Editorial

A escola e o desafio da educação religiosa

Num período recente, era frequente nos meios intelectuais a ideia de que as religiões iriam desaparecer à medida que o conhecimento científico e a escolarização avançassem no mundo. A história, contudo, vem desmentindo essa suposição, e as religiões permanecem como instituições fundamentais para o pensamento humano.

O senso religioso é uma dimensão inerente a todos os seres humanos. Mesmo aqueles que o negam acabam adotando posturas e mentalidades tipicamente religiosas em outras esferas da vida. Assim, surgem os apegos “quase religiosos” a partidos e clubes de futebol, ou os rituais laicos que mimetizam manifestações religiosas – como as cerimônias de posse e formatura, os casamentos civis, que imitam aqueles celebrados na igreja, os desfiles militares etc.

Entre os maiores problemas de uma religiosidade malformada estão os riscos do fanatismo, do sectarismo e do fundamentalismo. Todos eles nascem de um senso religioso que percebe a existência e o valor de um Absoluto do qual brota toda a existência, mas não está suficientemente preparado para explicitá-lo na própria vida, interagindo com os demais, dando as razões e enunciando as consequências das próprias convicções.

Por isso, a educação religiosa é um direito de todo ser humano e um dever das sociedades. Direito e dever a ser exercido principalmente pela família, mas com o qual toda a sociedade deve estar comprometida. Não se trata de fazer proselitismo ou violar a liberdade de consciência, mas de ajudar cada jovem a reconhecer seu desejo de Absoluto, conhecer as respostas que sua família e a comunidade deram a esse desejo, e, a partir daí, posicionar-se de forma consciente e madura.

O Ensino Religioso, enquanto disciplina escolar, é – ou deveria ser – a forma pela qual a escola colabora com esse esforço coletivo. Para isso, contudo, tem de ser confessional por uma razão simples: não se trata apenas de transmitir conteúdos conceituais, mas de testemunhar uma forma de viver e de se relacionar com o Absoluto. Um professor ateu não pode testemunhar o valor de uma religião em que não acredita, um católico não pode testemunhar o valor do ateísmo ou do Islamismo, e assim por diante. Um Ensino Religioso não confessional seria a mais brutal violência contra os jovens, pois fantasiaria as convicções do sistema escolar como “conceitos neutros”, coisa que nunca conseguiriam ser.

Numa sociedade plural, com elevada fragmentação de crenças, o Ensino Religioso confessional tem o desafio prático de oferecer às famílias uma disciplina condizente com suas convicções, respeitosa e em diálogo com as demais. Não é fácil, mas é fundamental para que um suposto progresso não crie um mundo de seres humanos que mais parecem máquinas ou animais muito inteligentes, mas escravos dos próprios instintos – pois é a nossa relação com o Absoluto que determina o exercício de nossa humanidade.

Para vencer esse desafio, os professores devem ser capazes de testemunhar adequadamente suas crenças, em diálogo com as demais. A ameaça à pluralidade não está no Ensino Religioso confessional, mas na sua ausência ou na sua má administração. Por isso, o Vicariato Episcopal para a Educação e Universidade da Arquidiocese, em parceria com a Faculdade de Teologia da PUC-SP, vem oferecendo um curso de extensão em Ensino Religioso.

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