SÃO PAULO

A relação entre criança e tecnologia

A criança e a tecnologia

Por Simone Ribeiro Cabral Fuzaro
15 de mai de 2017

Como educar a relação entre as crianças e as tecnologias dos dias atuais?

Nos últimos 25 anos, presenciamos grandes mudanças do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico. Da simples televisão e de aparelho de telefone, partimos rapidamente para celulares, computadores, tablets, transmissões digitais, internet rápida e de fácil acesso. Hoje, podemos dizer que temos “o mundo na palma das mãos”.

Se para a muitos de nós essas mudanças foram inovações sucessivas, para os pequenos que estão na primeira infância, não. Assim é o mundo deles: recheado de estímulos eletrônicos dos mais diversos tipos, tamanhos e possibilidades.

Apesar de ser uma realidade, não devemos simplesmente naturalizá-la. É importante que esses estímulos sejam estudados e analisados, e que sejam compreendidos seus efeitos no desenvolvimento infantil. Hoje já podemos observar empiricamente alguns desses efeitos, tanto no cotidiano dos que convivem profissionalmente com crianças como em alguns  estudos desenvolvidos por centros de pesquisa.

Infelizmente, o que se observa é que os efeitos do uso da tecnologia por crianças pequenas podem ser desastrosos. É comum encontrarmos crianças de 2 anos que mexem com propriedade em aparelhos celulares e tablets, sabendo como acessar vídeos e jogos, mas que apresentam significativos atrasos cognitivos, por exemplo, na aquisição da linguagem: não expressam oralmente suas necessidades ou vontades, não contam pequenos fatos, não conseguem se concentrar para ouvir histórias curtas etc. Outro importante dado observado é o aumento vertiginoso de crianças “hiperativas” - não param nem mesmo por poucos minutos. Alguns estudos apontam para um dado assustador: crianças muito expostas à tecnologia antes dos 4 anos de idade, acumulam aos 11 anos um déficit de três anos em seu desenvolvimento! E por que tudo isso? Certamente, há uma série de fatores que concorrem para esse fenômeno:

1. A aprendizagem da criança, para que se dê com qualidade, requer necessariamente um vínculo humano. Embora os jogos, vídeos e outros recursos tecnológicos sejam vendidos como estímulos apropriados para a aprendizagem dos pequenos, essa “aprendizagem” é falha; a criança requer vínculo, narrativa, significação para que tal processo seja qualitativamente adequado.

2. Os jogos eletrônicos são recheados de estímulos extrínsecos e imediatos - o que vai habituando os pequenos à não esperar; a terem sempre uma recompensa; a não se interessarem por aquilo que exija mais tempo ou empenho.

3. Os objetos eletrônicos encantam os pequenos de tal modo que se tornam mediadores para que os adultos consigam alimentá-los, trocar sua roupa, dar remédios etc. Com isso, não choram; porém, não estão atentos à atividade principal, não aprendem que se trata de algo importante independentemente da vontade momentânea e se tornam “passivos” e não autores das situações vividas.

Enxergar esses efeitos é uma questão de saúde física e mental. Pode, então, surgir aos pais uma dúvida legítima: se o uso de eletrônicos traz danos aos pequenos, como fazer para que estejam “por dentro” daquilo que é próprio dessa geração, a tecnologia? Aqui uma dica importante dada pelo psiquiatra Dr. Ítalo Marsili, em palestra no Congresso do Instituto Brasileiro da Família: existem coisas que são essenciais e outras transitórias. Assim como há 25 anos não havia aparelho celular com internet, o que haverá daqui há 25 anos? Portanto, os instrumentos tecnológicos são passageiros. Precisamos investir na formação humana, no vínculo, na transmissão de valores - isso é o essencial, e determinará como nossas crianças se relacionarão com os diferentes instrumentos que surgirem a cada época.

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