Editorial

A ética do cuidado na luta contra a violência sexual

Diante da notícia de um jovem que, num ônibus, ejaculou sobre uma mulher, existe uma justa e necessária indignação. Mas, quem vê o fato com os olhos do amor, com o olhar que Cristo nos propõe, não pode deixar de se entristecer com a dor e o sofrimento de todas as vítimas. Sim, “todas as vítimas”, porque elas são muitas. A mulher que sofreu com o ataque, evidentemente. Mas, também, o próprio atacante, pois, como algumas reportagens vêm mostrando, trata-se de uma pessoa com distúrbios psíquicos, que nunca será feliz com tais atos, bem como seus familiares, expostos a essa triste e constrangedora situação.

Distúrbios mentais não justificam nem desculpam atos antissociais. Toda pessoa, homem ou mulher, adulta ou criança, tem direito de ser respeitada e estar segura nas ruas. Mas, uma situação assim expõe dramaticamente as chagas de uma sociedade que não sabe respeitar, acolher e tratar os cidadãos em seus limites e fragilidades. 

É fundamental termos legislações rigorosas e agentes públicos capacitados para acolher as vítimas e identificar os culpados, tomando as devidas providencias nos casos de abuso e violência sexual. A garantia da pena é importantíssima para inibir os delitos e fundamental para combater a violência gerada pelo machismo. 

No entanto, não basta quando se trata de atender às pessoas com necessidades especiais ou mesmo de construir uma sociedade mais humana. Não se trata de defender a liberação inconsequente de uma pessoa que podia causar mal a outras, como parece ter ocorrido no caso em questão, mas sim de tratá-la com o necessário cuidado e realismo.

Num caso como esse, a violência provavelmente decorre de uma falta de acompanhamento adequado a pessoas com distúrbios mentais. Aqui, o Estado tem o dever de procurar acompanhar a pessoa e sua família, dando-lhes o apoio necessário para uma vida digna e uma inserção social adequada. 

As famílias são as células básicas onde se dão a sociabilização e o enfrentamento dos problemas mais profundos de nossa personalidade. Sem elas, nenhum governo fará frente a um problema como esse. Os pais, que na imensa maioria dos casos não medem sacrifícios pelo bem dos filhos, não são culpados desses problemas. Mas, numa condição atribulada e complexa como a de hoje, precisam de amparo adequado para enfrentar as situações mais delicadas.

Igualmente, é preciso uma educação que ensine o respeito ao próprio corpo e à pessoa do outro. Tal educação, porém, só será plenamente eficiente se inserida no contexto de uma “ética do cuidado”, lembrada pelo Papa Francisco na Laudato Si’ , que oriente os governos, as comunidades e as famílias a cuidar de todos – e particularmente dos mais frágeis – com a devida consideração e o devido carinho.
 

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