Comportamento

O que somente a família pode fazer

Por mais que os tempos mudem, os hábitos sejam revistos e reinventados e as famílias tenham novas perspectivas, ocupações e prioridades, existem situações em que somente no âmbito dos laços familiares podemos garantir uma vida saudável a nossos pequenos. Uma delas, aparentemente tão simples, porém tão fundamental para o crescimento saudável das crianças, é o vínculo com os pais. 
Não é um vínculo de qualquer natureza, é o vínculo parental primário e que, se não for estabelecido de modo saudável, trará muitos prejuízos à vida futura das crianças. 
Uma pesquisa realizada pela Princeton University   (https://www.sciencedaily.com/releases/2014/03/140327123540.htm), com base no estudo de 14 mil crianças dos Estados Unidos, mostra que 40% delas não têm vínculos emocionais fortes com os pais, vínculos esses que os pesquisadores denominaram de “apego seguro”. Por apego seguro, eles entendem o vínculo que surge entre pais e filhos quando os primeiros têm capacidade de atender às necessidades das crianças desde os primeiros momentos de vida. Sintonizar-se com as necessidades do bebê, oferecendo-lhe o que  necessita por meio de gestos e atitudes simples, tais como segurá-lo no colo com amor, suprir-lhe o desconforto gerado pela fome, pelo frio etc., coloca os pais no lugar de uma fonte confiável de bem-estar na relação com o bebê, ou seja, cria-se o vínculo de apego seguro. A possibilidade de criar um vínculo dessa natureza inaugura na vida dos pequenos uma base a partir da qual eles podem crescer de modo positivo e equilibrado. Tal vínculo contribui para o desenvolvimento social e emocional das crianças, e estas, por sua vez, fortalecem o desenvolvimento cognitivo, segundo a pesquisa. Outra vantagem para essas crianças é a maior propensão a serem resilientes à pobreza, instabilidade, estresse parental e depressão. Normalmente, não apresentam maiores dificuldades escolares – nem no que diz respeito a problemas de comportamento, como a aprendizagem. 
 Já aquelas que não têm esse apego seguro são mais propensas a abandonar a escola, emprego e formação, têm maior chance de apresentar problemas de linguagem e comportamentos mais pobres até os 3 anos de idade. Acabam por ter comportamentos mais agressivos e desafiadores e tornam-se hiperativas, até mesmo na vida adulta. 
Pensar que 40% das crianças norte-americanas não estão encontrando em seus pais a possibilidade de criar esse apego seguro é bastante assustador!
Se levarmos em consideração os dados, podemos perceber a importância do manejo da criança nos anos iniciais da primeira infância e os efeitos que são gerados para o restante da vida. Sendo assim, cabe a nós, como família, repensar vários aspectos de nossa rotina e de nossas escolhas quando decidimos ter filhos. Para podermos estar em sintonia com os sinais que os bebês nos fornecem de suas necessidades, é fundamental estar com eles – ser pai e ser mãe é algo que se aprende, e, como se diz popularmente, criança não vem com manual de instrução. Precisamos dedicar tempo ao convívio atento para conhecermos o bebê e suas necessidades. Importante lembrarmos: necessidades não são “desejos”. Muitas vezes, os pais se dedicam a não deixar que os pequenos chorem e acabam, com esse objetivo, atendendo a todos os desejos ainda muito impulsivos que apresentam. Isso também não favorece o apego seguro; afinal, as crianças não estão sendo atendidas em suas reais necessidades, mas, sim, em sua busca insaciável de prazer.
São gestos aparentemente simples como garantir uma rotina saudável, com horas de sono suficientes e tranquilas, alimentação de qualidade e pontual, conviver o máximo de tempo possível, dedicando esforço em mudar a rotina de trabalho, se necessário, para estar com o bebê e crescer em conhecimento dessa pequena pessoa que estamos formando para a vida. Transmitir o amor com abraços, sorrisos, alegria pelo convívio, firmeza quando necessário, enfim, tudo isso permitirá que o apego seguro aconteça na relação parental. Ocupar o papel de pai é algo que demanda empenho, muito amor e dedicação. Não é possível delegar essa missão sem que haja algum tipo de prejuízo. Porém, é uma das maiores fontes de alegria e crescimento que podemos encontrar na existência. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o blog educandonacao.com.br
 

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