Cultura do encontro no ambiente digital

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22 de abril de 2020

Há um mês, os católicos de muitas cidades estão impossibilitados de participar das missas e atividades religiosas nas igrejas, devido às medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia de COVID-19.

Essa quarentena, contudo, não tem sido impedimento para que as paróquias, pastorais, movimentos, novas comunidades e outras organizações eclesiais continuem sua ação evangelizadora. Além da transmissão das celebrações eucarísticas pelas plataformas digitais, aos poucos esses grupos estão se adaptando às novas tecnologias para realizar seus encontros e atividades.

No ambiente digital, crescem as reuniões, grupos de oração, partilhas, encontros de formação e catequese por meio de videochamadas. Para muitos padres e agentes de pastoral, porém, essas novas tecnologias são desconhecidas.

São várias as plataformas digitais que possibilitam videochamadas em grupo. O SÃO PAULO apresenta, a seguir, as mais conhecidas delas e algumas dicas para bem usá-las.

Hangouts Meet

O Hangouts Meet é a ferramenta de videoconferências do Google voltada para profissionais. Um de seus principais benefícios é a possibilidade de criar uma sala virtual facilmente e gerar link de convite que pode ser enviado por mensagem. Convidados podem entrar na reunião on-line pelo navegador ou pelo app para Android e iPhone (iOS) sem precisar de uma assinatura.

Na versão básica, é possível realizar reuniões virtuais com até 100 participantes, enquanto a mais avançada oferece conferências em vídeo com até 250 pessoas e outras 100 mil com apenas visualização. A modalidade superior estará liberada até 1º de julho de 2020, sem custo adicional, devido à pandemia de COVID-19.

Skype

O Skype é um dos serviços de chamada de voz e vídeo mais populares na internet e está disponível para celulares, tablets, TVs e consoles de jogos. A versão gratuita suporta até 20 usuários, enquanto a versão paga, o Skype for Business, permite conversar com até 250 pessoas em uma mesma chamada.

No modo de chat (bate-papo), o Skype oferece algumas funções comuns em outros aplicativos de mensagens, como compartilhamento de texto, imagens, emojis e arquivos de até 300 MB cada, que ficam disponíveis para acesso em todos os dispositivos por até 30 dias. Outras funções incluem o envio de contatos e recados de vídeo e criação de votação diretamente na conversa, seja em bate-papo privado, seja em grupo.

Microsoft Teams

Já a Microsoft liberou o uso gratuito por seis meses do Microsoft Teams, serviço corporativo premium de mensagens, e aumentou o limite de usuários. Como funcionalidade, é possível gravar e salvar as chamadas realizadas.

A versão gratuita permite criar conversas ilimitadas com equipes de até 300 pessoas, além de guardar 10 GB de arquivos por grupo e mais 2 GB por usuário.

O Teams conta com Word, PowerPoint, Excel e Skype integrados. É possível, ainda, conectar outros 140 apps externos, como Evernote e Trello, para adicionar recursos gratuitamente.Zoom Meetings

Zoom Meetings

Com foco corporativo, o Zoom Meetings é uma ferramenta de videoconferência que possibilita fazer reuniões por vídeo entre duas pessoas ou com 500 participantes, além de webinars (um seminário on-line em vídeo, gravado ao vivo, que geralmente permite a interação da audiência via bate-papo), com até 10 mil pessoas.

Também é possível compartilhar arquivos, textos e apresentações pelo bate-papo. A versão básica é gratuita, e pode ser acessada em computadores com Windows, macOS e Linux, além de smartphones Android ou iPhone.

ezTalks

A ezTalks é uma plataforma projetada para videoconferências corporativas e webinars. Na modalidade gratuita, é possível reunir até 100 participantes em encontros com duração máxima de 45 minutos.

Com suporte a chats privados e coletivos, compartilhamento de tela, anotações e enquetes em tempo real, o serviço requer o download de um software. Embora seja possível agendar e gerenciar reuniões no navegador, o programa é indispensável para a realização das videoconferências.

Houseparty

O Houseparty é um aplicativo de videochamadas para Android, Mac (macOS), iPhone e iPad (iOS) que vem se popularizando nos últimos meses nos Estados Unidos – é o 11º mais baixado para macOS e o 9º entre as redes sociais para iPhone.

