Comportamento

Que tal de liberdade é essa?

Estamos numa época em que se fala e se busca intensamente a liberdade – os filhos devem ser livres, os pais devem ser livres, os cônjuges devem ser livres.... tudo o que é fruto de “obrigação” traz desconforto e dificuldade nos relacionamentos. Há que se criar pessoas livres. É verdade, a liberdade é preciosa; aliás, é inerente à pessoa e, desse modo, não temos liberdade, mas, de fato, somos livres.

Vamos pensar um pouco sobre a liberdade, pois me parece que, enquanto não soubermos bem do que se trata essa tal de liberdade, não conseguiremos nem sequer almejá- -la verdadeiramente.

Ser pessoa é ser livre. Partindo dessa premissa, já podemos repensar a ideia de liberdade como possibilidade de escolha simplesmente. Não que esse não seja um dos seus aspectos, porém, não o principal. A livre escolha, diante da grandeza da liberdade, acaba por ser uma visão reduzida de tamanho dom.

Se a liberdade é inerente à pessoa, precisamos ter em mente que, conforme crescemos como pessoa, crescemos também em liberdade, ou seja, à medida que temos maior conhecimento de nosso papel, de nossa missão, de nossos dons, enfim, à medida que crescemos em conhecimento próprio, seremos mais livres.

A modernidade tem colocado na “pauta do dia” a busca do prazer, da realização de desejos, de transformar a vida em momentos de alegria, e, daí, surge a necessidade de vivermos essa liberdade de escolha, de uma escolha, no fundo, nem sempre livre, pois submetida a desejos ou sentimentos imaturos que vão acabar por promover uma felicidade fugaz, débil, tão passageira quanto é o prazer. De fato, o que mais ouvimos hoje no contato com crianças das mais diferentes idades é - “Eu quero” ou “eu não quero”. Dizem isso com uma força e convicção que, muitas vezes, determinam a ação dos pais, e estes, confusos com tantas e tão diferentes informações, pensam estar criando pessoas “de opinião”, que sabem fazer valer suas vontades - pessoas livres. Ser livre, porém, é muitíssimo mais. É agir em busca de se realizar como pessoa, ou seja, de cumprir sua missão, de fazer o bem, de tornar-se aquilo que foi criada para ser. Liberdade de escolha, nesse sentido, está estreitamente relacionada à possibilidade de escolher o bem, isto é, de exercer uma escolha iluminada pela inteligência e não pelos sentimentos, os quais podem, em muitos momentos, ser maus conselheiros, à medida que muitas vezes são desproporcionais e, portanto, podem nos induzir a escolhas que não levem ao bem. Nessa perspectiva, se quisermos verdadeiramente viver nossa liberdade, é preciso que cresçamos especialmente em conhecimento próprio. Conhecer os dons que temos, nossas tendências, nossos sentimentos, nossa história, nossas reações... Conhecer-se é um tesouro e crescer em autoconhecimento potencializa nosso ser e nossa liberdade. Afinal, isso nos dá a possibilidade de maior “domínio”, de senhorio sobre nossos atos e nossas escolhas, dá mais luz para decisões mais acertadas e para fazermos um bem maior, visto que uma outra consequência natural do autoconhecimento é a abertura aos demais. Quanto mais nos conhecemos e temos consciência do que somos, dos dons que temos e do que nos falta, mais tolerantes e abertos somos a esses aspectos em relação aos que convivem conosco. O autoconhecimento promove a possibilidade de transbordarmos, de manifestarmos nosso ser aos outros de modo mais livre e positivo. E mesmo que em determinadas circunstâncias nossa liberdade exterior esteja cerceada – por um limite físico, por uma situação pontual – teremos ainda a liberdade interior que pode ser vivida sempre.

Apesar de ainda podermos refletir e entender muito mais sobre a grandeza da liberdade, creio que até aqui já temos ideias suficientes para vislumbrar a riqueza de nos educar e educar nossos filhos para a liberdade. De perceber que é fundamental conhecer os pequenos, ajudá-los para que cresçam no conhecimento próprio, ter clareza do bem e da missão para que foram criados e sermos verdadeiras luzes que iluminam o caminho, que ensinam critérios claros, que educam os sentimentos e a vontade para que, ao crescerem, cresçam em liberdade, podendo criar e trilhar caminhos únicos, diferentes, talvez até inusitados, porém com uma meta clara: tornar-se cada vez mais o que são, ou seja, pessoas criadas por amor, únicas e irrepetíveis. Certamente, assim, viverão a liberdade de modo mais íntegro e positivo, fazendo escolhas que os tornem cada vez mais livres.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o blog educandonacao.com.br

 

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