Espiritualidade

‘Em atenção à tua palavra...’

Praticamente todas as nossas atividades exigem atenção, mas algumas delas exigem muita atenção. Isso quer dizer que não podemos estar divididos, fazendo duas coisas ao mesmo tempo. É preciso dar prioridade àquilo que é mais importante, que merece maior atenção. Se isso é válido para a nossa vida familiar, profissional e social, é ainda mais válido para a nossa vida espiritual. De fato, a intensidade e a seriedade com que realizamos todas as nossas atividades estão diretamente relacionadas à nossa espiritualidade, porque tudo o que fazemos deve estar permeado pela fé e, se não for assim, então viveremos uma divisão absurda entre fé e vida.

Num dia bastante comum, em que os pescadores estavam em seus barcos lançando as redes, Jesus se aproximou da praia e subiu na barca de Simão Pedro. Ele pediu que afastassem a barca da margem, para que a multidão pudesse ouvir melhor, e, no fim, quando já havia terminado de falar, pediu aos pescadores que avançassem para águas mais profundas e que ali lançassem suas redes para a pesca. O que se poderia esperar dessa pesca? Por que esse esforço maior, depois de uma pescaria sem resultado?

Com os barcos vazios, podemos imaginar que os pescadores também estavam abatidos, cansados e sem ânimo para lançar as redes. Atenderam à primeira solicitação de Jesus e afastaram a barca, ouviram a sua pregação e, então, foi preciso atender ao segundo pedido. A resposta de Simão Pedro nasceu justamente da escuta religiosa da Palavra. Jesus ensinava como uma autoridade diferente, não era apenas uma sabedoria de conhecimento, mas da vivência e da proximidade com Deus. Em Jesus, palavra e gestos não estão separados, não se dividem. Fé e vida estão intimamente ligadas.

Em atenção à palavra de Jesus, Pedro aceitou avançar com a barca e lançar as redes nas águas mais profundas. Pedro não desviou sua atenção, não ficou dividido pelo desânimo nem pelo medo. Sua decisão foi uma verdadeira resposta de fé, nascida do encontro pessoal com o Senhor. A força desse encontro produziu mais do que algumas redes repletas de peixes, ela despertou um profundo desejo de seguimento e, também, de consciência de si mesmo. Simão reconheceu sua fragilidade e sua incapacidade, mas se deixou tocar pelo amor misericordioso de Jesus.

O milagre da pesca foi o resultado da escuta da voz de Jesus, não foi ato mágico para atrair a atenção da multidão. O que realmente impressionou os discípulos foi a força da palavra proclamada, capaz de vencer o medo, o desânimo e de dar um novo sentido para suas vidas. Pela escuta, deixaram de pescar na água rasa de uma existência sem sentido e avançaram para águas mais profundas, na presença de Deus. O esforço valeu a pena, e o resultado foi maior do que se podia esperar

Quem ouve a Palavra não pode mais voltar à antiga condição de pescador, não serve mais uma barca nem pode usar as mesmas redes. A vida nova em Cristo é também novo tempo, uma nova pescaria. Os discípulos são incorporados à missão de Jesus e devem anunciar a esperança, a misericórdia e a paz. No meio dos discípulos também não pode haver divisão entre fé e vida. Só assim, a pregação terá credibilidade. Estar atento à Palavra do Senhor: essa é a condição fundamental para a vida cristã e para toda a obra de evangelização, ontem, hoje e sempre.

 

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