O programa não permite compartilhar fotos ou documentos, colocando o foco apenas no vídeo ao vivo. Quem cria a sala de conversa pode deixar livre para amigos participarem ou ter o controle de quem tem permissão para entrar.

Google Duo

O Google Duo é outro aplicativo de videochamadas da empresa norte-americana de internet. Disponível para dispositivos com Android e iOS, a ferramenta gratuita permite chamadas simultâneas entre usuários dos dois sistemas.

O sistema dispensa até mesmo ter uma conta do Google. O usuário só precisa adicionar o número de telefone e, para fazer a verificação, inserir o código enviado por SMS. Com o mesmo número, é possível acessar o aplicativo em múltiplos dispositivos. O app importa a lista de contatos do celular e, se preciso, um número pode ser bloqueado e impedido de fazer chamadas.

WhatsApp

É possível fazer uma chamada de voz ou de vídeo em grupo também pelo WhatsApp, uma das ferramentas de mensagens mais populares do mundo. No entanto, esse recurso é limitado a até quatro pessoas por chamada, mas já está sendo disponibilizada para alguns usuários a possibilidade de fazer chamadas com até oito pessoas. Por isso, na pastoral, a ferramenta pode ser utilizada, por exemplo, para o atendimento de noivos.

Para fazer uma chamada de vídeo ou voz em grupo, é necessário ligar para uma pessoa e depois chamar as outras duas para participar. Abra a conversa com um dos contatos com quem deseja fazer a chamada; toque no botão de Chamada de vídeo (câmera) ou de voz (telefone); depois que o primeiro contato aceitar, toque em “Adicionar participante” (trata-se de um botão similar ao de adicionar amigos nas redes sociais); faça uma busca pelo nome do contato que deseja adicionar na lista; toque em “Adicionar”.

DICAS PARA USAR BEM

Uma vez apresentadas as várias ferramentas para se conectar com as pessoas, é preciso ficar atento a algumas dicas importantes para que a reunião ocorra bem:

  • Em primeiro lugar, certifique-se de que você e os convidados têm conexão estável ao receber ou fazer chamadas de voz e vídeo em grupo. Caso contrário, nem todos conseguirão acompanhar a conversa no app. O ideal é estar conectado a uma rede wi-fi, pois as chamadas de vídeo consomem muitos dados móveis. 
     
  • Antes de ingressar em qualquer reunião, faça um check-up para ver se câmera, microfone, áudio e conexão com a internet estão funcionando bem. Caso algo esteja errado e não dê tempo de consertar, avise os participantes da reunião sobre o imprevisto e, em caso de atraso, com o máximo de antecedência possível. Caso a sua conexão esteja instável, medidas como continuar a reunião sem o uso da câmera podem ajudar.  
     
  • Sempre é bom recordar que o bom senso na apresentação pessoal é importante. Use as roupas que normalmente vestiria no dia a dia para participar de uma atividade da Igreja. Sem exageros para mais ou para menos. Não convém, por exemplo, ficar com a calça do pijama, mesmo que a câmera só filme metade do seu corpo. Imprevistos acontecem.
     
  • Saiba escolher o local. Procure ambientes com fundo neutro, para evitar expor sua privacidade ou criar distrações para quem está na reunião. O local deve ser  silencioso. E lembre-se de checar a iluminação.
     
  • Tenha foco na reunião. A internet é um chamariz para resolver muitas coisas ao mesmo tempo. Nada de ir no site do banco para pagar uma conta durante a reunião, ou enviar aquele e-mail pessoal. A falta de atenção pode levar a gafes, como fazer perguntas repetidas e pedir informações já fornecidas. Essa dica é mais importante ainda se for o caso de um momento de oração.
     
  • Fique atento à linguagem corporal. Lembre-se de olhar sempre para a câmera ao falar e ouvir. Sente-se com a postura ereta e evite comportamentos como se balançar na cadeira, roer as unhas e limpar o nariz ou os ouvidos.
     
  • Evite interrupções. Se quiser se posicionar, levante a mão olhando para a câmera antes de falar algo. Reuniões com várias pessoas podem ficar confusas se todos decidirem opinar ao mesmo tempo. Neste momento, quem media o encontro deve organizar bem essa participação, decidindo a ordem e como cada um pode se manifestar.

