Espiritualidade

O trabalho sem Deus é inútil

O trabalho é uma atividade tipicamente humana, que estabelece uma distinção entre o homem e os demais seres vivos. Embora os animais tenham a capacidade de construir seus ninhos ou tocas, possam usar algumas ferramentas naturais, como pedras para quebrar nozes e castanhas, e alguns ainda tenham capacidade de construir armadilhas para capturar presas, como é o caso das aranhas, todo esse trabalho é instintivo. O ser humano é capaz de criar, aprender e transformar a realidade à sua volta, e dessa forma pode suprir as suas necessidades pelo trabalho criativo. 

O ser humano trabalha para construir e realizar suas ideias. Nesse sentido, o trabalho não é apenas esforço, mas também realização da pessoa. O trabalho gera riquezas e acrescenta valor às coisas, e isso leva também ao desenvolvimento do homem e da sociedade. De outra parte, o homem imprime o seu jeito, a sua cultura nas coisas que faz. Por isso, não basta construir um vaso de barro ou cadeira de madeira, é preciso que essas coisas criadas carreguem a marca do seu criador. Mas nem sempre o homem aproveita as riquezas do próprio trabalho: a ferida do pecado atingiu e continua a atingir o ser humano. Basta pensar no grande número de desempregados e daqueles que recebem baixos salários. 

O trabalho humano sem a ação redentora de Deus é inútil, assim rezamos no Salmo 126: “É inútil levantar de madrugada ou à noite retardar vosso repouso para ganhar o pão sofrido do trabalho, que a seus amados Deus concede enquanto dormem.” O trabalho pelo trabalho é apenas uma atividade, um esforço que carrega o peso do sofrimento, mas quando o trabalho está envolvido pela espiritualidade cristã, ganha um novo sentido. Jesus, o Filho de Deus e o filho do carpinteiro José, também trabalhou, e também somos chamados a trabalhar sempre.

O trabalho sem Deus, assim como qualquer outra atividade humana, é inútil, mas o esforço humano encontra sentido quando recebe a força da graça divina. O trabalho também precisa promover a justiça e segurança social de quem trabalha e da sua família. A Sagrada Família viveu os dramas de tantos trabalhadores de hoje, a falta de acolhimento, a necessidade da migração e, certamente, muitas outras privações de recursos. Que sentimentos e atitudes tudo isso desperta em nós? Como olhamos para a condição dos desempregados e suas famílias hoje? Somos mais solidários e justos na distribuição das riquezas geradas pelo trabalho?

A espiritualidade cristã abraça toda a realidade humana e todas as suas atividades, desde as mais simples até aquelas mais complexas. De forma participativa, o homem coopera com a ação criativa de Deus. O trabalho humano, junto com as novas descobertas e tecnologias, reflete a beleza do amor de Deus, à medida que promove a vida. Com Deus, o trabalho humano e as riquezas geradas pelo homem devem promover uma autêntica justiça social. A felicidade da família dos filhos de Deus se realiza na partilha e na comunhão dos dons recebidos do próprio Deus.

 

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo Auxiliar sa Arquidiocese na Região Brasilândia
e Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação

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