Convivendo com o hóspede indesejado

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16 de abril de 2020

O dia começou com uma tosse seca e persistente. No fim da tarde, indisposição e febre. As dores no corpo e o cansaço vieram na manhã seguinte. Os sintomas fizeram com que Lumara Roque Bernardo, 27, fosse ao médico. Quatro dias depois, a jovem enfermeira teve a confirmação do que temia: estava infectada com o novo coronavírus.

“A recomendação foi o isolamento, inclusive de separar um cômodo apenas para mim, além do uso de máscara, caso precisasse transitar na casa, e a higiene constante das mãos. Também pediram para observar os sintomas e ligar ou procurar serviço médico em caso de piora dos sintomas”, afirmou a moradora da Parada de Taipas, na zona Noroeste da capital paulista.

Do outro lado da cidade, no Capão Redondo, na zona Sul, João Lucas Aguiar, 25, foi diagnosticado com o novo coronavírus três dias após sentir uma forte dor de garganta, seguida de febre alta e falta de ar. O analista de relacionamento procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Campo Limpo, e recebeu as primeiras orientações de como deveria prosseguir com o tratamento médico em casa, incluindo inalação, hidratação constante e o uso de três antibióticos: amoxicilina, oseltamivir e azitromicina.

EM ISOLAMENTO

Lumara, diagnosticada com COVID-19 em 25  de março, conta que permaneceu 14 dias em seu quarto, que é uma suíte. “Meu marido, a única pessoa que mora comigo, ficou em outro quarto. Ele fazia as atividades domésticas, inclusive alimentação, para não correr risco de se contaminar e também porque eu não tinha disposição para nada”, recordou. “Eu mesmo higienizava o meu quarto e banheiro. Minha roupa era lavada separada das roupas do meu marido. Não compartilhamos nada em comum nesse período”, detalhou.

João Lucas mora com a mãe, Elaine Cristina Aguiar. Assim que soube do diagnóstico da doença do filho, em 1o de abril, ela comunicou os moradores do condomínio residencial em que vivem para que fossem tomados os devidos cuidados.

O analista de relacionamento está na fase final de tratamento. “Estou conseguindo manter o isolamento social, mesmo sendo bem doloroso. Acredito que seja para o bem de todos”, disse, completando que ele próprio realiza a higienização do único banheiro da casa.

A FÉ DIANTE DA ANGÚSTIA

“Ser diagnosticada com essa doença não é fácil, ainda mais sendo enfermeira e tendo conhecimento mais profundo dos riscos, mas me apeguei muito a Deus. Minha fé católica me ajudou a enfrentar esse momento, além do apoio da família e amigos”, afirmou Lumara. “Não é só o corpo que sofre, mas a alma e mente também. Eu me senti muito só. Foi Deus quem me manteve esperançosa para vencer esse momento”, assegurou.

A enfermeira falou, ainda, sobre a angústia de ter tido contato com os pais e o esposo dias antes de ser diagnostica com a COVID-19. “Preocupava-me ainda mais em relação aos meus pais, que, apesar de não serem idosos, são mais velhos. Tentei passar confiança para eles,  demais familiares e amigos. Eu sempre dizia ‘estar bem’, mesmo estando muito mal, para que eles não se preocupassem”, relatou.

João Lucas disse ter ficado abalado por ter contraído o novo coronavírus. “Até que nos afete, não levamos muito a sério. Eu tive que sentir na pele para acreditar”, assegurou.

UM NOVO OLHAR PARA A VIDA

Já curada da COVID-19, Lumara garante que tudo ganhou um novo sentido. “Sinto como se a vida tivesse me dado uma segunda chance. Isso me fez repensar o quanto deixei de valorizar as pequenas coisas que realmente importam. E não é só pela doença. Acho que após esse isolamento social, passaremos a dar mais valor às pessoas que amamos e aos momentos juntos”, concluiu.

O ISOLAMENTO DOMÉSTICO COM A COVID-19

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, disponibilizou à Pastoral da Saúde da Arquidiocese de São Paulo orientações para cuidados domésticos das pessoas com COVID-19. Veja alguns cuidados:

- O doente deve ficar em um quarto, longe de outras pessoas, o máximo possível;

- Recomenda-se que use um banheiro separado;

- Deve-se evitar o compartilhamento de itens domésticos pessoais, como pratos, toalhas e roupas de cama;

- Doente, cuidador ou acompanhante devem usar uma cobertura de pano que cubra a boca e o nariz quando estiverem perto uns dos outros;

- O doente deve ser alimentado no quarto, sempre que possível;

- Recomenda-se separar uma lata de lixo forrada para a pessoa doente;

- Que se evite receber visitas desnecessárias.

Acesse a íntegra das orientações

 

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Como deve ser o isolamento domiciliar em casos confirmados ou suspeitos da doença?

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26 de março de 2020

O número de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus cresce dia a dia em todo mundo. Os profissionais de saúde recomendam a internação no ambiente hospitalar apenas para casos graves da doença. Os demais pacientes devem seguir com o tratamento em isolamento domiciliar, condição que requer prevenções para que outros moradores da mesma residência não desenvolvam a COVID-19.

Para proteger o restante da família, é preciso que os moradores estejam atentos a cuidados específicos:

ESCOLHA UM AMBIENTE ESPECÍFICO

O Ministério da Saúde e secretarias de saúde estaduais recomendam que a pessoa com a doença permaneça longe dos demais moradores em uma distância mínima de um metro e que ela não frequente muitos ambientes da casa, afim de conter a circulação do vírus nos cômodos.

A pessoa infectada deve se manter isolada em um quarto individual com as janelas abertas deixando o ambiente arejado, mas a porta deve ficar fechada. Em casas com apenas um dormitório, os demais moradores devem dormir na sala.

E, quando possível, a pasta recomenda que o banheiro também seja utilizado individualmente, devendo ser higienizado pela própria pessoa infectada.

SEPARE OS OBJETOS

O lixo produzido pelo paciente deve ser separado e descartado. Itens como pratos, talheres, copos e toalhas devem ser de uso exclusivo da pessoa em tratamento. Sofás e cadeiras também não devem ser compartilhados.

REFORCE A HIGIENE

As roupas e louças podem ser lavadas como de costume, tomando os cuidados necessários e não esquecendo de lavar as mãos por cerca de 20 segundos.

Os móveis e superfícies da casa precisam ser limpos constantemente com água sanitária ou álcool fator 70%.

COMO A PESSOA CONTAMINADA DEVE AGIR?

Utilize máscara cirúrgica cobrindo boca e nariz ao longo do dia a dia, trocando-a a cada duas horas, sobretudo, em caso de contato com outros membros da casa, ou se for preciso cozinhar.

Após usar o banheiro, lave a mãos com água a sabão. Faça a higienização do vaso sanitário, pia e outras superfícies com água sanitária ou álcool fator 70%.

TODOS OS MORADORES

Em caso de diagnóstico positivo para a doença, todos os que residem na casa devem permanecer em isolamento por 14 dias.

Se um outro morador apresentar sintomas leves da doença, o isolamento deve ser reiniciado e mantido pelo mesmo período. Procure uma unidade de saúde em caso de piora do quadro.

ATENÇÃO

Neste período de quarentena, busque por informações confiáveis e guias de prevenção desenvolvidos por autoridade de saúde oficiais como:

Ministério da Saúde

Secretária de Saúde do Estado de São Paulo

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Fontes: Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará

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