Editorial

A missão da Igreja e dos homens

São Paulo, em sua carta aos Coríntios, afirma que “em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo” (2Cor 5,19). Com efeito, o Apóstolo atesta que a vida e missão de Jesus denotam intrinsecamente a reconciliação da humanidade e da criação em todas as suas dimensões. 
Como consequência, essa extensão universal da Redenção proporcionada por Cristo se concretiza perenemente na Igreja ao longo dos tempos, justamente porque a Igreja é a concretude da presença reconciliadora e salvífica do Senhor em nosso meio. 

 A missão da Igreja pode ser resumida em transformar o mundo em si mesma, ou seja, incorporar a humanidade ao Corpo Místico de Cristo, que é ela mesma. Essa missão pode ser expressa pelo termo “evangelização”, que em seu sentido mais amplo, pode ser entendido como a transmissão do Evangelho, na pregação e nos sacramentos. 

Tal missão se insere no mandato do próprio Senhor: “Ide, pois, e fazei discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). Assim, como lembrou o Papa Emérito Bento XVI em uma de suas homilias, “a Igreja é um povo que provém de todos os povos. A Igreja desde o início é católica [universal], sendo esta sua essência mais profunda”. 

Analogamente ao que fez o Senhor, que pregou a todos a conversão desde o início de sua vida pública, a Igreja sempre entendeu sua missão de transmitir o Evangelho como uma atividade dirigida à conversão dos homens. 

Assim, à Igreja foi confiada a verdade plena da Revelação de Deus e cabe a ela o papel de custódia e transmissão, em sua integralidade, aos homens. Estes, por sua vez, devem ter a consciência de que são destinatários de uma grande atenção do Senhor, que se revela justamente por considerá-los filhos amados e plenos de dignidade. Tal condição, em vez de gerar qualquer forma de indiferença, deve estimulá-los à comunicação dessa mesma alegria que compartilham pela vivência com Deus àqueles que ainda não O conhecem.  

Essa atividade, portanto, ao objetivar a incorporação dos homens a Cristo na Igreja, pode ser designada com o termo proselitismo, embora o próprio São João Paulo II tivesse ciência de que tal palavra tenha adquirido contornos negativos ao longo dos anos, em virtude da tendência de se afirmar uma atitude relativista e subjetivista nos mais variados ambientes da sociedade. 

É necessário afirmar que a ação de convidar e favorecer que outras pessoas - não cristãs ou, em outro nível, cristãs não católicas – se incorporem à plena comunhão com a Igreja Católica, levando em consideração o respeito à verdade, à intimidade e à liberdade de todos, é parte integrante do processo de evangelização. 

Outubro é, tradicionalmente, o mês dedicado às missões, que tem como padroeira Santa Teresinha do Menino Jesus. Este ano, especificamente, em virtude da comemoração do centenário da Carta Apostólica Maximum Illud, o Papa Francisco convoca todos os cristãos a viver o “Mês Missionário Extraordinário”, cujo tema é “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. 

Com o objetivo de reavivar a consciência batismal do povo de Deus, despertar ainda mais a consciência missio ad gentes e retomar, com novo impulso, a transformação da vida e da pastoral, os homens são instigados pelo Pontífice a viver concretamente o que ele pede a todos quando propõe uma “Igreja em saída”. 

Assim, no impulso de responder positivamente ao apelo de Francisco de construir uma “cultura do encontro” e vivenciar a missão como atividade a que todo cristão é chamado a cumprir, a busca por trazer para o seio da Igreja aqueles que estão afastados ou se encontram em outros caminhos não só não é reprovável como pode ser considerada uma manifestação de caridade autêntica. 

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