Editorial

Por que trabalhar?

Uma leitura precipitada do livro do Gênesis pode nos mostrar uma concepção errônea, porém muito em voga, da relação do homem com o trabalho: que este é um castigo imposto por Deus ao primitivo casal, devido ao pecado original. Há os que confundem a dificuldade própria do trabalho - este, sim, o castigo imposto pelo Criador -, com o que este realmente é: não um interposto à felicidade do homem, mas, antes, sua própria causa.

Na Encíclica Laborem exercens , do ano de 1981, São João Paulo II retoma essa importante diferenciação, mostrando como a dificuldade do trabalho torna-se, para a pessoa humana, um bem para a conquista da virtude moral da laboriosidade, que permite ao homem não só transformar o mundo exterior, participando da tarefa criadora de Deus, mas também transformar o mundo interior, uma vez que faz o homem realizar-se tornando-o mais humano. O trabalho é, segundo o ensinamento pontifício, uma escola de virtudes, em que o homem pode e deve se aperfeiçoar para alcançar seu fim próprio. 

De certo, há no trabalho humano uma tal dignidade, de modo que não se pode reduzi-lo somente ao campo material. Os que buscam tal redução acabam por vê-lo como simples mercadoria, pelo qual troca-se a força do trabalho por recursos financeiros, restringindo, portanto, a dignidade do trabalho somente ao seu viés mercantil: quanto mais se produz, quanto mais ele vale financeiramente, tanto maior sua dignidade.

Pelo contrário, a Doutrina Social da Igreja concebe a dignidade do trabalho para além daquilo que ele produz a fim de focar em quem o produz: a pessoa humana. Nessa perspectiva, importa menos o valor mercantil do trabalho ou sua proeminência social. Importa, sim, que esse mesmo trabalho, do mais humilde ao mais esplendoroso, seja feito pela pessoa e para a pessoa. Importa que, na ação do labor, o homem consiga desenvolver suas capacidades, não só técnicas, mas morais, e que consiga servir ao Criador, participando de sua própria ação criadora. Que consiga, ao fim, olhar para o trabalho de suas mãos e dizer, como Deus disse, “isto é bom”. 

E é aí que reside a dignidade do trabalho: não é ele somente um meio de subsistir, de prosperar ou de construir a cidade do homem, buscando um mero progresso material, mas meio de santidade pessoal e de serviço caritativo ao próximo, próprio daqueles que buscam imitar a Cristo - Ele mesmo, que trabalhou na oficina de José -, daqueles que buscam, na cidade dos homens, alcançar a Cidade de Deus! 

Preparando-nos para celebrar o Dia Internacional dos Trabalhadores e consagrando-o ao patrocínio de São José Operário, faz-se mister tomar tal consciência acerca do trabalho e de sua dignidade transcendente.
 

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