(Com informações de TechTudo e O Globo)

 

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Rede Século 21 comemora 20 anos de evangelização pela TV

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19 de julho de 2019


“Se Jesus vivesse hoje na terra, como viveu há 2 mil anos na Galileia, ele estaria na televisão?” Foi esse questionamento interior no coração de um missionário jesuíta que o motivou, há duas décadas, a iniciar um projeto ousado que hoje alcança todo o Brasil: a Rede Século 21. 
A emissora de inspiração católica chega aos 20 anos, levando informação, formação, educação e, sobretudo, evangelização por meio da televisão, cada vez mais integrada às novas tecnologias. A Rede Século 21 está presente em 12 estados e mais de 166 municípios, entregando conteúdo por meio de antenas parabólicas, sinal aberto e TVs por assinatura. 

SONHO DE UM MISSIONÁRIO
O idealizador desse projeto é o jesuíta norte-americano Padre Eduardo Dougherty, um dos precursores da Renovação Carismática Católica. “Logo após a ordenação sacerdotal, há 49 anos, comecei a pregar os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e também retiros carismáticos e, depois de alguns anos, veio a luz que, para a maior glória de Deus, seria bom usar os meios de comunicação. Deus me inspirou para fundar uma produtora e essa produtora passou a ser um canal de televisão e agora nós temos uma rede de TV”, relatou o Sacerdote ao O SÃO PAULO. 
Após conseguir a autorização de seus superiores, Padre Eduardo foi aos Estados Unidos visitar emissoras e produtoras de TV católicas em busca de sugestões técnicas e de levantamento de fundos para financiar a iniciativa. De volta ao Brasil, o Sacerdote partiu em busca de pessoas para ajudá-lo no projeto. Assim nasceu a Associação do Senhor Jesus (ASJ), em 1981. 
“Começamos a vender Bíblias e, com o lucro, organizei o livro de cânticos da Renovação Carismática; depois começamos a pedir amigos doadores, pessoas que concordavam com  a visão, a missão e as nossas ações, e conseguimos um grande grupo de doadores e colaboradores.”
Há 30 anos na ASJ, Horácio Manuel Caballero Baez, diretor de Operações da Rede Século 21, testemunhou o desenvolvimento do projeto de comunicação. “Trabalhei bastante na área técnica e tive a graça de ligar o aparelho de transmissão da TV”, contou. 

PIONEIRA
A produtora que deu origem à emissora foi a responsável pelo primeiro programa católico da TV brasileira, o “Anunciamos Jesus”, que estreou em 4 de julho de 1983. O programa foi transmitido por várias emissoras até a criação da TV Século 21, quando passou a integrar sua grade de programação. 
Um dos maiores destaques da programação é a “Novena Perpétua das Mãos Ensanguentadas de Jesus”, que atinge milhões de pessoas por meio da oração. Programas como “Você Pode Ser Feliz”, “Mulher.com”, “Caminhos da Fé”, “Noite Carismática”, “Madrugada de Bênçãos”, entre outros, conquistaram o público ao oferecer espiritualidade aliada ao entretenimento.
 “Nosso desejo é gravar conteúdo que seja duradouro e que possa viajar uma longa distância. Estamos então gravando como que enciclopédias e não jornais que são jogados fora; nós queremos uma alta qualidade de tecnologia, mas também de conteúdo, com os melhores talentos possíveis”, enfatizou o Fundador, ao falar sobre a preocupação com a qualidade do conteúdo veiculado.  
Na busca por bons conteúdos, no sábado, 20, estreará o programa “Na Verdade”. Apresentado por uma juíza, uma especialista em Bioética e uma especialista em ajudar mulheres com “gravidez em crise”, este programa vai procurar entender os desafios do mundo de hoje à luz do Evangelho e da doutrina da Igreja Católica.

TECNOLOGIA
Hoje a Rede Século 21 conta com cinco estúdios para produção de programas ao vivo, gravados, educação a distância, shows e dramaturgia. Uma rede de telecomunicação católica com 24 horas de programação diária. Por meio das retransmissoras e dois sinais via satélite, analógico e digital, mais de 25 milhões de lares em todo o território nacional recebem a programação. 
 “Na cidade de São Paulo e na Grande São Paulo, nós não temos sinal aberto terrestre, mas é possível assistir pelas parabólicas analógica e digital e pela Vivo Fibra no canal 511. Além disso, nós temos nosso sinal de televisão na internet para qualquer região do planeta, por meio do site www.rs21.com.br, ou ainda pelo aplicativo para IOS ou Android”, explicou o diretor-geral da Fundação Século 21. 

