Espiritualidade

O novo normal

O calendário litúrgico é organizado para proporcionar uma vida espiritual de acordo com a Palavra de Deus. A cada tempo é previsto algo específico que ajuda a aprofundar o encontro pessoal com Cristo. Dessa forma, celebrando a fé, o discípulo vai caminhando e sendo formado. Há dois tempos que destacam, em particular, a penitência: a Quaresma e o Advento. Esses dois tempos nos exortam a práticas que levam à conversão. Entre elas, está a confissão sacramental para alcançar o perdão dos pecados.
Estamos próximos do tempo quaresmal, que começa depois da Quarta-feira de Cinzas e termina com o início do Tríduo Pascal. Em todas as nossas comunidades, é costume reunir os fiéis para celebrar a confissão sacramental, com a disponibilidade de vários sacerdotes para facilitar o atendimento do povo. Nessas ocasiões, depois de ouvida a Palavra de Deus, as pessoas são exortadas a reconhecer os pecados para então confessá-los, receber o perdão e mudar de atitudes. Mas o que é pecado?
A raiz de todos os pecados é a desobediência à vontade de Deus, uma desordem que chega a todas as coisas criadas. Quanto mais o homem se afasta da vontade de Deus, tanto mais longe chega a desordem e a degradação do próprio homem. Existe, porém, um problema que vai crescendo de maneira silenciosa e muito perigosa, que é a perda da consciência do pecado. Alguns fatores contribuem para isso. Algumas vezes é a influência de mudanças culturais, outras vezes é o desconhecimento da doutrina católica.
Essa perda da consciência do pecado e de suas consequências levam à suposição de que houve uma mudança, e, portanto, o que era pecado antes, não é mais. Esse engano coloca em risco a vida espiritual e a própria salvação, porque apresenta mentiras e pecados como um “novo normal”. Seguindo essa ideia equivocada, aquilo que antes era moralmente errado, agora está sujeito à livre interpretação de cada pessoa, que exerce a sua liberdade vivendo segundo as próprias regras, e tudo é considerado normal. Como a fé cristã responde a isso?
A fé cristã não é um conjunto de regras e doutrinas; ela é fundamentalmente um encontro pessoal com o Senhor Jesus Cristo. No entanto, para que esse encontro seja autêntico, ele precisa ter uma incidência na vida moral dos fiéis. Isso quer dizer que a fé cristã supõe um comportamento moral orientado pela Palavra de Deus. A vida espiritual dos discípulos não pode estar sujeita nem à livre interpretação nem às mudanças culturais. 
O “novo normal” é um engano, o pecado é e sempre será uma desordem em relação ao projeto de Deus. Jesus afirma que não veio para mudar a Lei, mas para levá-la à plenitude, que é a obediência a Deus. Ter consciência dos próprios pecados, confessá-los e mudar de vida é o caminho de santidade e perfeição proposto para os discípulos de Jesus. Deus nos concede sua misericórdia ao perdoar os pecados. Cabe a cada um de nós buscá-la, quantas vezes for necessário.

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