Editorial

Água no deserto

Começou a Quaresma, e o povo católico encontra-se no deserto, onde, junto com Nosso Senhor, passará pelos 40 dias de jejum em preparação para a Páscoa. O tempo de Jesus no deserto, entretanto, não pode ser meditado fora do contexto da história da salvação – o Novo Testamento é repleto de referências ao texto do Antigo: os israelitas, após serem libertos da escravidão, passaram 40 anos no deserto, guiados por Deus e alimentados pelo maná que Ele lhes dava. Durante esses 40 anos, murmuraram e reclamaram a cada passo, a cada momento – não há água, não há segurança, não há carne. Deus pede que seu povo atravesse a “terra horrível” (Dt 1,19), para que possa entrar na “terra onde corre leite e mel” (Ex 33,3), mas é respondido com ingratidão e desconfiança durante toda a jornada.

Já Jesus Cristo, também levado pelo Espírito de Deus ao deserto para ser testado, vence as tentações e mantém- -se fiel a Deus Pai. Onde os hebreus haviam falhado, Jesus tem sucesso – Ele é o Filho Unigênito do Pai, em quem se realiza o destino de Israel, e é com Ele que os católicos se encontram no deserto quaresmal, que não é um teste, mas uma oportunidade para a reaproximação com Deus: o deserto é um local de conversão, onde Deus pede a seu povo que aprenda a depositar sua confiança Nele e não nos bens terrenos.

Durante a Quaresma, a Igreja pede que seus fiéis pratiquem a Oração, o Jejum e a Caridade, e, nas próximas semanas, O SÃO PAULO dedicará seu editorial a esses temas, começando hoje com a Oração.

Na primeira audiência de 2019, o Papa Francisco falou que a oração não é um amontoado de palavras ou “falar com Deus como um papagaio”, mas é algo que vem do coração, algo que nasce no interior do fiel que pretende rezar. Não é a primeira vez que o Papa fala sobre a oração nesses termos — no final de 2018, Sua Santidade disse que a oração brota de uma inclinação que existe no interior da alma, de uma saudade que é “talvez um dos mais profundos mistérios do universo”

Mas uma inclinação para quê? Uma saudade do quê? De acordo com o Papa, de uma profunda intimidade com Deus. A oração não é apenas frases repetidas, mas uma disposição constante de um coração que busca a Deus a cada momento do seu dia e, assim, colore todos eles com a luz da graça. São Francisco de Sales, na “Filoteia”, diz: “A oração, fazendo o nosso espírito penetrar na luz da divindade e expondo a nossa vontade abertamente aos ardores do amor divino, é o meio mais eficaz de dissipar as trevas de erros e ignorância que obscurecem a nossa mente e de purificar o nosso coração de todos os seus afetos desordenados. É ela a água da graça, que lava a nossa alma de suas iniquidades, alivia os nossos corações, oprimidos pela sede das paixões, e nutre as primeiras raízes que a virtude vai lançando, que são os bons desejos”.

A oração é a água da graça que nos sacia durante o deserto quaresmal. Mas como começar a rezar? Como rezar melhor? O Papa Francisco tem a resposta: “O primeiro passo para rezar é ser humilde, ir ao Pai, ir a Nossa Senhora, e dizer: ‘Olhe para mim, sou um pecador, sou fraco, sou mau’. Sempre se deve começar com humildade. O Senhor escuta; uma oração humilde é sempre ouvida pelo Senhor”

 

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