O SÃO PAULO recorda dez anos sem Zilda Arns

Por
09 de janeiro de 2020

Nesta quinta-feira, 9, a série “#TBT O SÃO PAULO” recorda a edição 2782 do semanário da Arquidiocese de São Paulo, publicada em 19 de janeiro de 2010, noticiou a trágica morte da médica que dedicou sua vida as crianças e aos mais pobres.

Às 17h do dia 12 de janeiro de 2010 (20h no Brasil), um terremoto sacudiu e destruiu o Haiti. Zilda Arns Neumann estava com um dos pés no degrau da escada que dava acesso ao segundo andar de um prédio de formação pastoral da Igreja local de Porto Príncipe, capital do País.

SÉRIE DE FATALIDADES

Uma série de fatalidades determinara que a médica, pediatra e sanitarista mundialmente conhecida pela fundação da Pastoral da Criança, ainda estivesse no local no momento exato do abalo sísmico de 7 pontos na escala Richter.

Sua palestra, que deveria terminar às 16h30, se estendeu, por conta das dezenas de perguntas dos religiosos presentes, todos muito interessados em iniciar o trabalho de combate à desnutrição infantil, por meio da Pastoral da Criança – motivo que levara Zilda Arns ao País mais pobre das Américas.

Terminados os questionamentos, sempre muito atenciosa, a médica permaneceu no terceiro andar do prédio, atendendo individualmente alguns padres que queriam trocar contatos e experiências, ou simplesmente abraçá-la.

Quando estava deixando o local, acompanhada da Irmã Rosângela Altoé – sua secretária pessoal – e do Padre Willian, coordenador daquele centro de formação, Zilda Arns dirigia-se à escada e o tremor a fez perder o equilíbrio.

MÃE DE MUITOS

O corpo da sanitarista só foi encontrado na manhã seguinte, graças à colaboração direta do Padre Willian que, apesar do choque, indicou o local exato em que estava com Zilda Arns na hora da tragédia. Soldados brasileiros em missão de paz no Haiti retiraram alguns escombros do espaço e descobriram os pés da médica.

No Brasil, ao saber da morte da irmã, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998, confessou que quanto mais refletia sobre o exemplo do trabalho de Zilda Arns em favor das crianças e mães pobres, mais ele se convencia “de que a esperança nasce com a pessoa humana e se realiza plenamente no Deus-criador”. “Sinto que foi e é esse o sentido da vida e ação da doutora Zilda”.

Zilda Arns foi mãe de seis filhos e avó de dez netos. Mas não qualquer avó. Ela foi “Oma Zilda” (Vó Zilda, em alemão). E também foi a “mãe” de um dos netos, Danilo Arns, 10 anos, filho de Silvia Arns, filha morta em um acidente de carro, em 2003. Desde então, Danilo morava com a “Oma”.

(Edição de nº 2782 do O SÃO PAULO, em 19 de janeiro de 2010)

Comente

Para além da imaginação

Por
06 de setembro de 2019

Ana Luiza e as filhas – Bruna, Clara e Alice – têm praticado a leitura contínua em casaA relação de Thiago Kaczuroski com os livros começou quando era bem pequeno. Em sua casa, eles estavam sempre à sua disposição e, na medida em que ele ia crescendo, descobria uma vontade de ler sempre mais. 


Formado em Jornalismo e professor da área de Publicidade desde 2009, ele é casado com a produtora de cinema, Cecília Lara da Cruz. Os pais transmitem ao filho, Bernardo, de 3 anos e 10 meses, o amor pelos livros. 


“Não foi algo forçado. Acho que é como toda criança: veem os pais fazendo e uma hora acabam imitando. A leitura sempre fez parte da nossa vida. Temos muitos livros em casa, e ele acabou se interessando por isso também”, disse ao O SÃO PAULO.


Durante a gestação de Bernardo, Thiago costumava brincar com sua esposa que, se a criança não gostasse de livros e de futebol, seriam duas grandes frustrações. Segundo ele, a primeira questão foi resolvida, pois o menino cada vez mais se interessa pela leitura e, mesmo com tão pouca idade, já consegue ler algumas palavras. Com a segunda, o pai não teve tanta sorte.

QUANTO MAIS CEDO MELHOR


A quarta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro e o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), publicada em 2016, revelou que o incentivo à leitura, já nos primeiros anos da infância, é fundamental para que as pessoas cultivem esse hábito ao longo da vida. 


