Comportamento

O sucesso dos filhos

Foi publicado na capa da revista Time (04/09/2017) o tema “How kid sports turned pro” (Como o esporte infantil se tornou profissional- tradução livre), por Sean Gregory, com a ilustração de um garoto de 10 anos que já se encaminha para faturar muitos dólares por sua atividade esportiva no beisebol.  A revista é norte-americana e o assunto é sobre beisebol. Então, o que temos a ver com isto aqui? As novidades e tendências do mundo correm cada vez mais rápidas. O que está lá, logo estará (ou será que já não está?) aqui. 

Estamos falando de como as crianças, ainda em idade muito precoce, estão sendo levadas a um processo de competitividade selvagem para garantir o seu lugar ao sol no topo do mundo. E, consequentemente, com a glória vem muito dinheiro, acumulado na família e nos empresários. Crianças que, antes mesmo de tomarem consciência da estrada que estão percorrendo, passam a sofrer uma preparação muito exigente para se tornarem as melhores. Evidentemente, o trono está reservado para pouquíssimos dos milhares que correm desesperados para esse lugar. A enorme maioria não chegara lá, acumulando frustrações, decepções, além de um esgotamento físico e mental totalmente desproporcional às suas condições humanas para suportá- los. Essa guerra desvairada pode deixar sequelas para toda a vida.

Falando sobre o Brasil, encontrarmos crianças com uma agenda que faz qualquer grande empresário sentir-se desocupado. Crianças que, além do currículo estudantil regular, estão envolvidas em inúmeras outras atividades, desde cursos de idiomas até várias categorias esportivas, sem nos esquecermos da informática, instrumentos musicais e encontros sociais. São crianças que mal conseguem respirar. Em cada atividade, são exigidas no seu limite. Caso se perceba que para aquela modalidade, cultural ou esportiva, ela apresente um dom ou capacidade especial, se focará nele, como se o pequeno de 10 ou 12 anos fosse um profissional experiente, com todo o peso da responsabilidade que uma criança não está, evidentemente, preparada para receber. Não é raro, pelo contrário, até frequente, que muitas adoeçam pelo caminho. Aonde estamos querendo chegar? 

É justo que a educação de um filho sempre foi, e continuará sendo, prioritária para pais responsáveis. A percepção de um mundo cada vez mais eclético e diversificado torna as escolhas difíceis para saber para aonde se dirigir. As preocupações daqueles que acham que todo bebê nascido já está atrasado para o quanto a vida exige atualmente para o “sucesso” parece ser um sentimento que toma conta de muitos. Diante do alarde daqueles que pensam que o sucesso está vinculado a ganhar mais o quanto antes, corremos o risco de viver como se estivéssemos num incêndio constante, que queima o tempo, e pode comprometer a felicidade futura de seus filhos. 

É preciso refletir e, para isso, desacelerar. Seria a melhor educação o caminho da fama precoce reservada para poucos que se tornarão milionários a qualquer preço? Independentemente de quanto isto custará para seu filho? Seria a educação um investimento financeiro, pelo qual os pais esperam receber com juros o que foi aplicado no “capital” de uma criança? Certamente que isso está muito distante - e é mesmo o contrário - de ser o caminho adequado. Conhecer cada criança, cada filho, e investir no amor que se pode dedicar a ela, independentemente do seu “potencial”, mas para que se sinta amada por simplesmente existir; ensinar as atitudes que poderão conduzi-la à felicidade dentro das suas características próprias, respeitando seus limites e condições a fim de desenvolvê-los sem o risco de aniquilá-los; revelar que mais do que o poder de ter mais, é preciso desenvolver a capacidade de ser melhor como pessoa humana, que é o mais importante. Se assim for, talvez deixemos de ter superatletas precoces acompanhados de seus poderosos empresários na passarela vermelha da fama, mas teremos um mundo com uma infinidade de crianças mais felizes junto aos seus pais e familiares. 

 

 

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