Liturgia e Vida

O justo deve ser humano

A parábola do joio e do trigo abre nossos olhos para a realidade da existência humana. O trigo é a planta boa da qual sairá a farinha e depois o pão. O joio é a planta ruim, parecida com o trigo, da qual, porém, não sairá nada aproveitável. As duas sementes foram semeadas no mesmo terreno e crescem juntas. Tentar arrancar o joio pode prejudicar o trigo. É preciso ter paciência e esperar que estejam maduros para a colheita, quando passaremos do tempo da espera para o que será definitivo. Os dois serão separados. Então se realizará a profecia de Isaias (60,21): “O teu povo, todo ele constituído de justos, possuirá a terra para sempre”. No entanto, diz o Livro da Sabedoria que lemos na primeira leitura: “O justo deve ser humano”.

            Os empregados manifestam impaciência, querendo arrancar logo o joio. Desejam formar um povo só de justos, uma Igreja sem pecadores. Jesus, porém, mostra que a ambiguidade pessoal se projeta na ambiguidade da história humana. É preciso saber conviver com o diferente, mesmo se ele for mau. A justiça não se limita a castigar o culpado, mas busca transformar o pecador, convertê-lo e salvá-lo. Aquele que tem força e poder mostra a sua força quando é capaz de dominá-la. Seu autodomínio torna-o indulgente. Pode punir, mas usa de misericórdia.

Dizia o Papa Bento XVI, meditando sobre a oração de Abraão: “Não se pode tratar os inocentes como os culpados, isso seria injusto; é necessário, no entanto, tratar os culpados como os inocentes, realizando um ato de justiça "superior", oferecendo-lhes uma possibilidade de salvação, porque, se os malfeitores aceitam o perdão de Deus e confessam sua culpa, deixando-se salvar, não continuarão fazendo o mal; eles se converterão também em justos, sem necessitar jamais ser castigados” (18.05.2011).

O Espírito virá em socorro da nossa fraqueza. Movidos pelo Espírito, aprendemos a conviver e a tomar decisões acertadas. Vivemos no tempo da coexistência. O julgamento final fará a separação definitiva. Não queira, de forma impaciente, separar uns dos outros. Queira sim, desde já, unir os corações para que permaneçam juntos na hora da separação definitiva.

            O fermento faz a massa crescer. A pequena semente da mostarda, torna-se um arbusto capaz de abrigar as aves do céu. Dê tempo ao tempo e torne o tempo produtivo. O tempo não poupa o que se faz em ele. Mostre domínio sobre tudo e sobre todos sendo indulgente. Faça o milagre de mudar o joio em trigo enquanto houver tempo. Então, o justo, que deve ser humano, brilhará como sol no Reino do Pai.

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