Opinião

Liturgia da Igreja e a exuberante natureza

 Arte: Sergio Ricciuto Conte

A belíssima mistagogia – iniciação nos mistérios – da nossa Igreja é alicerçada sobre as Verdades dos Mistérios da Encarnação e da Ressurreição. Do nascer ao acaso da vida, somos presenteados pela narrativa do nascimento do Verbo de Deus e Sua gloriosa Páscoa, que nos remete à eternidade.

A Campanha da Fraternidade deste ano nos lembra que devemos “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). A criação é obra maravilhosa do Altíssimo e Onipotente Deus. “Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos por vossa infinita bondade. Criastes o universo com sabedoria e o entre- gastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor” (Oração da CF 2017). A Quaresma também nos remete ao itinerário dos últimos momentos na Terra de Cristo Jesus e marca profundamente o caminho da sua Paixão, Morte e Ressurreição. Além disso, neste ano, recorda-nos, Igreja do Brasil, que devemos cuidar e amar a belíssima obra do Criador.

As pessoas que habitam no Hemisfério Norte podem meditar profusa- mente o período quaresmal. Elas vivem o momento litúrgico entre as estações inverno/primavera. A Páscoa Cristã nos indica a passagem entre o rigoroso inverno, sem vida, para a entrada da es- tação das flores e o sentido da vida que nasce resplandecente.

Vivendo no Hemisfério Sul, entre as Estações verão/outono, somos agraciados pela natureza, quando as quaresmeiras se apresentam radiantes, combinando com o paramento roxo da Igreja. Somos convidados ao jejum, à oração e à esmola, como nos recorda a Palavra de Deus na celebração da Quarta-feira de Cinzas. Saindo das paróquias e cape- las, somos levados também, pela natureza, a refletir sobre o período litúrgico atual. Apreciando-a, especialmente a Mata Atlântica, que cobre boa parte do Estado de São Paulo, como homens e mulheres crentes ou não, podemos perceber Deus que não deixa de nos falar na explosão das cores, cercando-nos de carinho na majestosa criação. Como cristãos, é possível ligar a ação litúrgica da Igreja com o colorido das árvores, especialmente quaresmeiras e manacás. Quantos que não professam a fé em Cristo Jesus também podem observar algo diferente nas cores emanadas das árvores, mormente na tonalidade roxa, que enfeita nossas praças, parques e avenidas.

A celebração da Quarta-feira de Cinzas lembrou-nos da nossa efemeridade. Por isso, recordou-nos: “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Lemos no Livro do Gênesis que somos feitos do barro e necessitamos do sopro divino para existir: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,7). O barro é apenas barro. Deus criou-nos do pó da terra com o sopro divino. Somos seres viventes em Deus.

O oleiro trabalha o barro, prepara suas obras de arte que permanecem inanimadas, enquanto Deus infla com o sopro divino por nossas narinas e ganhamos a possibilidade de viver consciente e plenamente.

Deus estabeleceu a relação de amor conosco. Soprou em nossas narinas o alento da vida para que respirássemos e cuidássemos uns dos outros e de toda a casa comum. Em tempos como o nosso, como cristãos, somos chamados a viver e celebrar o tempo litúrgico da Quaresma, que nos prepara para a belíssima celebração da Páscoa. Tempo favorável, também, para lembrarmos e cuidarmos de toda a obra da criação. Enquanto cuidamos da Terra, honramos a Deus, respeitamos os outros e passamos a amar a nós mesmos, porque valorizamos e somos valorizados.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

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