Opinião

Por que a Igreja de Jesus foi chamada católica?

É conhecida a frase do Venerável Arcebispo Fulton Sheen: “Não existem mais de 100 pessoas neste mundo que realmente odeiem a Igreja Católica, mas há milhões que odeiam o que pensam ser a Igreja Católica”. Por que, então, Igreja Católica?

A palavra Igreja (“ekklesía” do verbo grego “ekkaléin” chamar fora) significa “convocação”. Designa as assembleias de caráter religioso em geral. No Antigo Testamento, o termo era utilizado para designar o povo eleito reunido diante de Deus, especialmente aquele que, no Monte Sinai, recebeu a Lei por meio de Moisés. Esse povo foi designado por Deus como seu povo santo (Ex 19). 

“Por sua vez, a palavra católica significa “universal”, no sentido de “‘segundo a totalidade’ ou ‘segundo a integridade’”, para dizer que todos os homens são chamados a dela fazer parte. 

Jesus Cristo chamou à primeira comunidade dos que Nele acreditaram, que Ele reconhecia como herdeira daquela assembleia hebraica, de sua Igreja: “O termo ‘kyriakê’, do qual deriva ‘Church’, ‘Kirche’, significa ‘a que pertence ao Senhor’” (Catecismo da Igreja Católica, 751). 

Pela obediência à ordem de Cristo de fazer discípulos de todas as nações (cf. Mt 28,19), os apóstolos passaram a ensinar a respeito Dele e também da necessidade do batismo para uma nova vida no Espírito Santo. Com isso, foram se formando comunidades de batizados que constituíram a Igreja nascente. 

Os batizados se viam, no início, como um movimento dentro do próprio Judaísmo. O adjetivo católica, porém, já era utilizado para qualificar essas comunidades desde o século I:  “por mais estranho que pareça, havia um título da Igreja [...] um título que foi usado pelos padres para aquele propósito. [...] o mundo inteiro, heresias inclusive, foi irresistivelmente obrigado a chamar a segunda eleição de Deus pelo seu título profético de Igreja ‘Católica’. [...] Seitas, dizem os padres, são chamadas pelo nome de seus fundadores, ou de sua localidade, ou de sua doutrina. Assim era desde o começo: ‘Eu sou de Paulo e eu de Apolo e eu de Cefas’; no entanto, foi  dito à Igreja que ela não deveria ter um mestre na terra, e que ela deveria ‘reunir como um, os filhos de Deus que estavam dispersos’. Seu nome cotidiano, que era compreendido no mercado e usado no palácio, o qual tinha toda a chance de se tornar conhecido, reconhecido em éditos estatais, era a Igreja ‘católica’. Essa foi a própria descrição do Cristianismo naqueles tempos em que todos nós estamos empenhados em determinar. E foi reconhecido como tal desde o princípio; o nome ou o fato é apresentado por Santo Inácio, São Justino, São Clemente; pela Igreja de Esmirna. [...] São Clemente usa-o como um argumento contra os gnósticos, Santo Agostinho contra os donatistas e maniqueus, São Jerônimo contra os luceferianos e São Paciano contra os novacianos” (NEWMAN, John Henry. “Conscience, consensus and the development of doctrine”. New York: Image Books, 1992).

Os cristãos não se consideravam, no início, como membros de alguma nova seita, mas, sim, membros de igrejas que se relacionavam com amizade, mediante uma liderança pastoral (NEWMAN, Op. Cit.). 

O mais importante é que tal título não significa simplesmente estar difundida entre os mais diversos povos, mas “que a verdade e o espírito da Igreja, o que ela proclama e a experiência que introduz, podem ser veiculados e assimilados por qualquer cultura e mentalidade. [...]

O catolicismo, de fato, declara corresponder simplesmente àquilo para que o homem é destinado” (GIUSSANI, Luigi, por que a Igreja”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004).

Daniela Jorge Milani é advogada e mestre  e doutoranda em Filosofia do Direito na PUC-SP

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