Encontro com o Pastor

Viver bem o Advento

Com a chegada do Advento, iniciamos um novo ano litúrgico, durante o qual fazemos a memória, nas celebrações e nos ritos da Liturgia, dos grandes mistérios da nossa fé e acolhemos sempre de novo o Deus que vem ao nosso encontro com a sua graça salvadora. A vida é um constante peregrinar no tempo ao encontro do Senhor, “até que Ele venha” em sua glória “para julgar os vivos e os mortos”.
Desde o primeiro Domingo do Advento, somos colocados diante da realidade do tempo que passa para todos nós e se encaminha para um desfecho. Ninguém sabe, porém, quando será o exato momento; o que importa é viver sabiamente para não sermos pegos de surpresa. Por isso, São Paulo recomenda que é preciso “despertar” e viver de maneira responsável e não como quem está sonolento, sem ter a noção do tempo que corre e das surpresas que a vida pode trazer (cf. Rm 13,11-14).
Jesus alerta para a necessidade de viver “vigilantes” e preparados para o encontro com o Filho do Homem, que corresponde ao Cristo glorioso, juiz de cada um de nós, juiz e senhor da história, pois as surpresas da vida podem sobrevir a qualquer momento, sem avisar. “Ficai preparados, pois na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,44). Isso é verdadeiro e não há como se iludir a esse respeito.
A mística do Advento traz continuamente a temática das duas vindas de Cristo: recordamos as profecias e as promessas de Deus que dizem respeito à primeira vinda do Ungido de Deus ao mundo. Essa primeira vinda do Filho de Deus ao mundo já aconteceu, como celebramos no Natal de Jesus, cheios de admiração e gratidão a Deus. Ao mesmo tempo, o Advento nos coloca diante do mistério da encarnação do Filho de Deus em nossa história e na condição humana, ajudando-nos a renovar o nosso ato de fé no mistério celebrado.
No Advento, contudo, também anunciamos a nova e definitiva vinda do Senhor ressuscitado e glorioso “para julgar os vivos e os mortos”. O Advento continua a ser tempo de profecia daquilo que Deus ainda está por realizar pela nossa salvação. Por isso, durante esse tempo, olhamos para a frente, lembrados de que nosso Deus veio, vem e virá continuamente ao nosso encontro. O Advento é muito mais do que preparação para a celebração do Natal.
É inegável, todavia, que, ao menos na compreensão popular, o Advento é o tempo destinado a preparar o Natal. Que fazer, pois, para viver bem este tempo sagrado? As práticas aconselhadas pela Igreja para este tempo são várias. Antes de todas, dedicar um tempo maior e uma atenção mais profunda à Palavra de Deus que nos é dirigida pela Liturgia neste período. É uma palavra de esperança, conforto e alegria, para renovar nossa confiança e nossa esperança nas promessas de Deus. Mas é também uma palavra que chama à conversão, à vigilância e à operosidade na prática do bem.
Outra prática é a oração mais assídua, quer pessoal, quer em família e comunitária. Uma das orações do Advento nos faz pedir assim: “Que a sua chegada nos encontre reunidos em oração e celebrando os seus louvores”. A oração pode ser favorecida pela realização das novenas de Natal em família ou em grupos de vizinhos e amigos. É uma boa prática, que não deveríamos deixar no esquecimento. É também igualmente recomendada a participação assídua na missa dominical e mesmo semanal, pois as celebrações litúrgicas do Advento são especialmente belas e ricas de significado. 
Na preparação do Natal não deve faltar uma boa confissão, lembrados de que “nós somos o seu presépio e a nossa casa é Belém”. Que Ele nos possa encontrar reconciliados com Deus e com os irmãos. A caridade mais intensa para com os irmãos acompanha as práticas de todo o período do Advento. O nascimento de Jesus veio trazer “alegria para todo o povo”. Ao recordarmos o seu Natal, a alegria e a esperança devem chegar aos irmãos mais pobres, sofredores e esquecidos.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 27/11/2019

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