NACIONAL

55ª Assembleia Geral da CNBB

Dom Alfredo Schaffler detalha o projeto Comunhão e Partilha

Por Nayá Fernandes/Larissa Freitas
04 de mai de 2017

Iniciativa consiste em levantar fundos para ajudar as dioceses que têm mais dificuldades econômicas, sobretudo para formação dos seminaristas. “Eu aprendi uma coisa: mãos abertas nunca são mãos vazias", afirmou o Bispo em encontro com jornalistas

O 5º Meeting Point (Ponto de Encontro) com jornalistas na quarta-feira, 3, recebeu Dom Alfredo Schaffler, bispo emérito da Diocese de Parnaíba (PI) e idealizador do projeto “Comunhão e Partilha”, para explicar como funcionará a iniciativa.

“Em 2012, quando estávamos celebrando 50 anos do Concilio Vaticano II - lembrando que, em um dos documentos, na Lumen Gentium, número 23, fala-se da solidariedade entre os Bispos; e no tempo Pascal sempre estamos recordando dos atos dos Apóstolos – do trecho em que se diz que não havia necessitados entres eles – começamos a elaborar este projeto”, comentou Dom Schaffler .

Ele explicou que o projeto consiste em levantar fundos para ajudar as dioceses que têm mais dificuldades econômicas, sobretudo para formação dos seminaristas. “Temos dioceses que vivem em situações econômicas muito precárias. Como nós temos diferenças enormes no Brasil, econômicas e sociais, isso também repercute nas dioceses. E quando nós fomos chamados para missão como bispos, nenhum de nós escolheu o lugar para onde ir, foi o Papa que nos enviou. Então, não é justo que nenhum de nós vá para dioceses onde não há o mínimo para manutenção; e, sobretudo, para formação dos futuros padres.”

Dom Schaffler  contou, durante o Meeting Point, algumas situações que viu. “Encontrei, por exemplo, uma diocese onde por sete anos o bispo não recebia mais nenhum seminarista porque não tinha dinheiro para custear os estudos. Encontrei dioceses cuja receita ordinária mensal não passava de R$ 5 mil para manter uma pequena infraestrutura, para manter os seminaristas. Então, como vou me sentar ao lado de um colega, aqui em uma Assembleia, que não tem o mínimo e fica perdendo até horas de sono para saber como no fim do mês vai cobrir a folha de pagamento e botar comida na mesa dos seminaristas?”, disse ele.

“A partir disso, começamos a conversar, a situação foi colocada em votação e aprovada com unanimidade: cada diocese, pequena ou grande, da sua receita ordinária vai tirar 1% mensalmente, e depositar em um fundo da CNBB, que abrimos para essa finalidade. Isso aconteceu na Assembleia em 2012. A partir do mês de julho o projeto teria início na prática. O Santuário de Aparecida, com a Campanha dos Devotos, foi o primeiro a depositar o valor estipulado. Começaram a partir do mês de maio. E, de fato, as dioceses todas aderiram e conseguimos criar o fundo. Em novembro de 2012, começamos a beneficiar os primeiros 110/112 seminaristas provenientes de 36 dioceses. A coisa se desenvolveu tanto, que terminamos o ano passado conseguindo, com esse fundo, beneficiar 50 dioceses num total de 403 seminaristas, com ajuda para custeio da formação. Muitos destes seminaristas já foram ordenados padres”, contou Dom Schaffler.

Não havia necessitados entre eles

“Eu digo a vocês que me escutam, que olham agora para gente, que eu aprendi uma coisa: mãos abertas nunca são mãos vazias. Fomos capazes de ser sinal, como aconteceu no relato dos Atos dos Apóstolos – não havia necessitados entre eles – também é possível praticar nos dias de hoje. Se nós olharmos o irmão, não como um concorrente, mas como um irmão no qual aparece o rosto de Jesus Cristo, que nos fala: ‘tudo que fizerem ao menor dos irmãos é a mim que estão fazendo’, somos capazes de fazer grandes gestos por meio de pequenas ações. Somos capazes de suscitar a esperança, de dar testemunho da Palavra de Deus, de lançar um sinal de esperança para esse mundo que esta aí”, declarou o Bispo.

Desafio para a Amazônia

“Faço até um desafio, mas não sou mais eu que vou engatar. Nós temos neste Brasil mais de 10 mil paróquias. Se cada paróquia, da sua receita ordinária desse 1% para um fundo, para nos ajudar na missão no Amazonas, não seria fantástico? Nós não poderíamos ajudar esses nossos irmãos padres que não têm nem casa, que moram em uma barraca dentro de embarcação para visitar as comunidades ribeirinhas. E o gesto, será que não ia falar muito alto? Porque falamos da missão, mas missão passa pelo bolso e esse seria um gesto concreto. Porque nenhuma paróquia iria deixar de pagar água, luz, a conta do padre, os funcionários, o transporte seguro, etc. 1% não mata ninguém. Eu acho que nenhuma diocese deixou de cumprir as suas obrigações porque tirou 1% para essa comunhão e partilha”, disse Dom Schaffler.

O Bispo explicou que a maior despesa do bispo na sua diocese, geralmente, é com a formação de seminaristas. “São jovens de boa vontade, que vêm de famílias que, às vezes, não podem contribuir muito. O estudo hoje demora no mínimo, oito, nove anos; com Propedêutico, Filosofia e Teologia. É um investimento que a diocese tem que fazer. E nem sempre a diocese, com os recursos próprios, tem a possibilidade de fazer este investimento”, continuou ele.

Precisamos de mais padres

Por fim, o Bispo Emérito de Parnaíba falou sobre a grande contribuição dos padres para a Igreja e a sociedade. “O padre – para mim, como bispo –, é as mãos e os pés do bispo. O que o bispo faz sem os padres? A Igreja precisa de padres. Nós temos muitos leigos com uma enorme boa vontade, que colaboram, que dão um testemunho belíssimo, mas não podemos construir a Igreja sem aqueles homens que partem o pão da Eucaristia, que em nome de Deus estão perdoando os pecados, que ungem os nossos enfermos. Nós precisamos de muito mais padres. E eu pergunto a vocês: Não é triste, se um jovem quer ser padre e por falta de condições ele não consegue seguir a este chamado de Deus? Eu digo a vocês, nas minhas andanças no interior, no Nordeste do país, já encontrei diversas pessoas, às vezes já avançadas na idade, que diziam: ‘Padre Alfredo, sempre quis ser padre, mas meus pais não tinham condição de pagar os estudos’. Isso dói. Quando a gente vê, por exemplo, nossa Diocese de Parnaíba. Tenho padres lá que tem 80/90 comunidades e agora como bispo emérito estou numa paróquia, como vigário paroquial, o padre tem 45 comunidades. Comunidades com distâncias de mais de cem quilômetros. E estou em uma pequena comunidade na beira mar, uma cidade com 3 mil habitantes, e estou tomando conta de uma meia dúzia de comunidades lá; dando minha contribuição como padre que eu sempre quis ser. Bispo eu não pedi, a gente é chamado, mas estou colaborando nesse sentido. Nós precisamos de mais padres. Por isso, eu apostei e posso dizer: acho que foi dada uma pequena contribuição para que tivéssemos mais padres e que nenhuma diocese precise mandar um jovem, que se sente chamado para esse ministério sacerdotal, de volta.”

(Com informações do A12)

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.