NACIONAL

55 Assembleia da CNBB

Dom Devair Araújo da Fonseca fala sobre situação atual do País

Por Nayá Fernandes/Larissa Freitas
03 de mai de 2017

Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar de São Paulo na Região Episcopal da Região Brasilândia e vigário episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo está participando da 55ª Assembleia Geral da CNBB e concedeu uma entrevista à Rádio 9 de Julho, que reproduzimos a íntegra a seguir.

Entrevista concedida à Cidinha Fernandes, para o programa “Bom dia, povo de Deus”

Qual a posição da CNBB sobre essas manifestações populares no país?

Aqui estão reunidos os bispos de todo o Brasil, quer dizer, de Norte a Sul, nós temos os bispos aqui reunidos e isso nos dá uma visão muito ampla e muito concreta da realidade de cada região, de cada diocese e o que nosso povo está sofrendo a partir das situações econômicas, com tudo isso que está a nossa volta.

Então, primeira coisa é que nós não estamos isolados, existe uma visão bastante profunda desses acontecimentos. É claro que a situação atual do nosso país tem sido refletida em muitos momentos na nossa assembleia, diversas vezes foi lembrado o número, que mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, isso é um número que assusta. Sem contar as transformações, as possibilidades de reforma, de mudança, que também estão sendo propostas, tudo isso tem sido motivo de preocupação e de grande reflexão, é claro que nós sabemos que mudanças, reformas são necessárias, mas os modelos apresentados é que, às vezes, não satisfazem as necessidades do povo, principalmente dos mais pobres.

A reflexão dos bispos vem nos ajudar a aprofundar o tema, não simplesmente dizer sim ou não, mas justamente aprofundar a reflexão para ver como essas mudanças podem beneficiar principalmente as pessoas mais pobres.

 

Normalmente as pessoas mais pobres são as que mais sofrem, as mais atingidas e menos ouvidas, se a gente não tem a Igreja para ser a voz delas, fica mais difícil não é mesmo?

Exatamente, porque a gente sabe que sempre que tem uma crise alguém paga a conta e geralmente quem paga a conta são aqueles que não podem ser ouvidos, aqueles que não podem ser escutados.

É nesse sentido que a Igreja se coloca sempre na defesa dessas pessoas, olhando com muita tranquilidade e com muita serenidade toda a situação, a Igreja não se opõe a esse ou aquele governo, a essa ou aquela situação, mas ela tem essa missão, essa tarefa, esse dever, de justamente falar a verdade sobre essa realidade, trazer a luz, para que o trabalho que vai ser feito, para que as mudanças na reforma, todo o trabalho que vai ser feito, seja feito de uma forma tranquila, sem prejudicar ainda mais os trabalhadores, que já são tão penalizados em tantas situações e de tantas formas.

 

Além dessa preocupação com o trabalhador, também há essa preocupação com a violência, com a falta de segurança pública, tanto nas regiões urbanas, quanto rurais, que certamente mereceram destaque nesse encontro. Outra coisa que gostaria que comentasse é a questão da violência, da insegurança da população e desses conflitos todos, que existem em todo o Brasil, nós vimos que, além de toda essa violência urbana, no domingo aconteceu mais um conflito entre índios e fazendeiros, resultando em vários índios feridos, tendo mãos decepadas, essa é uma preocupação muito grande da nossa Igreja que tem a pastoral indigenista acompanhando.

Sim, esses conflitos nunca acontecem de forma isolada, por isso que nós falamos de crise, de problemas econômicos, aí aparece uma série de eventos, acontecimentos, como se fosse um efeito cascata. Uma situação social degradante, ela impulsiona outra e assim por diante.

Esses conflitos já são antigos e não é por isso que nós temos que nos conformar com ele, então nós não podemos nos acomodar aos conflitos dizendo, sempre foi assim sempre será assim, mas justamente nos precisamos levantar a voz para dizer, então qual é o caminho a ser feito para interromper ou modificar esse comportamento. Essa é uma preocupação da Igreja sempre, os conflitos que acontecem na zona rural, eles tem uma dimensão, mas os conflitos que acontecem nos meios urbanos são da mesma natureza, são apenas separados por uma situação geográfica mas eles têm o mesmo efeito e sempre nisso sofrem aquelas pessoas que são menos amparadas.

A voz da Igreja se levanta nesse sentido de não só pedir o fim dos conflitos, mas que cheguemos realmente em uma forma de solucionar esses problemas, eles são antigos porque as vezes falta uma intervenção direta, uma ação direta, para resolver os problemas na sua raiz.

