras pessoas. Assim, dou aulas voluntariamente e as alunas pagam com alimentos. Por mês conseguimos mais de 40 cestas básicas para famílias mais pobres”.

No tempo disponível entre os cuidados com Mia e a casa, Laura agora faz e vende artesanatos: “só neste mês de maio, já tenho mais de 20 colares encomendados e vou começar a investir em outros objetos como cortinas”.

Essa também foi a realidade de Adriana Menezes Fernandez, 35, mãe do Piettro, de 3 anos, e da Valentina Menezes Fernandez, que tem apenas 4 meses de vida. Ela parou de trabalhar quando nasceu o primeiro filho e, para ajudar no orçamento da casa, passou a vender canecas personalizadas e decorações de festas. Adriana e Edgar Fernandez Carrillo decidiram se mudar para o litoral de São Paulo pois, como tinham começado o financiamento de uma casa em Mongaguá (SP), não tinham condições de pagar o aluguel – da casa que moravam em São Paulo – e o financiamento ao mesmo tempo.

 

A alegria da maternidade

Quando escolheu ficar em casa para cuidar do Piettro, Adriana, que é formada em administração e trabalhava como analista de crédito imobiliário, ganhava o dobro do marido e, por isso, eles pensaram muito na decisão. “O retorno da licença foi muito difícil, pois eu não tinha horários fixos de saída do trabalho, que dependiam das agendas dos clientes, foi quando percebi que não dava para continuar. No início, muitos amigos admiraram minha ‘coragem’ de largar o emprego e ainda hoje acham estranho que uma mulher formada, que trabalha desde muito jovem, decida dedicar-se exclusivamente aos filhos”, contou Adriana, que está cursando a segunda faculdade, pois, com a maternidade, descobriu também que tem muito gosto pela educação.

Ela afirmou que, em muitos momentos, vê-se na contramão da sociedade, que foca muito mais no trabalho que dá uma criança e não na alegria profunda que a maternidade desencadeia. “As pessoas acham também que cuidar dos filhos é algo fútil, educar um cidadão para a sociedade é algo sem valor, que ficar em casa não é um trabalho e que as crianças precisam logo ir para a creche. Mas a creche ou a escola não substituem a mãe e o pai. A escola é importante, claro, afinal não deixei meu emprego para ficar trancada em casa com eles e sim para dar mais apoio e isso não exclui a escola. Pais e escola têm que trabalhar juntos”, disse Adriana.

A mãe do Piettro e da Valentina os leva para a faculdade quando necessário. “Ter filhos não significa que eu estou privada de fazer algo, meus filhos fazem parte de mim e isso não me impede de ser o que eu quero ser, posso ser mãe estudante e qualquer outra coisa, o fato de eu ter parado de trabalhar não significa que eu não possa fazer uma, duas, três ou quatros coisas ao mesmo tempo”.

Diferente de Edgar, que queria ter a casa cheia de crianças, a própria Adriana diz ter-se surpreendido após o nascimento do primeiro filho. “Eu não sonhava em me casar e ter filhos, mas minha experiência não foi nada do que eu ouvia sobre o quanto é difícil ter um filho. Consigo sentir muito mais amor e prazer do que enxergar o esforço que é cuidar e educar uma criança. Então decidimos ter mais um e criá-los juntos”.

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.