ERA DIGITAL
No tempo da cultura digital e da convergência de mídias, a Rede Século 21 chega aos 20 anos cada vez mais conectada com o público. Por meio de redes sociais como Facebook e Instagram, é possível acompanhar a programação da emissora com fotos, vídeos, enquetes e transmissões ao vivo de alguns programas e dos bastidores da TV e dos eventos.
No WhatsApp, as pessoas podem interagir com os programas, enviando mensagens de texto, áudio ou vídeo. O conteúdo é selecionado e exibido na TV, ou mesmo nas redes sociais. “O objetivo é aproximar as pessoas da programação da TV e fazer parte dessa realidade digital de hoje, pois elas estão cada vez mais conectadas aos seus smartphones enquanto assistem à TV – ou mesmo assistem à TV em seus smartphones e tablets”, explicou Fabiano Fachini, coordenador de Mídias Digitais da emissora.
O YouTube também é um canal de evangelização usado pela emissora. “No momento, disponibilizamos os programas da TV e produzimos conteúdos exclusivos como orações, novenas e dramaturgias. São mais de 800 mil inscritos no canal. A produção de conteúdo gravado e ao vivo no YouTube tende a aumentar a cada dia. Queremos entregar conteúdo de valor por intermédio de nossas produções digitais”, informou Fabiano.

NA PALMA DA MÃO
Por meio do Aplicativo “Rede Século 21 ao vivo”, disponível para todos os smartphones e tablets (Android e IOS), a programação da emissora está na palma da mão de milhares de pessoas. Além de assistir à TV, os usuários podem navegar por outros recursos, como notícias, redes sociais, pedir oração e conferir a programação da emissora. 
“O Padre Eduardo nos inspira e motiva a investirmos em novas tecnologias todos os dias, e motiva a presença digital para levar informação, formação, educação e evangelização. Estamos sempre inovando e adaptando a linguagem da emissora para as diferentes mídias digitais, mas sempre valorizando o conteúdo e a boa experiência do usuário”, completou o coordenador de Mídias. 
 

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Pensando o futuro do trabalho

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05 de junho de 2019

O desemprego já é realidade para 13,4 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE divulgados em abril. O cenário, porém, é ainda mais preocupante, uma vez que diferentes projeções indicam que, até 2030, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo perderão seus postos de trabalho em decorrência da automação, robotização, inteligência artificial e adoção de outras tecnologias que tornarão o processo produtivo mais eficaz. Em contrapartida, profissões serão criadas e demandarão novas competências técnicas, sem renunciar às características próprias do ser humano, como a criatividade.

Discutir como as empresas, em especial as conduzidas por empresários cristãos, e as universidades católicas se posicionam diante desse cenário foi o propósito central do seminário internacional “Futuro do Trabalho”, realizado no dia 17, em São Paulo, pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE), União Cristã Internacional de Executivos de Negócios (Uniapac), Federação Internacional de Universidades Católicas (IFCU), Associação Nacional de Educação Católica (Anec) e o Centro Universitário FEI.

Repensar modelos educativos Universidades adotam novas metodologias de ensino para que estudantes desenvolvam autonomia na produção de conhecimentos e aprimorem potencialidades, como senso crítico, ética e criatividade

Um dos pontos destacados é que as estruturas para a formação dos estudantes precisam mudar, especialmente para que eles possam produzir conhecimento e não só acumular informações.

Na avaliação de Carla Andrea Soares de Araújo, chefe do Departamento de Ciências Sociais do Centro Universitário FEI, investir em novos ambientes de ensino e aprendizagem, em metodologias educativas, e motivar que os estudantes dialoguem e atuem em equipe é fundamental. “Aprendizagem ativa é uma proposta de favorecer que o jovem aprenda a aprender. Adquirir instrumental intelectual para que possa ser sujeito de aprendizagem, adquirir autonomia na busca de conhecimento e na produção de novos conhecimentos. Por meio de um novo ambiente e uso de tecnologias, propõe-se um olhar para a integralidade da pessoa, proporcionando situações de aprendizagem não mais de forma estática, mas interativa e recíproca”, detalhou.

