Opinião

A competição por recursos diante da crise das finanças públicas

As polêmicas sobre o contingenciamento de verbas para as universidades federais, que culminaram nas manifestações ocorridas em 15 de maio, prenunciam os problemas que nos aguardam num futuro imediato. O Governo Federal, bem como muitos estaduais e municipais, está “quebrado”. As projeções de redução do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da arrecadação com impostos pioram a situação.

O Estado já contrai novas dívidas para pagar os empréstimos que estão vencendo, a carga de impostos é alta (e nenhum governo anterior conseguiu executar a sonhada reforma tributária que aumentaria a taxação sobre os ricos, desonerando a produção e a classe média), e é difícil imaginar de onde podem vir mais recursos.

Uns culpam o inchaço de um Estado ineficiente e as exigências de uma classe política fisiológica, que age apenas em troca de favorecimentos particulares. Outros culpam o sistema capitalista e a inépcia do governo em administrar sua agenda política. Certamente, uns e outros têm sua parte de razão.

Analisar as raízes do problema é importante para se encontrar as melhores soluções, porém culpar adversários não fará com que os recursos apareçam do nada. Assim, os cortes se tornam quase certos. Afetarão áreas fundamentais tanto para o atendimento da população quanto para o desenvolvimento do País.

Sacrifícios serão inevitáveis (aliás, estão acontecendo há muito). Por isso, além de serem minimizados tanto quanto possível, devem trazer um real ganho futuro para todos. Por exemplo, uma boa reforma da Previdência provavelmente permitirá um uso melhor dos recursos públicos e dará mais segurança futura à população. Malfeita, contudo, não impactará significativamente na redução do déficit público e ainda reduzirá a proteção social aos mais pobres. 

As decisões passam pelas instâncias de poder, e o cidadão comum pode se sentir impotente diante da situação. Todavia, os políticos são sensíveis, por decência ou interesse, às tendências expressas pela população. Assim, todos temos um papel a desempenhar.

Bento XVI, no discurso inaugural da Conferência de Aparecida (13 de maio de 2007), dizia que “uma sociedade na qual Deus está ausente não encontra o consenso necessário sobre os valores morais e a força para viver segundo a pauta destes valores, também contra os próprios interesses”.

Se cada um apenas reivindica os próprios direitos, sem olhar a situação dos irmãos, dizendo que só fará sacrifícios depois que os poderosos derem a sua contribuição, incentivamos – ainda que sem querer – um corporativismo individualista. Sacrifícios serão necessários, temos de lutar para que os mais fragilizados não sofram mais que os outros, temos que reivindicar que o esforço não seja desperdiçado, mas que, realmente, construa um Brasil melhor. Os sacrifícios são para o bem comum, não para manter os ganhos de poucos.

Decisões adequadas e eficientes dependem de que se olhem os problemas de forma realista e comprometida com o bem comum. Cruzadas ideológicas, que apontam inimigos e invocam falhas de outros para justificar os próprios erros, e bandeiras populistas e voluntaristas, que clamam por direitos até justos sem olhar realisticamente a conjuntura e a situação dos mais pobres, não ajudam em nada nesses momentos.

Cabe a todos nós procurar apoiar as propostas e os políticos realistas e comprometidos com o bem comum, afastando-nos do populismo e das ideologias, venham de que lado vierem. Que nossa fé em Cristo seja uma força para enfrentarmos as dificuldades presentes com realismo, sem ideologias, e com verdadeira solidariedade.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.