Comportamento

Adolescer no mundo virtual

apa da vida marcada por grandes transformações físicas, psíquicas e sociais. Nessa fase, o sujeito precisa de mais independência e autonomia, pois o que está em jogo é a busca de si mesmo e se estabelecer como ser único e capaz de se gerir. “Nessa fase, eles começam a pensar de forma mais racional e abstrata. O corpo está mudando e, com isso, o cérebro e a sua maneira de ver o mundo. Eles precisam se impor, deixar o conforto do controle dos pais e encontrar o seu próprio código de ética”, afirma Andrea Ferreira, psicóloga. 

O psicólogo e pedagogo G. Stanley Hall dizia que a “adolescência é um novo nascimento, já que com ela nascem as características humanas mais completas”, ou seja, o novo se abre de modo radical e o que se busca é a si mesmo. 

Todos nós, adultos, sabemos por experiência como é árdua a busca de si mesmo. Constituir-se é um processo sofrido, intenso, porém riquíssimo e necessário. Aceitar-se e ser aceito, ouvir e se fazer ouvir, romper com o estabelecido para ganhar oportunidade de estabelecer, identificar-se com diferentes grupos para se “encontrar”. Fase de opiniões e vontades intensas, porém passageiras, de emoções devastadoras ou fantásticas, podendo ser quase simultâneas. Viver essa etapa requer experimentar, relacionar-se, interagir, estar. O valor da experiência é enorme, pois esse contato intenso com o mundo, a realidade, as pessoas, forja a pessoa que nascerá desse processo. 

A atualidade oferece, porém, um novo desafio – como lidar com a realidade virtual e a natureza de relações, informações e possibilidades que ela oferece aos adolescentes? Como discernir entre relações reais e virtuais, experiências vividas e informações obtidas, discussões públicas e privadas, exposições em ambientes que oferecem segurança ou no mundo virtual? O quanto olhar para o mundo e as realidades por meio da janela virtual contribui no processo de busca de si que pressupõe a adolescência?

Um estudo realizado em colégios na Espanha sobre a brecha digital entre adultos e adolescentes há alguns anos (https://www.acidigital.com/noticias/para-adolescentes-o-mundo-virtual-e-...), além de desmistificar a tal brecha como sendo fruto da diferença etária, revelou que os adolescentes percebem o mundo virtual como se fosse uma extensão da realidade e os adultos como um instrumento. Para os adolescentes, segundo o estudo, “são duas realidades paralelas que formam parte da própria vida”.  O estudo, embora não tenha focado nos vícios em relação ao mundo digital, constatou que muitos adolescentes estão dependentes a ponto de estarem disponíveis virtualmente o dia todo e, embora costumem cuidar de não aceitar desconhecidos entre seus contatos, “descuidam de sua imagem porque não são conscientes de que é um espaço público e não privado”. Sua ingenuidade os leva muitas vezes até mesmo a publicar fotografias que podem afetar sua reputação e que, “no longo prazo, podem ser comprometedoras”, como, por exemplo, na hora de procurar trabalho. 

Conhecer e usar os recursos virtuais torna-se exercício necessário a nós, pais, para experimentarmos, conhecermos os riscos e benefícios e podermos continuar ajudando nossos filhos adolescentes a aproveitar da melhor maneira essa nova possibilidade que se apresenta. Sabemos que as informações são extremamente rápidas, que os horrores acabam por se disseminar e naturalizar, transformando-se em “memes”, ou seja, destituindo-se do lugar de horror para se vestir de humor, que o privado  nesse “ambiente” torna-se de domínio público e não há mais possibilidade de controlar ou de conter aquilo que foi publicado. Conversar e orientá-los também sobre essas coisas e garantir que passem do modo mais seguro possível por esse momento é nosso papel. Então, coragem: mergulhemos juntos nesse desafio com a certeza de que é possível sermos suporte e aprendermos muito também!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora, mantém o Blog educandonacao.com.br

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