Fazer com que as universidades não apenas ofereçam ao mercado profissionais formados, mas envolvam os estudantes na resolução dos problemas das empresas é outra urgência, conforme avaliou, ao O SÃO PAULO, Luis Bameule, presidente da Uniapac na América Latina: “Há muita necessidade de diálogo entre a universidade e a empresa para que a formação do jovem estudante se alinhe às necessidades das companhias. Em países mais desenvolvidos, as empresas aproveitam a capacidade de gerar valor e conhecimento das universidades para conseguir novos produtos, serviços e melhorar sua eficiência. Esse trabalho conjunto ainda falta na América Latina”.

Criada em 1931, na Bélgica, a Uniapac hoje está em mais de 40 países, com cerca de 40 mil sócios, tendo como foco promover entre os líderes empresariais a visão e a implementação de uma economia que sirva à pessoa humana e ao bem comum da humanidade.

Experiências concretas

Algumas universidades já têm modificado seus métodos de ensino. No Centro Universitário FEI, instituição católica de orientação jesuíta e comunitária, fundada há 78 anos, desde 2016 a formação dos estudantes é pautada na inovação. “Todos os nossos cursos, inclusive das engenharias, acabaram de ser remodelados, olhando uma agenda para 2030, 2040 e até 2050. Nesse diferencial, estamos pautando as decisões institucionais e estratégicas, como os cursos e a visão dos estudantes para um panorama de megatendências”, comentou o Prof. Dr. Gustavo Henrique Bolognesi Donato, coordenador da Plataforma de Inovação da FEI.

De acordo com o Irmão Paulo Fossatti, presidente da Anec, a maior parte das 90 universidades e 1,5 mil escolas que integram a associação têm revisto projetos pedagógicos, com especial enfoque para a formação de competências e resolução de problemas reais.

Fossatti lembrou que na instituição em que é reitor, a Universidade La Salle, no Rio Grande do Sul, os trabalhos de conclusão de curso levam em conta algumas das prioridades da ONU para questões como água, habitação, saúde pública, fome e meio ambiente, bem como as preocupações expressas na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e na Doutrina Social da Igreja. Além disso, o resultado final pode ser algo prático, como uma startup (uma nova empresa que aprimora ou desenvolve um modelo de negócio) ou o protótipo de um produto. Ele citou o exemplo de uma luva destinada a pessoas que sofrem da doença de Parkinson, que foi desenvolvida na conclusão de curso de um grupo com estudantes de Fisioterapia, Enfermagem, Engenharia Mecânica, Design e Administração, e que será patenteada.

O Reitor também lembrou que a universidade convida os empresários locais para apontar as demandas da comunidade e das empresas aos estudantes, os quais, orientados pelos professores, buscam soluções: “Isso muda toda a dinâmica de uma universidade academicista para uma universidade que inova, que empreende e que, de fato, procura atender às necessidades reais do seu entorno”.

Tecnologia inimiga do emprego?

O avanço da robótica, da inteligência artificial e da automação deve fechar postos de trabalho, em especial para atividades de caráter repetitivo, contudo trará consequências positivas, de acordo com Donato: “Sempre existirá uma complementaridade, uma coexistência conosco, pois o ser humano é sempre necessário. O que essas tecnologias vão fazer é uma forte ampliação das nossas potencialidades”.

Carmen Migueles, professora da FGV e sócia-fundadora da Symbállein Consultoria, recordou que, no Japão, a ampliação de investimentos em robótica e automação não redundou em desemprego. “Acabou se chegando a uma escassez de mão de obra, pois a possibilidade de criação e inovação é ilimitada, se tivermos as pessoas continuamente envolvidas na pesquisa para resolver problemas. Foram gerados novos negócios e novas soluções, e assim se tornou necessário investir em automação e robotização para liberar mão de obra para esses novos negócios”, comentou.

Para Sérgio Cavalieri, presidente da ADCE Brasil e da Uniapac Brasil, o avanço tecnológico fará com que as pessoas, em vez de trabalhos repetitivos, façam “atividades mais nobres, utilizando a sua inteligência; provavelmente trabalhem menos horas por semana; e haverá uma economia mais produtiva, tudo isso em prol de uma sociedade melhor, mais justa e vivendo em condições mais dignas”, avaliou, destacando que para tal os trabalhadores precisam estar bem capacitados, sendo indispensável haver educação de qualidade desde os ciclos iniciais de ensino.

