Comportamento

Os sexagenários e seus netos: a resposta

No último artigo – “Os sexagenários e seus netos”, publicado no O SÃO PAULO, na edição 3270, de 16 a 22 de outubro, após uma visita pelas mudanças significativas, não muito animadoras que ocorreram entre o cotidiano dos avós e de seus netos, deixamos duas perguntas em aberto: “Progredimos? Somos mais felizes?” As respostas são um grande desafio, que deve ser enfrentado com ânimo, otimismo e esperança.
O mundo atual colocou o desenvolvimento tecnológico como parâmetro de progresso. Não se discutem as evidências, presentes em todos os lugares, de vantagens adquiridas pelos recursos tecnológicos. A convivência com eles, porém, tem demonstrado que o seu exagero não está isento de efeitos colaterais, até desastrosos. A famosa “justa medida” nem sempre apresenta seus limites definidos igualmente para todos. Nessa esteira, vem a relação entre progresso e felicidade. Se estou progredindo, deveria me encaminhar para a felicidade. Se o progresso pertence à tecnologia, logo, parece que, hoje, a felicidade está vinculada à tecnologia. Contudo, isso se perturba quando se afirma que o exagero tecnológico acarreta efeitos danosos e, portanto, rouba a felicidade. Onde estão os avós sexagenários e seus netos nisso tudo?
Os avós do tempo presente acompanharam essa transição. Ouviram de seus avós um mundo sem carros, sem aviões, sem TV, sem freezer, sem micro-ondas, sem computador nem celular... Alguns vão até se lembrar de histórias do ferro a carvão, da iluminação por lampião a gás e da máquina de datilografia. Ainda que não tenham visto ao vivo, faziam parte das conversas em família. Nenhuma geração na história viveu, na prática ou em recordações de família, tantas transformações mundiais como os que estão acima dos 60 anos hoje. Viveram uma época em que as pessoas se encontravam, conversavam, olhavam-se nos olhos, sabiam de suas origens e possuíam história. 
Hoje, multiplicam-se no WhatsApp “filminhos” retratando o comportamento do ser humano focado cada vez mais numa tela, sem mais olhar ou se interessar para o que, ou quem, está ao redor. Parece não existir passado. Não existem histórias. Não conseguem nem sequer imaginar como viveriam se as luzes se apagassem. Estão todos plugados. Literalmente vivem por um fio, e cada vez mais as crianças são envolvidas nisso precocemente. É exatamente nesse cenário que a contribuição dos avós deve vir em auxílio participativo no processo de educação das crianças. Frequentemente, na realidade de pais sobrecarregados com trabalho externo (este é assunto para outro dia), os avós podem e devem se tornar agentes importantes para colaborar na formação dos netos. 
É justo que os avós, hoje alcançando idade avançada em melhores condições físicas de saúde do que no passado, busquem atividades em cursos, academias, lazer, viagens que oferecem condições que satisfaçam o bem-estar. Não se deve omitir, contudo, nesta programação, uma carga horária generosa de dedicação de tempo aos netos. Estar com os pequenos é fonte de alegria, ainda que com esforço. É verificado o quanto se beneficiam avós e netos, principalmente os menores, numa relação de extremos quase incompreensível. Uma boa reserva da energia para os pequenos, frequentemente é bem recompensada naqueles que sabem olhar para um futuro em que este amor florescerá numa pessoa mais feliz. 
Na verdade, para muitos avós, o progresso tecnológico acelerado nem sempre é tão compreensível. Também é fato, todavia, que, para as crianças pequenas – insisto na importância dos primeiros anos – o trato mediante a presença física, alegre, afetuosa e acolhedora atrai mais do que brinquedos eletrônicos. Passeios animam mais do que ficar na frente de uma TV. Ouvir com atenção, voltar da escolinha de mãos dadas, tirar uma soneca juntos, acariciar a região dolorida no joelho que bateu, comer um doce na padaria da esquina, contar uma história que aconteceu, dar o beijo de boa noite após rezar uma breve oração – tudo isso transmite mais afeto e segurança do que uma montanha de presentes. 
Se os pais entenderem que isso não é tomar o lugar deles, se forem compreensivos que os avós não estão para desautorizá-los, compreenderem que os avós também não têm a mesma energia para fazerem, sem abuso, além do possível, aí estaremos assistindo a revalorização dos hábitos de ambiente de família. Não faltará a tecnologia indispensável, mas dosada em limites que não barrem ou substituam as manifestações de amor e carinho. Para os sexagenários que começaram a ter uma diminuição de ritmo de trabalho, está aí um excelente emprego: tornar-se um avô de verdade. Paga-se bem: a alegria dos netos, para a felicidade de todos, num mundo melhor. 
 

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