Opinião

Pornografia, iniciação sexual e vida cristã

O jornal on-line El País tem publicado artigos sobre o acesso, cada vez maior e mais precoce, de crianças e adolescentes espanhóis à pornografia – veja, por exemplo “Sim, seus filhos veem pornô (e é assim que isso os afeta)” (15/02/2019). Os dados são assustadores: a exposição à pornografia, facilitada pela internet e o telefone celular, pode começar antes dos 10 anos; e mesmo psicólogos e educadores mais liberais reconhecem as muitas consequências negativas no desenvolvimento psicoafetivo dos jovens.
Por outro lado, a Folha de S. Paulo publicou recentemente o artigo “Séries retratam jovens loucos por sexo, mas na vida real eles transam cada vez menos” (4/11/2019), comentando o aumento de situações eróticas e relações sexuais entre adolescentes nas séries de TV (inclusive numa espanhola) e as pesquisas sobre como essa faixa etária vive a sexualidade na prática. A matéria mostra que essas séries sugerem uma juventude cada vez mais liberada e envolvida em relações sexuais menos tradicionais, enquanto as pesquisas indicam que os jovens – em termos globais – estão reduzindo sua atividade sexual e tendo mais tarde sua primeira relação sexual.
À primeira vista, portanto, as séries não correspondem à realidade. A mídia parece retratar as fantasias nascidas da pornografia e a história dos adultos mais que a vida dos adolescentes atuais.
No Brasil, os estudos indicam que a exposição dos jovens a redes sociais e internet é maior que na maioria dos países, e a iniciação sexual está sendo cada vez mais precoce. Contudo, temos que considerar que a “revolução sexual” aconteceu mais tarde e foi mais discreta entre nós do que na Europa e na América do Norte.
A exposição à pornografia fez o sexo mais problemático, todavia não mais prazeroso. Mesmo que a atividade sexual entre os jovens de hoje seja maior do que no passado, as próprias consequências negativas de uma sexualidade desregrada vão se impondo – como nos muitos casos ligados à exibição da própria nudez nas redes sociais.
Não vai haver uma “autorregulação” da sexualidade por causa dessas experiências negativas. O mais provável é que elas gerem desgosto, depressão e dificuldade de criar relacionamentos maduros. Isso mostra, porém, que, para o ser humano, sexualidade e afetividade estão intimamente ligadas. Um “sexo sem compromisso”, mesmo que fisicamente prazeroso, se ressente de algo a mais: um comprometimento integral da pessoa. Para o próprio jovem, uma relação sexual precoce, sem o devido envolvimento afetivo, que transforma o outro em objeto, acaba se revelando inadequada e frustrante.
Como ensinou São João Paulo II, na Teologia do Corpo, a dinâmica do sexo está intimamente ligada ao dom e ao pudor. O amante, no ato sexual, doa ao outro toda a sua intimidade – algo que exige do outro respeito e reciprocidade. O pudor é justamente a salvaguarda desse dom, que não pode ser distribuído de forma inconsequente.
Assim, tanto a pornografia quanto a relação sexual precoce são uma ameaça à intimidade um do outro, mais do que uma exploração positiva de suas potencialidades.
Sabendo disso, os pais devem acompanhar o que os filhos veem, conhecer os ambientes que frequentam e suas companhias. Numa sadia educação cristã, contudo, devem também testemunhar a beleza do amor, a integração entre afetividade e sexualidade. Esse testemunho mostra aos jovens que eles não precisam recorrer à erotização e às drogas para externar sua afetividade, ser alegres e realizados.

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