Comportamento

Por que tanta violência?

Não podemos. Não devemos. Não queremos nos acostumar a ler o noticiário de violência que nos acompanha no cotidiano. Desnecessário relatar a sequência de episódios que ocupavam os presídios, foram para as ruas e agora alcançam as salas de aula. É certo que se pense cada vez mais em melhorar as condições de segurança, com uma vigilância policial mais forte, com meios tecnológicos mais eficientes e leis mais rígidas. Porém, olhando o cenário que ultrapassa os limites do País e as medidas já observadas em muitos locais, pergunta-se: essas são “todas” ou as principais medidas a serem tomadas?

Com certeza, existe uma causa básica que vem sendo esquecida. Mais do que esquecida, está sendo desprezada. Além de desprezada, está sendo atacada por todos aqueles que parecem não desejar, de fato, uma solução mais sólida e duradoura do problema. Atacada por muitos que, no intuito de fazer valer “novos valores” da sociedade moderna, buscam argumentações por outras vias que ocultam a principal resposta a esta violência que choca pelo assassinato de vítimas inocentes, mas que ocultam outras tantas violências “toleráveis”, em benefício dos “novos valores”.

A resposta de fundo a essa questão não é e não pode ser outra do que falar da necessidade urgente de se revalorizar a família. É isso mesmo, caro leitor: é preciso escrever, insistir e perseverar, com teimosia e esperança, até que os ouvidos se abram e os olhos enxerguem que tudo o que estamos assistindo é decorrência de uma campanha de aniquilamento da família. Os que provocaram essa catástrofe, sem arrependimentos, procuram por uma resposta inexistente, para que não tenham que reconhecer o erro que cometeram e cometem ao promover a destruição da família. E não me alongo em definir de que conceito de família está se falando, visto que é conhecido por aqueles que acompanham esta coluna.

É impensável, aos sexagenários do nosso tempo, como este que escreve, imaginar que em menos de 30 anos passamos a conviver com a violência a que assistimos hoje, cotidianamente, com lágrimas e dor, mas sem surpresas, infelizmente. Não há mais tempo a perder. Um grito de esperança precisa ecoar em todos os lares para que se comece a tomar atitudes concretas contra a violência. Pais e mães, avôs e avós, tios, parentes e amigos: este “exército” precisa voltar a olhar o tesouro da Educação Infantil. É a partir da Educação Infantil que faremos uma revolução contra a violência. É a partir de pais responsáveis que deixaremos de ter filhos órfãos de pais vivos. É a partir de avós que educaram seus filhos que poderemos ter netos que convivam com o “mimo carinhoso” e afetuoso dos avós. É com a colaboração do tempo de tios, parentes e amigos, que poderemos reencontrar uma sociedade solidária que não abandona suas crianças, mas oferece acolhimento em vez de pedofilia.

Às autoridades civis e militares cabe cumprir o seu papel nesta transição dramática que se apresenta. Oferecer condições que favoreçam o desenvolvimento de famílias bem constituídas para o desempenho de suas atribuições, com dignidade, é também responsabilidade das autoridades governamentais. Contudo, não se pode omitir a responsabilidade de cada família em construir a paz no interior de seus lares. Não mudaremos o cenário só combatendo a violência exterior, mas fortalecendo a paz interior. A preparação do nascimento de futuras famílias “saudáveis” tem início no berço dos filhos. Para tanto, é preciso que ocorra uma relação de conhecimento entre os casais que se comprometem com a união conjugal. Essa união deve estar incentivada por uma atitude de esperança em relação a este chamado vocacional do Matrimônio. Uma esperança que protege e valoriza a fidelidade, imprescindível para esse sucesso. Um sucesso que não será alcançado sem o trabalho incansável daqueles que estão convictos na sua decisão. E, dessa maneira, construirão uma relação aberta à transmissão da vida, concretizada na maravilha de uma nova pessoa que renovará o ciclo.

Utopia? Não! Esperança! A História é mestra e educadora. Nada se sustentou, em definitivo, pelas armas. Nenhum império se expandiu, sem limites, pela força. Não deixaremos de conviver com a tristeza da violência, mas, certamente, por esse caminho, com muito trabalho, nos distanciaremos dos fatos recorrentes e alarmantes do tempo presente, olhando para o futuro com mais alegria.

Dr. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: vreginato@uol.com.br
 

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