O que será buscado no profissional do futuro?

Nesse novo cenário de trabalho, que aspectos as empresas irão valorizar nos profissionais? Na avaliação de Clau Sganzerla, vice-presidente corporativo e de estratégia e inovação do grupo Algar, que atua especialmente nas áreas de telecomunicações e agronegócio, dois aspectos serão indispensáveis: “O primeiro é de competência técnica. Com novas tecnologias e coisas surgindo, cada vez mais as empresas precisam de um profissional que está atualizado com os novos conhecimentos. No entanto, a preocupação principal é com o segundo aspecto: com profissionais que têm a capacidade de ser mais flexíveis, de aprender novos conhecimentos. A adaptabilidade é o ‘x’ da questão”, disse à reportagem.

Donato recordou que estudos do World Economic Forum e do Institute for the Future mostram que ainda não existe a maioria das profissões que vão predominar no mercado em 2030, e que nesse novo tipo de atuação, que pressupõe mais tecnologia, fundamentos e flexibilidade, “o uso da criatividade e de todas aquelas capacidades humanas que são individuais, como a intuição, o julgamento ético, as questões morais, serão o grande diferencial”.

Subsidiariedade

Convidado para a conferência de abertura do evento, o Monsenhor Bruno-Marie Duffé, Secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano, fez o lançamento do livro “A Vocação do Líder Empresarial – Uma Reflexão” e falou sobre o sentido da vocação na perspectiva cristã . Ele também apontou como a subsidiariedade, um princípio da Doutrina Social da Igreja, pode ser de grande valia para as empresas.

“A subsidiariedade é uma sabedoria que chama os empresários a manter um diálogo entre os atores de uma empresa, para chamá-los a viver a responsabilida de. A subsidiariedade, no interior da empresa, é uma escola para a responsabilidade e para a solidariedade social”, disse o Monsenhor.

Também Cavalieri lembrou que a subsidiariedade vai além de delegar funções: acontece efetivamente quando um chefe entrega a seus colaboradores decisões que antes competiam a ele, indicando ter confiança na potencialidade das pessoas, o que aumentará o senso de responsabilidade de todos os funcionários com os negócios da empresa: “Quando isso acontece, cria-se uma força incalculável dentro da empresa: ela é capaz de produzir muito mais, de tomar decisões mais rápidas, de atender melhor os clientes, de responder melhor às questões ambientais, pois a decisão vai descendo para a ponta”, afirmou.

Trabalho e dignidade humanaMonsenhor Duffé (centro), com participantes do seminário internacional ‘Futuro do Trabalho’, realizado, no dia 17, no Centro Universitário FEI

Monsenhor Duffé também lembrou que, na Doutrina Social da Igreja, o trabalho é entendido como a atividade para criação de bens e serviços, que leva em conta a dignidade da pessoa humana, a valorização dos talentos e o desenvolvimento da comunidade. “O bom trabalho pode ser apresentado como viver e atuar com uma vocação que considera a criação, a pessoa e a comunidade. O bom trabalho participa do bem comum e considera a perspectiva de uma economia humana e ecológica, que cuida do futuro da vida.”

Dom Luiz Carlos Dias, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Episcopal Belém, que, no evento, representou o Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, alertou que o avanço das tecnologias no mercado de trabalho não deve privilegiar a produção em detrimento do ser humano. Ele ressaltou que os empresários são chamados a contribuir com o desenvolvimento humano integral, tendo em vista uma sociedade justa, fraterna e pacífica.

Na avaliação do presidente da ADCE Brasil, “o empresário cristão deve ter, primeiro, um olhar de solidariedade e de caridade. Se nós, empresários, formos nos ater somente à questão da tecnologia, à questão de procurar o desempenho e a produtividade, eliminando postos de trabalho, teremos muita gente desempregada. Temos, sim, de usar a tecnologia, aproveitar toda a inteligência humana, porém sempre estar atentos ao ser humano e ao impacto que tudo isso traz, criar soluções e entender o papel do ser humano nas organizações do futuro, e isso só é possível com solidariedade e caridade”, disse Cavalieri.

