SÃO PAULO

EM CASA

Convivendo com o hóspede indesejado

Por Daniel Gomes e Jenniffer Silva
16 de abril de 2020

Lumara e João Lucas relatam como é o isolamento doméstico de quem tem a COVID-19

Reprodução da Internet

O dia começou com uma tosse seca e persistente. No fim da tarde, indisposição e febre. As dores no corpo e o cansaço vieram na manhã seguinte. Os sintomas fizeram com que Lumara Roque Bernardo, 27, fosse ao médico. Quatro dias depois, a jovem enfermeira teve a confirmação do que temia: estava infectada com o novo coronavírus.

“A recomendação foi o isolamento, inclusive de separar um cômodo apenas para mim, além do uso de máscara, caso precisasse transitar na casa, e a higiene constante das mãos. Também pediram para observar os sintomas e ligar ou procurar serviço médico em caso de piora dos sintomas”, afirmou a moradora da Parada de Taipas, na zona Noroeste da capital paulista.

Do outro lado da cidade, no Capão Redondo, na zona Sul, João Lucas Aguiar, 25, foi diagnosticado com o novo coronavírus três dias após sentir uma forte dor de garganta, seguida de febre alta e falta de ar. O analista de relacionamento procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Campo Limpo, e recebeu as primeiras orientações de como deveria prosseguir com o tratamento médico em casa, incluindo inalação, hidratação constante e o uso de três antibióticos: amoxicilina, oseltamivir e azitromicina.

EM ISOLAMENTO

Lumara, diagnosticada com COVID-19 em 25  de março, conta que permaneceu 14 dias em seu quarto, que é uma suíte. “Meu marido, a única pessoa que mora comigo, ficou em outro quarto. Ele fazia as atividades domésticas, inclusive alimentação, para não correr risco de se contaminar e também porque eu não tinha disposição para nada”, recordou. “Eu mesmo higienizava o meu quarto e banheiro. Minha roupa era lavada separada das roupas do meu marido. Não compartilhamos nada em comum nesse período”, detalhou.

João Lucas mora com a mãe, Elaine Cristina Aguiar. Assim que soube do diagnóstico da doença do filho, em 1o de abril, ela comunicou os moradores do condomínio residencial em que vivem para que fossem tomados os devidos cuidados.

O analista de relacionamento está na fase final de tratamento. “Estou conseguindo manter o isolamento social, mesmo sendo bem doloroso. Acredito que seja para o bem de todos”, disse, completando que ele próprio realiza a higienização do único banheiro da casa.

A FÉ DIANTE DA ANGÚSTIA

“Ser diagnosticada com essa doença não é fácil, ainda mais sendo enfermeira e tendo conhecimento mais profundo dos riscos, mas me apeguei muito a Deus. Minha fé católica me ajudou a enfrentar esse momento, além do apoio da família e amigos”, afirmou Lumara. “Não é só o corpo que sofre, mas a alma e mente também. Eu me senti muito só. Foi Deus quem me manteve esperançosa para vencer esse momento”, assegurou.

A enfermeira falou, ainda, sobre a angústia de ter tido contato com os pais e o esposo dias antes de ser diagnostica com a COVID-19. “Preocupava-me ainda mais em relação aos meus pais, que, apesar de não serem idosos, são mais velhos. Tentei passar confiança para eles,  demais familiares e amigos. Eu sempre dizia ‘estar bem’, mesmo estando muito mal, para que eles não se preocupassem”, relatou.

João Lucas disse ter ficado abalado por ter contraído o novo coronavírus. “Até que nos afete, não levamos muito a sério. Eu tive que sentir na pele para acreditar”, assegurou.

UM NOVO OLHAR PARA A VIDA

Já curada da COVID-19, Lumara garante que tudo ganhou um novo sentido. “Sinto como se a vida tivesse me dado uma segunda chance. Isso me fez repensar o quanto deixei de valorizar as pequenas coisas que realmente importam. E não é só pela doença. Acho que após esse isolamento social, passaremos a dar mais valor às pessoas que amamos e aos momentos juntos”, concluiu.

O ISOLAMENTO DOMÉSTICO COM A COVID-19

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, disponibilizou à Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo orientações para cuidados domésticos das pessoas com COVID-19. Veja alguns cuidados:

- O doente deve ficar em um quarto, longe de outras pessoas, o máximo possível;

- Recomenda-se que use um banheiro separado;

- Deve-se evitar o compartilhamento de itens domésticos pessoais, como pratos, toalhas e roupas de cama;

- Doente, cuidador ou acompanhante devem usar uma cobertura de pano que cubra a boca e o nariz quando estiverem perto uns dos outros;

- O doente deve ser alimentado no quarto, sempre que possível;

- Recomenda-se separar uma lata de lixo forrada para a pessoa doente;

- Que se evite receber visitas desnecessárias.

Acesse a íntegra das orientações

 

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