Do total de brasileiros não leitores, 83% não foram incentivados quando crianças. O mesmo levantamento apontou que o grau de escolaridade influencia nesses resultados. Filhos de pais que possuem menor instrução acadêmica leem menos do que os de pais que possuem escolaridade avançada.

VIAGENS INESQUECÍVEIS     


Os pais de Bernardo têm a preocupação de que o livro seja um componente a mais de diversão, e, por isso, visitar bibliotecas e livrarias faz parte de muitos passeios em família.


Thiago recordou-se de uma viagem à cidade de Santos (SP), em que eles levaram o menino para conhecer a biblioteca do Serviço Social do Comércio (Sesc). Em meio a tantas opções, Bernardo decidiu ouvir a história da “Bruxa Salomé”. A princípio, o pai achou que o filho sentiria medo, pois a narrativa é sobre uma mãe que teve os filhos enfeitiçados por uma bruxa.


O que ocorreu foi exatamente o contrário: ao entender que não poderia levar o livro para casa, Bernardo passou todo o fim de semana pedindo para ouvir a história novamente. A insistência foi tanta que, ao retornarem a São Paulo, já à noite, a primeira coisa que os pais fizeram foi procurar o livro para presenteá-lo.

DORMIR COM UMA HISTÓRIA


O jornalista falou que mais do que a prática da leitura, ler para e com o Bernardo é importante para o desenvolvimento lúdico do filho, e que, por meio das histórias e da imaginação, todos são levados a lugares ainda não descobertos.


Por isso, Thiago acredita ser essencial o exemplo: “É muito difícil uma pessoa que não lê, de uma hora para outra implantar isso. Eu acho que ter um filho é uma oportunidade de mudar hábitos, de fazer outras coisas, e a leitura é uma delas”, continuou. 
Todas as noites, Bernardo ouve a narração da história de um livro e outra criada por seus pais, hábitos que Thiago aconselha a todas as famílias, mesmo àquelas com a vida bem dinâmica.

HÁBITO CULTIVADO EM FAMÍLIA


Segundo a psicopedagoga Juliana Vieira Costa, o entusiasmo com livros na infância não deve estar atrelado, unicamente, ao processo de aprendizagem escolar: “A leitura é importante para o crescimento pessoal de qualquer indivíduo, e é por meio dela que a criança irá se tornar um cidadão crítico, com pensamentos criativos, e mais comunicativa. O primeiro contato deve ocorrer no meio familiar”.


Esse estímulo, de acordo com a psicopedagoga, deve ser pautado no exemplo e no acompanhamento da leitura. Juliana também alertou que muitos pais têm dificuldade de iniciar esse processo devido à falta de tempo e à não priorização da leitura:  “Enquanto a leitura for vista pelas famílias como uma imposição, jamais a criança a buscará. Tudo o que é imposto não caminha, ela tem que ser vista como algo leve e prazeroso”.

LEITURA E TECNOLOGIA


O acesso excessivo à tecnologia, justamente pela falta de tempo de pais e mães, tem acarretado problemas no desenvolvimento cognitivo das crianças. Juliana reiterou que crianças que leem constantemente possuem um vocabulário mais amplo e escrevem melhor, enquanto aquelas que apenas utilizam o celular, tablet e outras tecnologias apresentam um repertório de escrita limitado.
Outro fato é que cada vez mais a escrita das crianças é parecida com a digitação, com o uso de gírias e abreviações, e assim, quando a leitura de um livro for necessária, mesmo que apenas para alguma tarefa escolar, será vista por elas como uma imposição negativa.

OPORTUNIDADE DE COMEÇAR
Ana Luiza Masi é casada com Breno Masi, com quem teve três filhas: Bruna, Clara e Alice. Por não ter sido incentivada quando criança a ler, hoje ela tem a preocupação de mudar essa realidade. A leitura entre as quatro mulheres da casa começou com os livros mais simples. 


A mãe reconheceu que toda mudança de hábito requer disciplina e disse estar atenta para não se distrair enquanto lê com as filhas.

VÍNCULO AFETIVO
A leitura entre elas é, para Ana, também a oportunidade de estreitar os vínculos familiares. O mais comum é que façam a leitura compartilhada, em que cada uma lê uma parte da história: “É um momento de mais contato, de mais vínculo, um momento nosso mesmo, de interesse do que ela está fazendo e o que eu estou fazendo junto com ela”.


