Editorial

Outubro: mês das missões

Qualquer pessoa menos familiarizada com a fé católica teria alguma dificuldade em entender a escolha de Santa Teresinha do Menino Jesus como Patrona das Missões – intenção, aliás, pela qual nos convida a Igreja a rezar de forma especial neste mês de outubro. Por que motivo, afinal, escolher como padroeira dos missionários uma monja carmelita enclausurada, que, em seus breves 24 anos de vida, jamais saiu em missão?

A eleição começa a fazer sentido se enxergarmos que a missionariedade católica não é uma simples estratégia de marketing, que objetive convencer as pessoas sobre certa visão de mundo. Antes, ser missionário é um método de imitar a Cristo – que, também Ele, “partiu em missão” ao descer à terra, encarnando-Se numa natureza humana para salvar os homens, derramando o próprio sangue.

Se, pois, a condição do verdadeiro apostolado católico é a Cruz (cf. Jo 12,32-33), torna-se compreensível que uma carmelita de clausura possa contribuir – e muito – para a conversão das almas, ainda que em lugares remotos: Teresinha efetivamente fazia missão ao acompanhar com suas assíduas orações o Padre Afonso Roulland, compatriota seu enviado à China como missionário.

Além de interceder pelos missionários, Santa Teresinha serve também de modelo para os que se dedicam a “ir e fazer discípulos todos os povos” (Mt 28,19). É que a divisão entre vida contemplativa e vida ativa, embora adequada em muitos aspectos, não é, porém, uma cisão absoluta: pois não existe oração verdadeira que não resulte em boas obras de caridade, assim como não existe verdadeiro apostolado que não se baseie numa sólida vida de oração.

A este respeito, convém lembrar o episódio que envolveu o jovem sacerdote (hoje cardeal) Angelo Comastri e a já famosa Madre Teresa de Calcutá, em 1969. O Padre Angelo, assim que foi admitido à entrevista com a Santa, foi interrogado sobre quantas horas dedicava à oração a cada dia. Respondeu que diariamente celebrava a Santa Missa, rezava o breviário e o Terço – o que, para os padrões da época, era relativamente bastante; ao que a Santa lhe disse: “Isso não basta, meu filho! Não basta porque o amor não pode se limitar ao mínimo indispensável. O amor exige o máximo!”. Tendo externado sua expectativa de que a Madre lhe perguntaria sobre suas obras de caridade, esta o fitou com olhar sério e disse: “Achas que eu conseguiria praticar a caridade se não pedisse todos os dias a Jesus que enchesse o meu coração com o Seu amor? Achas que eu poderia percorrer as ruas à procura dos pobres se Jesus não anunciasse à minha alma o fogo da Sua caridade?” O jovem sacerdote olhou-a então cheio de admiração, enquanto ela dizia, destacando cada palavra: “Sem Deus, somos pobres demais para ajudar os pobres!”.

Não há dúvida de que estaria equivocado o cristão que pretendesse “enclausurar-se” exclusivamente em sua oração, sem que dela transbordassem méritos e boas obras em benefício de toda a comunhão de membros da Igreja. Mas seria igualmente estéril o cristão que estruturasse sua “pastoral” e seu “apostolado” sem uma sólida base de oração, diária e generosa.

Roguemos, então, a Santa Teresinha do Menino Jesus, que conversava intimamente em seu coração com Nosso Senhor, que nos obtenha a graça de crescer nessa intimidade, e trazer as almas a Cristo!

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