Editorial

Um caminho de discernimento feito à luz do Espírito Santo

A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia continua em sua segunda semana de trabalhos. A primeira semana foi dedicada às chamadas congregações gerais, quando os participantes fazem intervenções sobre temas relacionados à vida e à missão da Igreja na região amazônica, a partir de suas realidades e experiências concretas.

O Papa Francisco participa desses momentos, ouvindo atentamente a exposição de cada participante. Em seu discurso de abertura dos trabalhos, ele pediu que todos falassem com coragem, sem receio de dizer o que sentem e pensam, e que escutem com humildade, abertos para o diálogo. 

Esse processo de escuta e discernimento continua na etapa seguinte, na qual os bispos se reúnem em grupos linguísticos para aprofundar as reflexões feitas na plenária. Depois, há outra rodada de congregações gerais, seguida de um novo momento de círculos menores. 

Nos debates, ficou evidente que o foco do Sínodo é a missão da Igreja, sua presença, carências e os desafios para a evangelização na Amazônia. Também preocupa a situação dos povos que ali vivem, bem como a preservação do meio ambiente, “casa comum”, criação divina, questões que impactam diretamente a vida e a missão eclesial nessa vasta região. 

Quando, por exemplo, alguns bispos manifestaram sua preocupação com a dificuldade enfrentada por muitas comunidades de ter acesso aos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devido à falta de sacerdotes, foi indicada a possibilidade de ordenar homens casados para serem sacerdotes em suas próprias comunidades e não dependerem apenas das esporádicas visitas de missionários. 

A apresentação dessa proposta, no entanto, foi uma oportunidade para que outros bispos levantassem questões mais profundas sobre a evangelização e a transmissão da fé na região. Uma delas diz respeito à necessidade de uma pastoral vocacional entre os jovens indígenas, que possibilite um autêntico encontro com Cristo, ressaltando que o testemunho de santidade dos missionários que doam sua vida na Amazônia é a primeira promoção vocacional.

Houve, também, intervenções que alertaram para o risco de resumir o sacerdote apenas a um “agente autorizado para ministrar a Eucaristia” e não como um pastor da comunidade, mestre de vida cristã configurado ao Cristo Sumo Sacerdote.   

A valorização e a formação dos leigos, por meio de seus ministérios e vocação próprias, evitando o clericalismo, também foram temas salientados nas intervenções. 

Discernimento é, portanto, a palavra-chave do caminho sinodal. Desse processo de diálogo, escuta e oração, nascerá o documento final do Sínodo, que será trabalhado na próxima semana. Esse texto não terá deliberações, mas indicações para que o Pontífice possa, posteriormente, discernir, diante de Deus, sobre quais caminhos a Igreja deverá seguir para cumprir sua missão na Amazônia.

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