Para manter a proximidade e aproveitar da melhor forma possível esse momento, é necessário, segundo ela, estar atenta às narrativas que são interessantes em cada uma das fases, pois quando o que se lê e o que se escuta passam a fazer sentido para a criança, as coisas começam a fluir. 

Comente

Surge uma nova Pastoral no Mato Grosso do Sul

Por
28 de agosto de 2018

A Pastoral do Menor está expandindo seus horizontes: o Regional Oeste 1 está em processo de implantação da Pamen na Diocese de Três Lagoas (MS). Nos dias 18 e 19 de agosto, ocorreu a primeira formação de agentes da Pastoral do Menor da Diocese de Três Lagoas, na sede da diocese, com a presença de 18 participantes, na sua maioria jovens, membros de movimentos das paróquias locais.

Confira a notícia na íntegra.

Comente

A criança e a tecnologia

Por
15 de mai de 2017

Nos últimos 25 anos, presenciamos grandes mudanças do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico. Da simples televisão e de aparelho de telefone, partimos rapidamente para celulares, computadores, tablets, transmissões digitais, internet rápida e de fácil acesso. Hoje, podemos dizer que temos “o mundo na palma das mãos”.

Se para a muitos de nós essas mudanças foram inovações sucessivas, para os pequenos que estão na primeira infância, não. Assim é o mundo deles: recheado de estímulos eletrônicos dos mais diversos tipos, tamanhos e possibilidades.

Apesar de ser uma realidade, não devemos simplesmente naturalizá-la. É importante que esses estímulos sejam estudados e analisados, e que sejam compreendidos seus efeitos no desenvolvimento infantil. Hoje já podemos observar empiricamente alguns desses efeitos, tanto no cotidiano dos que convivem profissionalmente com crianças como em alguns  estudos desenvolvidos por centros de pesquisa.

Infelizmente, o que se observa é que os efeitos do uso da tecnologia por crianças pequenas podem ser desastrosos. É comum encontrarmos crianças de 2 anos que mexem com propriedade em aparelhos celulares e tablets, sabendo como acessar vídeos e jogos, mas que apresentam significativos atrasos cognitivos, por exemplo, na aquisição da linguagem: não expressam oralmente suas necessidades ou vontades, não contam pequenos fatos, não conseguem se concentrar para ouvir histórias curtas etc. Outro importante dado observado é o aumento vertiginoso de crianças “hiperativas” - não param nem mesmo por poucos minutos. Alguns estudos apontam para um dado assustador: crianças muito expostas à tecnologia antes dos 4 anos de idade, acumulam aos 11 anos um déficit de três anos em seu desenvolvimento! E por que tudo isso? Certamente, há uma série de fatores que concorrem para esse fenômeno:

1. A aprendizagem da criança, para que se dê com qualidade, requer necessariamente um vínculo humano. Embora os jogos, vídeos e outros recursos tecnológicos sejam vendidos como estímulos apropriados para a aprendizagem dos pequenos, essa “aprendizagem” é falha; a criança requer vínculo, narrativa, significação para que tal processo seja qualitativamente adequado.

2. Os jogos eletrônicos são recheados de estímulos extrínsecos e imediatos - o que vai habituando os pequenos à não esperar; a terem sempre uma recompensa; a não se interessarem por aquilo que exija mais tempo ou empenho.

3. Os objetos eletrônicos encantam os pequenos de tal modo que se tornam mediadores para que os adultos consigam alimentá-los, trocar sua roupa, dar remédios etc. Com isso, não choram; porém, não estão atentos à atividade principal, não aprendem que se trata de algo importante independentemente da vontade momentânea e se tornam “passivos” e não autores das situações vividas.

Enxergar esses efeitos é uma questão de saúde física e mental. Pode, então, surgir aos pais uma dúvida legítima: se o uso de eletrônicos traz danos aos pequenos, como fazer para que estejam “por dentro” daquilo que é próprio dessa geração, a tecnologia? Aqui uma dica importante dada pelo psiquiatra Dr. Ítalo Marsili, em palestra no Congresso do Instituto Brasileiro da Família: existem coisas que são essenciais e outras transitórias. Assim como há 25 anos não havia aparelho celular com internet, o que haverá daqui há 25 anos? Portanto, os instrumentos tecnológicos são passageiros. Precisamos investir na formação humana, no vínculo, na transmissão de valores - isso é o essencial, e determinará como nossas crianças se relacionarão com os diferentes instrumentos que surgirem a cada época.

Comente

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.