Liturgia e Vida

‘Vai e faze tu a mesma coisa’ (Lc 10,37)

15º Domingo do Tempo Comum – 14 DE JULHO DE 2019

Uma das histórias mais conhecidas de Nosso Senhor é a chamada Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37). Nela, Cristo reafirma que o caminho para se alcançar a vida eterna é o amor: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” (Lc 10,27). Além disso, Ele explica o que nos torna verdadeiramente “próximos” uns dos outros: “usar de misericórdia” (Lc 10,37).
Alguns Padres da Igreja tenderam a ler esta parábola como uma grande alegoria de realidades sobrenaturais. Assim, o homem que “descia de Jerusalém para Jericó” representaria a humanidade que, depois do pecado original, desceu do Céu em direção ao inferno. Os “assaltantes” seriam, sob um ponto de vista alegórico, os demônios que “arrancaram tudo” e “espancaram” o homem decaído desde Adão. Largaram-no “quase morto”, pois o deixaram fisicamente vivo, mas espiritualmente sem vida.  
O “sacerdote” e o “levita”, que viram o homem, mas se omitiram e “seguiram adiante por um outro lado”, representariam os sacrifícios de animais conforme a Lei de Moisés, que se mostraram incapazes de salvar-nos. Com efeito, a salvação veio somente por meio do sacrifício de Cristo na Cruz. 
O Samaritano seria Jesus! Ele, sim, “chegou perto, viu e sentiu compaixão” da humanidade ferida pelo pecado! Sendo o Verbo de Deus, fez-Se homem como nós, curou nossas “chagas” com o “óleo” de seus sacramentos e com o “vinho” da Eucaristia. Retirou-nos do chão sujo e nos colocou “sobre o seu próprio animal”. Isto é, elevou-nos, por meio do Batismo, para que nos tornássemos participantes da natureza divina. Em seguida, encaminhou o homem salvo, porém ainda ferido, a “uma pensão, onde cuidou dele”. Esta pensão seria alegoricamente a Igreja. 
O “dono da pensão” seriam os cristãos. Ao prometer “quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”, o Senhor estaria reiterando que, na sua segunda vinda para o Juízo Universal, retribuirá a cada um o bem que tiver feito pelo próximo. As duas moedas que lhes deixou representam, sob essa perspectiva alegórica, o duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo, que é a moeda que temos para gastar neste mundo.  
Essa leitura alegórica pode nos ajudar a ver o Evangelho com maior confiança. Afinal, lendo a sua mensagem “Faze isso e viverás” (10,28) e “Vai e faze a mesma coisa” (10,37), poderíamos sentir-nos sem forças e pensar que o Evangelho se limita a exigir uma lei moral. Sim, para agradar a Deus, é necessário praticar o bem; porém, somente é possível fazê-lo porque o Senhor mesmo já fez um bem muito maior por nós. Perto de tudo o que Ele fez e faz por seus filhos, as exigências do amor ao próximo são muito pequenas e leves. Ainda mais se consideramos que, por meio de suas graças atuais, “é Deus quem realiza em nós tanto querer como fazer” (Fl 2,13) o bem. Que o Senhor nos ensine a amar com obras e de verdade!

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