Editorial

‘Tragédia anunciada’

“Meu Deus, meu Deus...! Misericórdia, meu Pai”.  Essas palavras, seguidas de choro, expressam a reação de uma moradora de um prédio vizinho ao edifício de 26 andares que desabou na madrugada de 1º de maio, no centro da Capital Paulista, resultado de um incêndio. A moradora gravou o desabamento. 

Segundo informações da Prefeitura de São Paulo, 148 famílias residiam no edifício, propriedade abandonada do Governo Federal há 16 anos e ocupada irregularmente desde 2006 por um movimento denominado Luta por Moradia Digna. Os moradores, segundo denúncias nas redes sociais, pagavam em média de R$ 300 a R$ 450 de aluguel para lá residirem. 

A primeira pergunta que surge: sendo edifício uma propriedade pública do Governo Federal, ocupado irregularmente por um movimento social que, conforme diz a própria sigla, luta por moradias dignas, a quem eram pagos esses aluguéis?  

Informações veiculadas pela Rede Globo afirmam que o edifício, que já foi sede da Polícia Federal e do INSS, era objeto de negociação entre o Governo Federal e a Prefeitura de São Paulo tendo em vista sua utilização para algum fim público e social. Segundo informações do urbanista Kazuo Nakano, em entrevista ao  “SP2”, da Rede Globo , em 1º de maio,  o edifício foi oferecido à Unifesp, que após vistoria  o recusou porque constatou a existência de riscos; igualmente o fez, pela mesma razão, a Prefeitura de São Paulo, durante as gestões dos prefeitos Gilberto Kassab e de Fernando Haddad. Conclui-se que era de conhecimento das autoridades do Governo Federal e municipal que o edifício apresentava riscos de segurança e, no entanto, nada foi feito. Pior, o Ministério Público arquivou em 18 de março deste ano uma investigação que apontava riscos estruturais no edifício, com base em laudos da Defesa Civil que afirmavam não haver problemas estruturais. 

Não deveriam as autoridades públicas ter feito a reintegração de posse do edifício de sua propriedade e que era, inclusive, um marco da arquitetura moderna com fachada tombada, após cadastrar e transferir essas famílias para habitações dignas e seguras, por meio de um programa habitacional sério, planejado, e que poderia até mesmo usar os diversos edifícios abandonados no Centro? Falta à cidade um programa de política habitacional para atender a população carente, que cresce em número a cada ano. Falta planejamento que permita à cidade de São Paulo receber imigrantes que todos os dias aqui chegam em busca de uma nova vida, combatendo de forma propositiva as ocupações irregulares que, além de  expor as populações carentes a riscos e à exploração de milícias, “favelizam” toda a cidade. 

Laudos sobre as causas incêndio serão realizados e deverão levar 30 dias para ficar prontos.  O que se sabe, por ora, é que começou com uma explosão no 5º  andar e o incêndio se alastrou rapidamente por todo o edifício. Ex-moradores testemunham que havia rachaduras nas estruturas do edifício e acúmulo de lixo nos poços dos elevadores e por todo o prédio. 

Tudo nos leva a concluir que o incêndio e o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida era uma tragédia anunciada e que poderia ter sido evitada.

 

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