Encontro com o Pastor

Evangelizar: missão de todos

Como todos os anos, no Brasil, do Domingo de Cristo Rei até o 3º Domingo do Advento, é realizada a Campanha Nacional para a Evangelização. A promoção da Campanha é feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e tem duas finalidades principais. A primeira é ampliar e aprofundar, em toda a comunidade católica, a consciência de que todos são chamados a participar da obra evangelizadora da Igreja. A segunda consiste em promover o apoio concreto ao trabalho evangelizador das dioceses e da própria Conferência, mediante a coleta em prol da evangelização, realizada no 3º Domingo do Advento.
Pelo Batismo, todos os membros da Igreja se tornaram discípulos e missionários de Jesus Cristo e testemunhas do Evangelho no mundo. Evangelizar significa fazer a própria parte para que a mensagem cristã seja transmitida e acolhida também por outras pessoas. Esse dever começa na própria família e com as pessoas que convivem conosco. Isso não deveria ser considerado como um dever pesado e incômodo. Antes, é um privilégio. Se vivemos a fé com alegria, temos também alegria em transmiti-la aos outros. Se somos felizes por estar na Igreja, também nos causa alegria ajudar outras pessoas a viverem como cristãs e como membros da Igreja.
O trabalho evangelizador da Igreja tem muitos aspectos e necessita do apoio concreto de todos. O dízimo e outras contribuições e ofertas feitas à Igreja têm a finalidade de apoiar concretamente o trabalho evangelizador das comunidades da Igreja. Quem ama a sua fé e a sua Igreja também é generoso em ajudar efetivamente a Igreja a realizar esse trabalho, que requer recursos e apoio financeiro. Esse é o sentido da coleta especial para a evangelização, feita no 3º Domingo do Advento em todas as celebrações de nossas igrejas católicas.
A Campanha para a Evangelização deste ano tem como tema a frase do Evangelho de São Lucas  – “Cuida dele” (Lc 10,35). É a recomendação do Bom Samaritano ao dono da hospedaria, onde ele deixa o homem ferido que recolheu no caminho de Jerusalém para Jericó. O Bom Samaritano não apenas se compadeceu desse pobre homem caído e mortalmente ferido, mas cuidou dele, de suas feridas, levou até um lugar de hospedagem, pagou a conta e se dispôs a pagar as despesas extraordinárias... O seu interesse pelo próximo não foi apenas sentimental e distante. Ele se “aproximou” do homem caído, arregaçou as mangas, sujou as mãos, perdeu seu tempo, mudou seus planos de viagem e, com gestos concretos, se fez “próximo” daquele homem necessitado de cuidados.
O trabalho evangelizador da Igreja tem a finalidade de anunciar a Boa-Nova do Evangelho às pessoas e ajudá-las a se encontrar pessoalmente com Jesus Cristo, despertando-as para a fé. Nunca devemos esquecer, porém, que o anúncio com palavras caminha junto com o anúncio pelo testemunho concreto da fé e do amor. A evangelização, por isso, deve ser sempre acompanhada e, muitas vezes, precedida, pela dimensão concreta do “cuidado” das pessoas e de tudo aquilo que possa significar “obra do Evangelho” na vida daqueles que creem. Esse é o motivo pelo qual temos tantas obras sociais e organizações voltadas para o cuidado dos pobres, doentes, pessoas idosas e grupos vulneráveis. O mesmo motivo vale também para tantas obras voltadas à defesa e promoção da justiça social e da dignidade da pessoa humana.
Também estamos aprendendo que o “cuidado da casa comum”, a natureza, os bens da criação e a ecologia integral são questões ligadas à nossa fé e moral cristã, como já ensinava o Papa Bento XVI e, ainda mais, o Papa Francisco, por meio da Encíclica Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum. Cuidar daquilo que são “bens comuns” a todos, bens essenciais e necessários à vida e à dignidade da existência humana também faz parte do testemunho da nossa fé e interessa à evangelização.
Portanto, a Campanha para a Evangelização interessa a todos os cristãos. Os ministros ordenados e religiosos têm uma parte própria nessa grande obra. A parte dos cristãos leigos, porém, também é muito importante, pois são eles que estão inseridos diretamente nas “estruturas” econômicas, políticas, sociais e culturais, em que são chamados a assumir o “cuidado” do próximo e do bem comum, em decorrência de sua fé.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 04/12/2019

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