Cultura

A Imaginação Moral

Dica de Leitura

 

Gertrude Himmelfarb pertence à geração de intelectuais norte-americanos que redescobriram a riqueza do conservadorismo britânico e que, refletindo sobre essa tradição, renovaram o próprio pensamento conservador. (...) Ela se destaca como a historiadora do grupo – uma acadêmica prestigiada, especialista em Inglaterra vitoriana e muito sensível ao papel dos costumes sociais na organização política das culturas. (...) Em “A Imaginação Moral”, a historiadora homenageia os eruditos e literatos que a influenciaram, num arco temporal que abrange de Edmund Burke a seu próprio amigo Lionel Trilling. A lista ainda inclui Michael Oakeshott, Winston Churchill, John Stuart Mill, Jane Austen, Charles Dickens, Benjamin Disraeli, Walter Bagehot, George Eliot, John Buchan e os Irmãos Knox (Edmund, Dillwyn, Wilfred e Ronald). 

Com um capítulo dedicado a cada uma dessas figuras, “A Imaginação Moral” apresenta-se como uma compilação de ensaios biográficos. Trata-se de uma coletânea nada ordinária, entretanto. Gertrude Himmelfarb põe em prática a sua habilidade de entrelaçar os hábitos comunitários com o panorama sociocultural e de reconhecer nos mais prosaicos atos de um indivíduo as marcas indeléveis de seu caráter. De cada personalidade, ela destaca uma ideia, característica ou acontecimento reveladores: de Burke, a afinidade (não muito evidente) com o espírito judaico, e a ressonância disso em sua crítica ao Iluminismo e à Revolução Francesa; de Oakeshott, a pertinência do conceito de “disposição conservadora”, e a coerência e profundidade de sua produção bibliográfica; de Churchill, o heroísmo de seus feitos, que o coloca na galeria dos grandes homens, dos que fizeram história (ainda que os traços de seu temperamento lembrem ter se tratado, afinal, de um ser humano comum); de Mill, a repercussão em seu pensamento de certas vivências pessoais, e a existência de ideias mais conservadoras que liberais em alguns dos seus textos menos conhecidos; de Austen, a sagacidade de ilustrar, no romance “Emma”, como o aprendizado dos hábitos mais simples aponta para a educação dos valores mais elevados; de Trilling, a atitude de encarar a vida moral com realismo etc.

Todos esses pensadores estão unidos tanto em suas ideias quanto em suas histórias de vida, pelo cultivo de uma “imaginação moral”. Esse conceito – cunhado pelo primeiro erudito que é comentado na obra, Edmund Burke, e recuperado pelo pensador cuja análise encerra a coletânea, Lionel Trilling – denota a inclinação de nos olharmos, e a nossos semelhantes, como agentes éticos (em vez de meros itens da natureza ou da sociedade), e assim entendermos que todas as ações portam valores, conforme promovam ou inviabilizem uma boa ordem na experiência humana.

 

FICHA TÉCNICA:

Autor: Gertrude Himmelfarb

Páginas: 280

Editora: É Realizações

 

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