Espiritualidade

‘Mães más’

Há anos, deparei-me com um artigo escrito por um médico psiquiatra, cujo título chamava a atenção: “Mães más”. Como recentemente comemoramos o Dia das Mães, vale a pena transcrever um trecho do artigo: 

“...quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer: 

Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo... 

As outras crianças comiam doce no café, e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas. 

As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço, e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. E ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães que deixavam seus filhos comerem vendo televisão. 

Ela insistia em saber onde estávamos a toda hora (tocava o nosso celular de madrugada e “fuçava” nos nossos e-mails). Era quase uma prisão. 

Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela “violava as leis do trabalho infantil”. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar as nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse trabalho que achávamos cruel. 

Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer.

Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. 

A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos, tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.

Enquanto todos podiam voltar tarde à noite com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).

Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência: Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. 

Foi tudo por causa dela. 

Agora, que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “pais maus”, como minha mãe foi. 

Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há suficientes ‘mães más’” (Carlos Hecktheuer, Zero Hora, 02-07-2003, página 15). 

Todos estamos de acordo ao dizer: “minha mãe é o grande amor da minha vida”; ou “tudo o que sou hoje, devo à minha mãe”; ou ainda: “minha mãe, sem dúvida, é a pessoa que mais me ama”. 

Todos nós somos eternamente gratos às nossas mães, porque nunca retribuiremos a elas aquilo que delas recebemos: elas nos geraram quando acolheram em seu ventre o dom das nossas vidas, elas nos protegeram quando éramos completamente incapazes de fazer qualquer coisa sozinhos: comer, beber, vestir-nos, andar, falar, pensar... 

Além disso, devemos aos nossos pais um dom ainda maior, o dom da fé, porque fomos educados na fé dos nossos pais, que nos batizaram, nos instruíram nos ensinamentos de Jesus, nos levaram à Igreja e nos estimularam a conhecer e amar a Deus.

Temos motivos, inclusive, para reconhecer que, em nossas mães, descobrimos a grandeza do Amor de Deus, que nos “ama muito mais do que todas as mães do mundo podem amar os seus filhos” (cfr. São Josemaria, Caminho, nº 267).

Parabéns às nossas mães!

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar e Vicario Episcopal
para a Educação e a Universidade

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