No cabo de guerra da Previdência, nós somos a corda
As manifestações que ocorreram em várias capitais brasileiras em 15 de março foram suficientes para mandar a “mensagem” para governo e parlamentares: as reformas previdenciária e trabalhista terão um custo político.
Em São Paulo, a “greve geral” não foi tão geral assim. Baseou-se principalmente em categorias que, ao reduzir suas atividades, impactam toda a população, como motoristas de ônibus e metroviários.
A maioria dos brasileiros olha com desconfiança para propostas de ajustes da Previdência por parte de quem ganha aposentadorias elevadas; suspeita, também, de governos endividados por gastos cujo retorno social foi pouco visto e nos quais a corrupção se torna cada dia mais conhecida.
É o escândalo de sempre: como privar a população de uma vida mais digna em nome do pagamento de dívidas públicas contraídas por razões que a própria população não entende (e que muitas vezes nascem objetivamente de erros, incompetência e má fé)?
Mas é evidente que existe um problema objetivo de sustentação do Estado e que alguma coisa deve ser feita. Se o número de aposentados aumenta sempre e a economia não acompanha esse crescimento, o custo dos inativos vai recair sobre os que estão em atividade – e essa conta terá que ser bem equacionada para não gerar novas injustiças ou quebrar o sistema, deixando a todos sem o mínimo.
Apegados a uma linha de argumentação ou a outra, governo e oposição vão travando seu cabo de guerra, cada lado preocupado em derrotar o oponente, sem perceber que o povo é a corda. E, como diz o ditado popular, a corda sempre estoura do lado mais fraco...
Nós também dificultamos a busca de soluções adequadas para os problemas que o Brasil enfrenta, objetivamente difíceis e complexos, quando nos engajamos, geralmente com a melhor das intenções, em debates raivosos e correntes que pro- curam – nas redes sociais – ridicularizar posições diferentes da nossa.
A “corda” – isso é, a sociedade – não pode se deixar arrastar de forma irracional por um dos lados, seja ele qual for, como se a reforma da Previdência fosse uma peça fechada, que se aprova ou se reprova em bloco.
O Papa Francisco sempre insiste na necessidade do dialogar para a superação dos problemas sociais. Esse diálogo pressupõe o esforço sincero de entender os argumentos e as necessidades do outro lado.
As mudanças que realmente forem necessárias para o bem-comum, particularmente dos mais pobres, devem acontecer. Aquelas que servirem apenas para garantir ou aumentar o lucro de poucos não devem ser implementadas.
A nós cabe discernir, procurando entender os vários aspectos da questão, e fazer pressão para que os políticos decidam em função do que é melhor para a população.