Fé e Cidadania

Desdobramentos de Puebla na Igreja de Cristo Jesus

Continuamos a reflexão suscitada pela Semana Teológica 2019, da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC-SP, com o tema “Puebla, 40 anos, a opção preferencial pelos jovens e pelos pobres”. Os desdobramentos dessa Conferência são inúmeros na Igreja de Cristo Jesus: entre 27 de janeiro e 13 de fevereiro de 1979, em Puebla de los Angeles, no México, ocorreu a III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. A Igreja presente na América entregou-se profundamente em oração para perceber a realidade dos povos aqui presentes e para melhor atuar pastoralmente.

Na mensagem aos povos da América Latina, o episcopado fez uma profunda reflexão dos temas tratados e buscou assegurar algumas metas no porvir da Igreja presente no “Continente da Esperança”: os pobres e os jovens foram estudados com redobrado carinho. Assim lemos na mensagem “[...] mais uma vez, queremos declarar que, ao tratar de problemas sociais, econômicos e políticos [...] em perspectiva pastoral, como intérpretes dos nossos povos [...], sobretudo dos mais humildes [...]” (nº 3). “Convidamos, de coração, os jovens a vencer os obstáculos que ameaçam seu direito de participar, consciente e responsável, na construção de um mundo melhor” (nº 6). Os pobres e os jovens tornaram-se o coração da mensagem do episcopado.

No longevo papado de São João Paulo II e na sua atenção às mais variadas preocupações da Igreja, no período contemporâneo, destacamos seu amor dileto aos jovens. A Jornada Mundial da Juventude por ele instaurada, em 20 de dezembro de 1985, tornou- -se um momento de avivamento na Igreja e, pessoalmente, para o Papa. Em Roma, em 1986, o Pontífice lembrava aos jovens a importância de dar testemunho na esperança. Assim, a Igreja respondia com prontidão aos anseios da Igreja atuante na América: a juventude presente no coração do episcopado latino-americano tornou-se, também, apreço especial no coração atento e amoroso no pontificado do Papa peregrino. Dessa forma, em 1987, Buenos Aires, na Argentina, acolheu os jovens do mundo inteiro e, ao longo dos anos, esse encontro se repetiu em diversos lugares, sendo que o último aconteceu este ano, em janeiro, no Panamá, e o próximo será em Lisboa, Portugal, em 2022.

O Papa Francisco declarou que, no dia 19 de novembro de 2017, seria celebrado na Igreja o “1º Dia Mundial dos Pobres”. Como cristãos presentes no mundo e atuantes nas variadas atividades do cotidiano, devemos lembrar que a fé está unida às obras “assim também a fé, se não se traduz em ações, por si só está morta” (Tg 2,17). Dessa forma, lembrou o Papa Francisco por ocasião do “1º Dia Mundial dos Pobres”: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade” (1 Jo 3,18). Uma vez mais a predileção da Igreja presente na América Latina, em favor dos mais necessitados, tornou-se eco para toda a Igreja de Cristo Jesus ao redor do mundo. Com referência ao salmista: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu” (Sl 34,7), o “2º Dia Mundial dos Pobres” aconteceu em 18 de novembro de 2018.

Quando a Igreja fala em opção, ela quer dizer uma atenção maior. A opção preferencial pelos pobres e pelos jovens, em 1979, significou para a Igreja dar um tempo maior de escuta aos jovens e um estender alongado dos braços aos pobres. Naquele momento histórico, a Igreja percebeu as maiores necessidades a serem acolhidas e operacionalizadas. Opção não exclui ninguém, visto que a Igreja segue o Divino Pastor e propõe o Evangelho a todos: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Passados 40 anos de Puebla, vemos a Igreja pulsar de maneira vibrante na América e percebemos suas preocupações pastorais presentes no coração de toda a Igreja do Bom Pastor. São João Paulo II, com seu dileto amor aos jovens, e o Papa Francisco, com sua atenção misericordiosa aos mais fragilizados, respondem ao chamado de Cristo à sua Igreja. Portanto, os jovens e os pobres, assim como todos os anseios da humanidade, estão visivelmente marcados nas atividades pastorais da Esposa de Cristo, hoje e sempre. 

Padre José Ulisses Leva é Professor de História da Igreja na PUC-SP

As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO

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