Opinião

Renovar a Catequese

O primeiro sínodo arquidiocesano de São Paulo começou nas paróquias. Entre as muitas realidades para as quais devemos olhar, destaca- -se o humilde e generoso trabalho de iniciar na vida da comunidade cristã os que a procuram.

Ninguém nasce cristão. Tornamo-nos cristãos por um ato de livre escolha pessoal, ou feito em nosso nome por nossos pais, a ser assumido desde a entrada na idade da razão. 

A adesão de fé em Jesus, na entrada da comunidade cristã, sempre obedeceu a um rito de purificação, o Batismo, que assegura o ser cristão, exprimindo o abandono de um modo de viver alheio à alegria do Evangelho e a adoção de um novo estilo de vida, alimentado pela Palavra e pelo Espírito de Jesus. 

O grande desafio da Catequese é de transmitir aos iniciantes essa Palavra e esse Espírito. Quando todas as crianças eram batizadas, a Catequese se fazia em paralelo com a educação. Hoje, com a secularização da escola, necessitamos da figura dos catequistas. 

A grande contribuição que nos dá a nova Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, sobre a prática da Teologia na Igreja, de que falamos em artigo anterior, é de renovar a formação dos catequistas. Como na Teologia, a formação dos catequistas, conforme estabelece a Constituição Apostólica, deve dar prioridade ao Espírito sobre a Palavra, à percepção e ao seguimento do Espírito de Jesus, que anima suas palavras e ações, sobre o conteúdo do que nos explica ou exige de nós. 

Antes de mais nada, reza o texto da Veritatis Gaudium, “o critério prioritário e permanente [da Catequese] é a contemplação e a introdução espiritual, intelectual e existencial no coração do querigma, ou seja, da feliz notícia, sempre nova e fascinante, do Evangelho de Jesus, ‘que cada vez mais e melhor se vai fazendo carne’  na vida da Igreja e da humanidade (Veritatis Gaudium, 4). 

Aqui temos o mistério da salvação, de que a Igreja é em Cristo sinal e instrumento no meio dos homens: “um mistério que mergulha as raízes na Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e evangelizador, que sempre transcende toda a necessária expressão institucional […] e que tem o seu fundamento último na iniciativa livre e gratuita de Deus” (VG, 4). 

Essa nova forma de entender o catecumenato é, de fato, uma volta às suas origens, que exige do catequista mais do que o simples saber as verdades da fé. Exige, antes de tudo, uma vivência de comunhão espiritual com Jesus, que nos torna capazes de assimilar o seu modo de pensar, a partir da experiência libertadora e responsável de viver como Igreja a “mística do nós” que se torna fermento daquela fraternidade universal “que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrandose ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom” (VG, 4).

Tomar consciência da necessidade de rever a formação de catequistas, padres e simples fiéis, pensamos ser o primeiro passo para o cumprimento de uma das mais significativas tarefas do sínodo: a renovação da Catequese.

Arte: Sergio Ricciuto Conte
As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.
Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.