Comportamento

O que a tragédia em Suzano evidencia?

Mais uma vez, neste início de 2019, fomos surpreendidos por uma tragédia. Dessa vez, algo planejado, arquitetado, inspirado em tragédias semelhantes às acontecidas em outros países. Somos tomados por um turbilhão de sentimentos e pensamentos: surpresa, tristeza, impotência, solidariedade para com as vítimas, o desejo de ajudá-las de algum modo, o medo... Ocupamos, em pouco tempo, diferentes “lugares” de análise e, via de regra, passamos pelo papel de juízes e, enfim, para o de vítimas, afinal, estamos todos vulneráveis. Bem, o lugar de juiz certamente não é o nosso. Como julgar, numa situação tão absurda e desequilibrada como essa? Que conhecimento temos das pessoas envolvidas, dos jovens que chegaram a esse triste fim em suas breves vidas e da história de cada um? Não temos nada consistente o suficiente para emitir julgamentos. O que podemos e devemos fazer diante de uma tragédia como essa, além de nos unir em oração por aqueles diretamente atingidos, é aprender com ela.

Para aprender o que ela nos evidencia, convido cada um a se deslocar desse paradoxalmente amedrontador e confortável lugar de vítima e olhar corajosamente para essa realidade.

Estamos falhando na busca de uma felicidade irreal e contínua. Estamos destruindo as famílias e abdicando da formação dos nossos filhos nas virtudes necessárias para serem pessoas equilibradas e sensatas.

Estamos falhando ao corrermos para alcançar a fama, o sucesso profissional, uma condição econômica confortável, proporcionar viagens gostosas aos pequenos! Deixamos de lado o mais importante: promover a saúde afetiva e emocional dos filhos. Conviver é muito mais do que dar!

Estamos falhando ao nos deixar levar pela mentalidade hedonista, consumista, de terceirização de tudo, inclusive daquilo que é missão intrínseca ao papel de pai e mãe: educar e dar suporte ao desenvolvimento das pessoas que colocamos no mundo. Trabalho árduo, difícil, mas, ao mesmo tempo, riquíssimo e maravilhoso; nenhum curso no mundo nos promoverá tanto crescimento e aprendizagem como essa vivência. Não troquemos o essencial pelo supérfluo.

Estamos falhando por não estar com a consciência tranquila quanto ao cumprimento de nossa missão. Tememos colocar limites necessários aos pequenos, tememos frustrá-los e os tornamos pessoas “fracas, frágeis” e incapazes de suportar as adversidades que a vida vai certamente apresentar. Não sabem ouvir um “não” sem desabar. Então, para evitar “desabamentos”, dizemos “sins” perigosos, que têm efeito devastador na formação deles.

Estamos falhando pois nos tornamos pais superprotetores, superamigos ou, melhor, “amiguinhos” dos filhos. Doemo-nos por eles sem tomar consciência de que somos adultos, maduros e, portanto, capazes de suportar o que eles não têm condições ainda, e de dar o suporte que precisam. Hoje, tudo virou bullying. Tudo traumatiza, tudo fere. Na minha infância, quando eu chegava com uma queixa do tipo: “Mãe, fulano me chamou de burra”, minha sábia mãe me dizia: “Você é burra?” Rapidamente eu respondia: “Não”. E ela: “Então, não ligue para o que os outros falam, entra por um ouvido e sai pelo outro”. Pronto, problema resolvido – palavra de mãe cura, fortalece, engrandece... Hoje, porém, as mães são as primeiras que se fragilizam com o que é dito aos filhos. Cuidado! Vamos avaliar bem os acontecimentos – poucas são as verdadeiras situações de bullying. E pasmem: nossos filhos podem ser fortes, sobreviver e se defender desses pequenos “ataques” muito próprios do universo infantojuvenil.

Estamos falhando ao nos afastar de Deus e do sentido sobrenatural de nossa existência.

Sim, somos todos um pouco responsáveis pelos atos de violência que estamos vivendo. É preciso olhar para essa realidade com coragem de mudar, coragem de decidir pelo necessário e não pelo fácil, pelo essencial e pelo supérfluo. Pelo que realmente nos fará felizes: cuidar com responsabilidade do nosso maior e mais precioso tesouro na terra – nossos filhos, nossas famílias!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o blog educandonacao.com.br
 

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