Também participantes do evento, Fernando Felipe Sánchez Campos, vice-presidente da IFCU na América Latina, e Rolando Medeiros, presidente da Uniapac Internacional, recordaram as preocupações do Papa Francisco com uma economia que assegure a dignidade humana. “Que os modelos econômicos observem uma ética de desenvolvimento sustentável, baseado no valor que coloca o ser humano – a pessoa e seus direitos – no centro; e que a inteligência artificial, a robótica e outras situações tecnológicas se façam de tal maneira que contribuam com a humanidade e com a proteção do novo mundo, e não o contrário”, comentou Medeiros. 

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A criança e a tecnologia

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15 de mai de 2017

Nos últimos 25 anos, presenciamos grandes mudanças do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico. Da simples televisão e de aparelho de telefone, partimos rapidamente para celulares, computadores, tablets, transmissões digitais, internet rápida e de fácil acesso. Hoje, podemos dizer que temos “o mundo na palma das mãos”.

Se para a muitos de nós essas mudanças foram inovações sucessivas, para os pequenos que estão na primeira infância, não. Assim é o mundo deles: recheado de estímulos eletrônicos dos mais diversos tipos, tamanhos e possibilidades.

Apesar de ser uma realidade, não devemos simplesmente naturalizá-la. É importante que esses estímulos sejam estudados e analisados, e que sejam compreendidos seus efeitos no desenvolvimento infantil. Hoje já podemos observar empiricamente alguns desses efeitos, tanto no cotidiano dos que convivem profissionalmente com crianças como em alguns  estudos desenvolvidos por centros de pesquisa.

Infelizmente, o que se observa é que os efeitos do uso da tecnologia por crianças pequenas podem ser desastrosos. É comum encontrarmos crianças de 2 anos que mexem com propriedade em aparelhos celulares e tablets, sabendo como acessar vídeos e jogos, mas que apresentam significativos atrasos cognitivos, por exemplo, na aquisição da linguagem: não expressam oralmente suas necessidades ou vontades, não contam pequenos fatos, não conseguem se concentrar para ouvir histórias curtas etc. Outro importante dado observado é o aumento vertiginoso de crianças “hiperativas” - não param nem mesmo por poucos minutos. Alguns estudos apontam para um dado assustador: crianças muito expostas à tecnologia antes dos 4 anos de idade, acumulam aos 11 anos um déficit de três anos em seu desenvolvimento! E por que tudo isso? Certamente, há uma série de fatores que concorrem para esse fenômeno:

1. A aprendizagem da criança, para que se dê com qualidade, requer necessariamente um vínculo humano. Embora os jogos, vídeos e outros recursos tecnológicos sejam vendidos como estímulos apropriados para a aprendizagem dos pequenos, essa “aprendizagem” é falha; a criança requer vínculo, narrativa, significação para que tal processo seja qualitativamente adequado.

2. Os jogos eletrônicos são recheados de estímulos extrínsecos e imediatos - o que vai habituando os pequenos à não esperar; a terem sempre uma recompensa; a não se interessarem por aquilo que exija mais tempo ou empenho.

3. Os objetos eletrônicos encantam os pequenos de tal modo que se tornam mediadores para que os adultos consigam alimentá-los, trocar sua roupa, dar remédios etc. Com isso, não choram; porém, não estão atentos à atividade principal, não aprendem que se trata de algo importante independentemente da vontade momentânea e se tornam “passivos” e não autores das situações vividas.

Enxergar esses efeitos é uma questão de saúde física e mental. Pode, então, surgir aos pais uma dúvida legítima: se o uso de eletrônicos traz danos aos pequenos, como fazer para que estejam “por dentro” daquilo que é próprio dessa geração, a tecnologia? Aqui uma dica importante dada pelo psiquiatra Dr. Ítalo Marsili, em palestra no Congresso do Instituto Brasileiro da Família: existem coisas que são essenciais e outras transitórias. Assim como há 25 anos não havia aparelho celular com internet, o que haverá daqui há 25 anos? Portanto, os instrumentos tecnológicos são passageiros. Precisamos investir na formação humana, no vínculo, na transmissão de valores - isso é o essencial, e determinará como nossas crianças se relacionarão com os diferentes instrumentos que surgirem a cada época.

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