 

E o caminho para modificar essas situações seria no caso essa questão da gente se preocupar mais com a Iniciação à Vida Cristã? Recentemente, tivemos uma reforma do Ensino Fundamental que propõe excluir o Ensino Religioso, o que dizer nesse sentido a questão da Iniciação à Vida Cristã, a transmissão da fé, as novas gerações, será que estamos fazendo isso direito?

Com relação a este estudo, há 4 anos a CNBB lança um texto chamado ‘Pensando o Brasil’ que tem temáticas diversas, então neste estudo, foi feito uma apresentação bastante ampla, bastante aprofundada da situação educacional do nosso país, que também é muito diferente, se nós vamos ao Norte, Nordeste, ao Centro-Oeste, são situações que tem uma natureza das suas dificuldades, nós vamos ao Sul, uma outra natureza. Então, foi feito como que um apanhado dessa situação, mostrando que a Igreja está atenta a isso, não é porque nós temos escolas que realmente a escola está cumprindo o seu papel, muitas vezes nós temos a instituição, a escola, mas ela não cumpre seu papel de integração e se ela não cumpre esse papel de integração das pessoas na sociedade, certamente no futuro nós vamos colher os frutos negativos dessa ausência de integração, consequentemente a violência e tudo aquilo que a gente vê.

Uma coisa não está desligada da outra, a ausência de não fazer a integração das pessoas na sociedade, não levar a uma consciência, política clara dos acontecimentos muito ruins para o país, no presente e no futuro. Nós sabemos que aqueles países que se desenvolveram foram aqueles países que realmente investiram na educação, mas não só a escola, realmente uma forma de educação regra as pessoas dentro de uma sociedade.

 

A falta de educação gera uma intolerância generalizada né?

Claro, a ausência de uma educação não é só aprender a ler e escrever, mas de como esse cidadão tem uma consciência social, uma consciência política, como que ele se comporta na sociedade, como ele respeita o outro, as diferenças, então tudo isso faz parte de uma educação mais profunda. Educar não é só colocar na escola, mas é também dar condições pra que a pessoa desenvolva suas habilidades e junto com isso nós estamos trabalhando também o tema da iniciação cristã que é educação na fé, então hoje nós os bispos e acho que a Igreja como um todo, como levar as pessoas, os nossos católicos, os nossos cristãos, a uma iniciação na fé que gere um compromisso transformador, não é só dar a catequese, não é só ensinar algumas coisas.

O Papa Bento XVI quando esteve em Aparecida ele recordava, que não começa a se seguir Jesus Cristo porque se conhece uma doutrina mas porque se conhece uma pessoa, então fundamentalmente, a iniciação cristã, é a apresentação da pessoa de Jesus Cristo, para que realmente cada pessoa possa fazer a sua opção pessoal diante da verdade da fé. E esse é o trabalho que nós estamos fazendo e hoje teremos a votação do texto final e possivelmente posterior complicação.

 

Será que nós Igreja, estamos falando a linguagem do povo? O retiro do Dom Bernardo [Bernardo Bonowitz, abade do Mosteiro Trapista do Paraná] destacou algo nesse sentido?

Dom Bernardo fez uma pregação sobre Nossa Senhora, partindo de uma coisa muito profunda da própria experiência dele, ele não veio falar de uma doutrina de Nossa Senhora mas ele falou do encontro pessoal dele com Nossa Senhora e uma coisa que ele destacou bastante foi que não é possível entrar na vida cristã sem essa dimensão do contato, do conhecimento com Maria, justamente porque ela é aquela que nos apresenta o Salvador, Jesus Cristo.

Então essa forma de falar foi uma forma muito bonita mas ao mesmo tempo uma forma muito catequética, muito prática, não é simplesmente uma devoção, mas saber porque essa devoção a Maria faz a diferença no nosso conhecimento da fé. Ele foi muito feliz nas suas colocações, foram quatro colocações entre sábado e domingo pela manhã e nós sentimos isso, um apelo realmente a essa fé mariana que nos coloca dentro da realidade, recordando que aqui em Aparecida há 10 anos aconteceu a Conferência dos Bispos, com o Papa Bento e o Cardeal Bergolio também estava presente porque participava das sessões como secretário.

Então o Papa Bento e o Francisco também estiveram aqui como cardeal, e é uma coisa interessante porque se a gente faz a cobertura do documento Evangelli Gaudium a gente vê claramente os traços da Conferência de Aparecida, então para nós católicos é sempre importante essa referência mariana e perceber como Maria nos ajuda a iluminar e esclarecer a nossa fé.

 

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