Editorial

‘A esperança dos pobres jamais se frustrará’

Como restituir a esperança perdida dos pobres, diante de tantas injustiças e sofrimentos? Na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres deste ano, a ser celebrado em 17 de novembro, o Papa Francisco nos ajuda a refletir sobre o assunto a partir do Salmo 9,19: “A esperança dos pobres jamais se frustrará”.
Em sua mensagem, Francisco nos recorda que essas disparidades existem desde os tempos mais remotos, desde as primeiras civilizações, inclusive no povo de Israel. Hoje, porém, há muitas novas formas de “pobreza” e escravidão: famílias forçadas a migrar, órfãos que são separados dos pais, jovens que buscam realização profissional, vítimas de violência, pessoas desabrigadas e marginalizadas...
A pobreza material é, de fato, fruto de um desequilíbrio social desordenado causado pelas ações humanas – e não por Deus. Se, por um lado, é natural que existam diferenças entre as pessoas, por causa de seus diversos talentos, histórias de vida, heranças, personalidades e localização geográfica, por outro lado não é aceitável que essas diferenças se tornem motivos de opressão.
O que oprime o pobre não é, necessariamente, o rico, mas as disparidades e “escravidões” criadas por muitos daqueles que detêm o poder e que impedem o pobre de sair dessa condição. Muitas vezes, o pobre não tem sequer o mínimo necessário para viver e se desenvolver.
Em sua mensagem, o Papa Francisco não critica as pessoas que têm mais dinheiro, mas denuncia, isso sim, as estruturas da nossa sociedade que provocam “a injustiça e o amargor que atingem os pobres”.
“A Palavra de Deus indica que os pobres são aqueles que não têm o necessário para viver, porque dependem dos outros. São o oprimido, o humilde, aquele que está deitado no chão. E, mesmo diante dessa enorme fila de indigentes, Jesus não teve medo de se identificar com cada um deles”, afirma o Santo Padre.
Portanto, o Deus de Jesus é um Pai generoso, misericordioso, que jamais abandona os pobres. Pelo contrário, leva esperança àqueles que pensam não ter futuro. É missão da Igreja levar aos pobres este anúncio: Deus jamais os abandonará. E, para os que têm um pouco mais, o pobre é oportunidade de evangelização e gesto concreto.
A Doutrina Social da Igreja ensina o princípio da busca do “bem comum”. Se somente um na comunidade não está bem, ninguém está. Esses problemas são, muitas vezes, também fonte do que São João Paulo II chamou de “estruturas de pecado”, que são ambientes e situações que escravizam as pessoas no pecado. Também por isso, é preciso buscar, juntos, as soluções para as mazelas que criam e acentuam a pobreza.
“A condição dos pobres nos obriga a não tomar distância alguma do Corpo do Senhor que sofre neles”, lembra Francisco. “Somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometer em primeira pessoa.”
O Evangelho e a tradição da Igreja ensinam que os pobres são “uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo devem buscar, para não trair a credibilidade da Igreja e doar esperança eficaz a tantos indefesos”.
Os pobres não são apenas estatísticas. São pessoas que precisam desse encontro coerente, concreto e verdadeiro. Eles podem ser protagonistas de sua redenção, mas precisam da esperança oferecida por Jesus Cristo, que se comunica por meio da consolação, da caridade e da escuta. Algo que, como Igreja, devemos promover e praticar.

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