Encontro com o Pastor

Líbano: um sinal para o mundo

A Universidade Católica Espírito Santo, em Kaslik, próxima a Beirute, mantida pela Ordem Maronita Libanesa, honrou-me com o título de doutor honoris causa na sexta-feira, 8. A Universidade, com dez faculdades, mantém numerosos cursos, frequentados por mais de 8 mil estudantes do Líbano e de outros países. A solenidade proporcionou-me diversos contatos e visitas, cujas impressões desejo compartilhar.

O Líbano é um país admirável, herdeiro da antiga Fenícia, famosa por seus navegadores, comerciantes e fundadores de colônias e cidades em toda a bacia do Mediterrâneo, ainda em tempos pré-cristãos. Há quem afirme que eles teriam chegado até mesmo às costas da América e do Brasil, mas essa hipótese precisa de confirmação. No litoral do Líbano, encontram-se ainda as cidades de Tiro, Sidon, Biblos e Trípoli, já conhecidas em tempos bíblicos, quando também se fazem referências ao Líbano, suas altas montanhas e seus cedros gigantes. A Fenícia, como os demais países da bacia oriental do Mediterrâneo, foi objeto de constante dominação e pilhagem ao longo da história: dos persas, gregos, romanos, árabes, turcos e outros.

O Líbano moderno existe desde 1920, quando foi libertado do secular domínio do Império Turco-Otomano. Passou, então, mais algum tempo na dependência da França e, na década de 1940, conquistou a independência. Porém, a paz, naquelas terras, é sempre frágil, mantida de sobressaltos em sobressaltos. No sul do Líbano vivem numerosos refugiados palestinos, que não aceitaram a criação do Estado de Israel. De 1948 até hoje, estão num imenso campo para refugiados em território libanês. A leste estão a Síria e o Iraque, ainda não recuperados de suas longas guerras civis, sobretudo a Síria. Uma “força naval de paz” formada por seis países controla o tráfego marítimo e aéreo no Mediterrâneo oriental, para evitar o comércio de armas. Uma fragata brasileira com 200 homens tem o comando dessa força de paz.

Os libaneses residentes são menos de 4 milhões. Os refugiados, sobretudo sírios e iraquianos, estão em todo o território do Líbano e equivalem a mais de um terço da população. O território do Líbano é pequeno e, mesmo assim, o país não fecha as fronteiras e acolhe os refugiados. A economia do Líbano também passa por problemas, mas todos conseguem viver, sem que haja miséria visível e grave. Os libaneses emigrados para muitos outros países, como o Brasil, ajudam o País com seus recursos.

Política e religiosamente, o Líbano é um caso raro, senão único. Cristãos e muçulmanos convivem pacificamente e colaboram politicamente. Os principais grupos de cristãos pertencem aos ritos católicos maronita e melquita; os latinos são relativamente poucos. Os cristãos não católicos são sobretudo ortodoxos gregos, antioquenos e siríaco-ortodoxos. Os protestantes são poucos. Os muçulmanos são, sobretudo, sunitas e xiitas. O governo, segundo a constituição do País, é distribuído de maneira equilibrada entre cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e xiitas. É uma combinação de fatores religiosos, culturais e políticos que é aceita e funciona.

São dois os santos libaneses mais amados pelo povo: São Maroun e São Charbel. São Maroun foi um monge, a quem se atribui a organização do rito “maronita” e a defesa da fé do povo em tempos difíceis. Foi também um místico de grande expressão, que inspira a piedade popular libanesa. O rito maronita é seguido pela maioria dos católicos libaneses e possui uma tradição litúrgica muito antiga e rica. O túmulo de São Maroun, num santuário situado nas montanhas, é constantemente visitado por numerosos peregrinos. São Charbel também foi monge, místico e taumaturgo e é muito amado pelos libaneses.

No sábado, dia 9 de fevereiro, a festa anual de São Maroun foi comemorada como feriado nacional. A missa solene, presidida pelo Arcebispo Maronita de Beirute, contou com a presença das autoridades de todos os níveis do governo, pertencentes aos diversos credos, além dos membros do corpo diplomático. Recentemente, o Papa Francisco disse aos bispos libaneses, em visita a Roma, que o Líbano é um sinal para o mundo, um sinal para a Igreja. Seu exemplo de convivência pacífica, de colaboração e de solidariedade deveria ser seguido por todos os países!

 

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