Com baixo custo, ventiladores pulmonares mecânicos podem salvar vidas
Projetos articulados por universidades e pesquisadores independentes aguardam validação da Anvisa
Comitê Covidamaker |
Ao acompanhar o aumento do número de pessoas contagiadas com o novo coronavírus no Brasil e as notícias do colapso dos sistemas de saúde em países que já vivenciam o pico da COVID-19, o engenheiro físico e matemático Roberto Ueno, professor da Universidade São Judas, uniu esforços com outros desenvolvedores de soluções criativas – makers, como também são conhecidos – para elaborar um protótipo de ventilador pulmonar mecânico.
Assim se formaram pelo Brasil mais de 30 comitês Covidamaker, para o desenvolvimento do protótipo, que leva cerca de três horas para ser montado em laboratório. Ueno integra um desses grupos, composto por 14 pessoas. O valor estimado de cada unidade do protótipo é de R$ 2 mil, bem menor que os R$ 15 mil dos modelos mais baratos vendidos atualmente.
Praticidade
O ventilador pulmonar mecânico não é ligado à rede de tubulação de oxigênio dos hospitais, como acontece com os ventiladores pneumáticos. “O ventilador mecânico é mais prático, portátil, podendo ser levado para qualquer lugar”, detalhou Ueno ao O SÃO PAULO.
O engenheiro afirmou que em escala industrial podem ser produzidas até mil unidades ao dia, o que ajudaria a suprir a demanda por ventiladores pulmonares, que tende a crescer nas próximas semanas.
Em busca da chancela da Anvisa
O protótipo desenvolvido pelo grupo de Ueno já foi validado por equipes médicas da cidade de Uberlândia (MG), da Universidade Federal do ABC e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Essas equipes fizeram testes simulando um ambiente pulmonar com a COVID-19, em que o pulmão vai tendo uma complacência, vai ficando rígido, e observaram que o aparelho se mantém sem apresentar problemas de quebra ou de parada”, detalhou Ueno.
O engenheiro tem buscado que outras equipes médicas, incluindo a de grandes hospitais particulares, façam essa simulação mecânica para validar o protótipo. A meta é que em posse desses indicadores, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Ministério da Saúde, dê a chancela para que o produto possa ser produzido nas indústrias.
Foco é salvar vidas
Esse protótipo, assim como outros que estão sendo elaborados por universidades e pesquisadores independentes, tem patente aberta, ou seja, quem o desenvolve não obtém lucro. Além disso, qualquer interessado pode acessar o passo a passo para fabricá-lo.
“O nosso foco é apenas o de ajudar as pessoas”, assegura Ueno, destacando, ainda, que o Governo Federal tem encontrado dificuldades para importar ventiladores pulmonares em decorrência da alta procura pelo produto em todo o mundo. Assim, os ventiladores pulmonares mecânicos produzidos no Brasil seriam uma alternativa.
VEJA O VÍDEO DO PROTÓTIPO DO VENTILADOR PULMONAR MECÂNICO
USP também desenvolve item de baixo custo
Pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) também estão desenvolvendo um ventilador pulmonar mecânico de baixo custo, o Inspire, fabricado com componentes disponíveis no mercado brasileiro.
Segundo o professor Raul González Lima, especialista em Engenharia Biomédica e um dos coordenadores do projeto, a atual cadeia nacional de produção de ventiladores pulmonares poderá não ser suficiente para atender o aumento da demanda pelo produto.
“Esses equipamentos [hoje comercializados] dependem de muitos componentes importados, e nem todos estão em estoque na quantidade necessária. Os componentes podem não chegar a tempo para fazer essa produção”, afirmou Lima em entrevista à Agência Brasil.
Cada unidade do Inspire tem custo estimado de R$ 1 mil. Os idealizadores do projeto também estão em diálogo com o Governo Federal para viabilizar a produção em escala industrial.
Fábricas se mobilizam para consertos
Em uma iniciativa coordenada pelo Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), profissionais de montadoras e fabricantes de automóveis estão consertando, voluntariamente, ventiladores pulmonares que estão danificados ou parados há algum tempo.
Estima-se que até 5 mil ventiladores possam ser consertados em fábricas da General Motors (GM), FCA Fiat Chrysler, Ford, Honda, Jaguar Land Rover, Renault, Scania e Toyota. A iniciativa também têm o apoio do grupo ArcelorMittal e da Vale.
(Com informações de Agência Brasil e Revista Exame)