Fé e Cidadania

Saúde e vida espiritual: a importância da espiritualidade para a saúde

No paralelo entre saúde e vida espiritual, é importante considerar a individualidade, a personalização do tratamento. Em Medicina, sabemos que nem todos os tratamentos servem para todas as pessoas. Os conceitos de Medicina Personalizada têm evoluído a ponto de testes genéticos já serem feitos para se definir o melhor medicamento para uma determinada doença em uma pessoa.

Na saúde da alma, é ocorre o mesmo: cada pessoa precisa de uma abordagem específica. Somos uma obra-prima irrepetível de Deus e cada um de nós mereceu todo o Seu Sangue e o Seu Sacrifício.

Os milagres nos Evangelhos nos mostram isso: Cristo cura um a um. São Lucas nos afirma no capítulo 4º de seu Evangelho: “Singulis manus imponens” (impunha-lhes as mãos individualmente). É evidente que a conversão, o apostolado, o crescimento na graça, apesar de se dar na comunidade, é um processo eminentemente pessoal.

Também é importante imaginar a condição nas situações em que a Medicina não oferece possibilidade de cura e, portanto, indicam-se os cuidados paliativos. Talvez seja nessa condição que a diferença entre os cristãos e os não crentes seja mais visível.

Para o médico, é evidente a diferença entre a condição de desespero dos que têm uma visão imanente da vida e veem escapar por entre os dedos bens arduamente conseguidos (dinheiro, prestígio, poder etc.) e aqueles que têm uma visão transcendente, em que o sofrimento também existe (e considerável), todavia é percebido com um sentido e uma finalidade. 

Nessa condição, é importante ter presente a importância da Unção dos Enfermos que, frequentemente, representa um conforto excepcional aos doentes, fazendo, não raramente, que melhorem seus sintomas e sua doença.

A experiência nos mostra que os pacientes querem que lhes seja oferecida a possibilidade de receber atenção espiritual. Em trabalho realizado no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foi constatado que, apesar de menos de 20% dos pacientes serem abordados sobre temas de religiosidade e espiritualidade, 80% deles gostariam de ter tido acesso a tais temas.

Existem, na atualidade, nos departamentos de Epidemiologia de importantes universidades, como  a Universidade de Harvard, estudos que comprovam a importância da prática religiosa na saúde das pessoas.

Num estudo publicado em uma revista de medicina internacional (Vanderweelwe, Balboni & Koh. Health and Spirituality. Journal of the American Medical Association (JAMA), 27 d julho de 2017), os autores consideram que mais atenção aos assuntos espirituais poderia aproximar a Medicina da definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): “Um estado de completo bem-estar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

Finalmente, uma coisa que a Medicina séria não pode prometer: prolongar a vida; no entanto, é algo que parece poder ser encontrado em pessoas religiosas.

Vários estudos mostraram associações entre frequentar serviços religiosos e viver mais tempo. Uma publicação no (JAMA), em 2016, revelou que as mulheres que participavam de qualquer tipo de serviço religioso, mais de uma vez por semana, tinham uma chance 33% menor do que seus pares seculares de morrer durante os 16 anos do estudo. 

Outro estudo, publicado recentemente na revista científica on-line Public Library of Science, PLOS One, descobriu que a frequência religiosa regular estava ligada a reduções nas respostas de estresse do corpo e até mesmo na mortalidade – tanto que os fiéis tinham 55% menos chances de morrer por um período de 18 anos do que as pessoas que não frequentavam o templo, a igreja ou a mesquita.

Afinal, os mandamentos da Igreja parecem ter razão.

Luiz Eugênio Garcez Leme é professor da Faculdade de Medicina da USP, onde se dedica à área de Geriatria

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