Liturgia e Vida

‘Uma só coisa é necessária’ (Lc 10,42)

16º Domingo do Tempo Comum  –  21 DE JULHO DE 2019

A visita de Jesus a Marta e Maria foi frequentemente interpretada como a afirmação da primazia da contemplação sobre a ação. Enquanto Marta “estava ocupada com muitos afazeres” (Lc 10,40), sua irmã, Maria, simplesmente “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra” (Lc 10,39). Por esta razão, a primeira mereceu uma suave repreensão do Mestre: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10,41s).
A “melhor parte” da nossa vida de fé não consiste em “fazer” muitas coisas para Deus ou para o próximo, mas sim em estar com o Senhor: ouvi-lo, contemplá-lo e, desse modo, amá-lo. Esta é, segundo Jesus, “a única coisa necessária”! Podemos fazer um bom exame de consciência sobre esse ponto. Afinal, consideramos a oração (“sentar-nos aos pés do Senhor”) e a escuta do Evangelho (“ouvir sua Palavra”) como a coisa mais necessária do dia a dia? Consideramos a Santa Missa – na qual temos a sua presença real na Eucaristia – como a “melhor parte” da semana?
Isso não quer dizer que as boas obras feitas por amor a Deus e ao próximo não sejam importantes. A ação e a contemplação não se opõem. Ao contrário! Contemplar a Deus por meio da oração é o que nos permite agir bem e dar pleno sentido a todas as nossas obras. Somente a oração assegura que agimos por Deus, não por vaidade, capricho ou outras intenções distorcidas. Além disso, se não praticássemos obras de amor a Deus e ao próximo, nossa oração seria superficial e vazia. Ação e oração – Marta e Maria – devem andar sempre juntas!
Mas a oração é o fundamento! Afinal, Deus é o fundamento de toda a existência: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). São Josemaría Escrivá costumava dizer que o êxito do apostolado da Igreja depende do respeito à seguinte ordem de prioridade: “Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em ‘terceiro lugar’, ação” (“Caminho” pág. 82). 
Não se trata de uma escusa para a inação ou de um “providencialismo” que pretende que Deus resolva os problemas sem a cooperação dos homens. Ao contrário, essa visão sobrenatural das coisas reconhece humildemente que somente Deus pode mudar os corações, levar as pessoas à conversão e ao progresso espiritual. Somente Ele pode, em meio a ambientes devastados, fazer surgir pessoas santas e preservadas do mal. E isso Ele realiza ordinariamente mediante a nossa cooperação por meio das preces, dos sacrifícios e, depois disso, do apostolado. 
Por fim, a intimidade com Deus – que é o fruto da vida de oração intensa – é a única coisa deste mundo que, como diz o Senhor: “Não nos será tirada” (cf. Lc 10,42). Trabalhos, bens, cargos, pessoas, beleza, saúde… Tudo nos será retirado. Até as boas obras cessarão, quando nos faltar a saúde. Mas o amor a Deus – exercitado na oração – nos acompanhará na eternidade. Ele é o “único necessário”!

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